Comunidade Cristã: Família de Deus

    A Carta aos Romanos é um texto que São Paulo escreveu a uma comunidade que ele não fundou, mas ele conhecia pessoalmente muitos membros dessa comunidade, bem como os problemas que os inquietavam. Os membros dessa comunidade provinham de raças e culturas diferentes e viviam em ambiente hostil e pesado. Um dos motivos pelos quais São Paulo escreveu aos romanos é justamente animar e fortalecer o espírito cristão dentro desse contexto difícil, marcado pelo fatalismo e exploração das pessoas, por deuses gananciosos e opressores, que dominavam o mundo pelo medo e violência, segregando e dividindo as pessoas entre dominadores e dominados.
    O capítulo 8 da carta aos romanos pode ser resumido nesta expressão: “a vida em Espírito”. Neste capítulo, São Paulo apresenta os dois princípios básicos que orientam a vida do cristão: o Espírito que comunica vida e a filiação divina do cristão. Os versículos restantes do mesmo capítulo são um hino a Deus que realiza seu projeto na história.
    Os versículos da liturgia deste domingo da Santíssima Trindade falam, portanto, da filiação divina do cristão. Numa cidade cheia de contrastes (sociais, políticos etc.) como Roma, os cristãos são convidados à novidade de formarem família de Deus, não em base ao parentesco do sangue, mas na adesão ao Espírito de Deus. É Ele o princípio da vida nova, capaz de unir a todos na igualdade e fraternidade. São Paulo, para salientar a proximidade e o amor da Trindade para com as pessoas, não encontrou definição mais forte do que esta: somos a família de Deus. Ele é nosso Pai comum, fazendo com que a fraternidade alcance a todos, superando desigualdades sociais e medo. Nossa relação com Ele exprime o que há de mais íntimo e confiante. Podemos, pelo Espírito, chamá-lo “Abbá, meu Pai”, exatamente como Jesus o chamou.
    Na condição de filhos, os cristãos recebem a herança do Pai, que nada reserva para si. Senhor e dono absoluto de todas as coisas, tudo dá a seus filhos. A síntese da herança é o Reino que Deus confia aos cristãos. Contudo, essa herança é conquistada pela força do testemunho, à semelhança de Jesus.
    Ao retomarmos o tempo comum, das chamadas coisas cotidianas, devemos ter presente o que tem pontificado o sucessor de Pedro. O Papa Francisco nos ensinou na entrevista a uma paróquia de periferia: “A mim ouvir as pessoas nunca fez mal. Todas as vezes que as escutei sempre foi bom. Quando não as ouvi foi mau. Porque mesmo se não estás de acordo com elas, sempre – sempre! – acrescentam-te algo ou apresentam-te uma situação que te impele a reconsiderar as tuas posições. E isto enriquece-te. É o modo de nos comportarmos com quem não concordamos. Ora, se não concordo com alguém, deixo de o cumprimentar, fecho-lhe a porta na cara, não o deixo falar e não lhe pergunto a razão do desacordo, evidentemente empobreço-me sozinho. Dialogando, ouvindo, enriquece-me”. Disse tudo o Papa vamos ouvir a todos, principalmente os que nos querem mal!
    Devemos descobrir na caminhada da comunidade o Deus único que suscita liberdade e vida para seu povo e apontar os ídolos que oprimem. Só assim poderemos experimentar hoje o único Deus libertador.