Blasfêmia contra o Espírito Santo

    Transparente e incisiva a declaração de Cristo: “Quem blasfemar contra o Espírito Santo jamais alcançará perdão, mas será réu de pecado eterno” (Mc 3,28). Cumpre então saber exatamente em que consiste este pecado contra o Espírito Santo. Segundo notáveis teólogos, esta falta, que não conhece a anistia divina, se trata da negação voluntária da misericórdia de Deus. Este é providência, é misericordioso, bondade infinita. No dizer de São João “Deus é amor”. (1 Jo 4,8). Assim sendo Ele é clemência, comiseração e perdoa sempre. Na medida em que o ser racional se lança nas mãos desta compaixão sem limites, arrependido de suas faltas, abre as portas ao perdão, à remissão de suas culpas. O Todo-Poderoso Senhor pode livrar o homem do domínio do demônio e das consequências de suas invectivas que levam ao mal. Entretanto aquele que cerra seu coração à ternura divina, fechando os olhos à evidência de que Deus o ama e recusa seu indulto, não quer ser perdoado, é lógico que esta a pessoa se torna réu de um pecado sem absolvição. É aquele que se tranca, se enclausura em seu pecado. Eis aí a blasfêmia contra o Espírito Santo. Trata-se da negação do amor de Deus numa afirmação pessoal de que Ele é menor que o poder de satanás, que leva à desobediência ao Ser Supremo. O domínio do mal se torna então mais forte do que a força do bem. Quem assim procede não pode ser perdoado porque recusa abertamente o perdão de Deus, usando erroneamente da prerrogativa da liberdade humana. Deus jamais se impõe, Ele se propõe. Ele quer a felicidade do ser humano e sua salvação eterna, mas respeita o livre arbítrio, a faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação. Deus não pode obrigar a ninguém a amá-lo O amor só pode ser livre, um elã espontâneo, jubiloso que flui lá de dentro de cada um. Assim sendo, o pecado contra o Espírito Santo é o pecado contra a evidência do amor de Deus, uma afronta a sua desvelo sem limites. Triste a situação daquele que recusa abertamente ser perdoado pelo seu Senhor. O homem coloca uma barreira instransponível para a ação divina. Recusa à luz de uma dileção eterna do Criador que não pode perdoar a força. Ele não introduz ninguém no seu Reino a contra gosto de quem lá não quer entrar. Este pecado é contra o Espírito Santo porque Ele é o amor eterno, consubstancial entre o Pai e o Filho. Ele é a luz interior que faz o ser racional entrever o mistério da Trindade Santa. Desprezar voluntariamente esta luz interior é, de fato, uma blasfêmia que não pode ser perdoada. É o cúmulo de um desespero que não tem justificativa alguma. Todas estas explicações conduzem, porém a um apelo a que cada um mergulhe sua vida no oceano imenso do amor de Deus. É preciso escutar sempre o Espírito Santo. A desesperança, porém, bloqueia a percepção deste apelo. Jamais blasfemar contra o amor divino! É preciso, entretanto, controlar tudo que impede um maior diálogo com Deus, Muitos dão mais tempo à internet, às redes da televisão e a outros meios de comunicação do que a seu Senhor que bate às portas do coração para ajudar, para consolar.  É preciso fazer a experiência do perdão de Deus e isto torna o cristão mais forte diante da passividade e dos temores. Deus oferece coragem perante as dificuldades e firma a fidelidade à verdade. É necessário pedir ao Espírito Santo perseverança no seu amor, abrindo as portas do próprio coração a suas luzes. Estas mostrarão a imensidade da misericórdia divina. Então se compreenderá que quem faz a vontade de Deus e nunca blasfema contra o Espírito Santo estará salvo e nunca será réu de pecado eterno. Em síntese, para que não haja o perigo do pecado contra o Espírito Santo, blasfêmia intolerável, é preciso uma luta contínua, perseverante contra o desânimo. Esta luta perdura a vida toda. A salvação eterna começa com esforços sustentados pela graça e é, deste modo, uma operação divina. O cristão deve ser corajoso e fiel nunca perdendo a esperança. Coloca toda sua confiança em Deus, sabedor de que o reino do céu só se obtém com a violência contras as insídias satânicas que levam à revolta contra o Espírito Santo. Assim, disto resulta fatalmente a total adesão a este Deus numa identificação completa a Cristo como preconiza o próprio Mestre Divino, pois quem assim procede é para Ele “irmão, irmã e mãe” O exemplo foi dado por Maria sempre submissa aos desígnios de Deus. Imitar o “sim” da Mãe de Jesus é nunca trilhar os caminhos infelizes da desesperação. Além disto, é preciso em tudo imitar a Jesus que afirmou: “O meu alimento é fazer a vontade de meu Pai que está nos céus” (Jo 4,34).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.