O templo de Ártemis era uma das sete maravilhas do mundo antigo, que tanto impressionou o autor da famosa lista, Antípatro de Sídon: “Pousei meus olhos sobre a muralha da doce Babilônia, que é uma calçada para carruagens, e a estátua de Zeus do Alfeu, e os jardins suspensos, e o Colosso de Hélios, e a enorme obra das altas Pirâmides, e a vasta tumba de Mausolo; mas quando eu vi a casa de Ártemis, ali entre as nuvens, aquelas outras maravilhas perderam seu brilho, e eu disse: ‘além do Olimpo, o Sol nunca viu nada tão grandioso”.
Além dos seus propósitos religiosos, a construção era um ímã que atraía turistas, comerciantes e até reis que faziam homenagens à deusa oferecendo diversas jóias e outros tesouros. Servia também como uma espécie de santuário a foragidos, porque ninguém se atreveria a fazer algo que pudesse profanar o templo.
Mas na noite de 21 de julho de 356 a.C. ocorreu uma catástrofe. Um homem chamado Heróstrato queimou deliberadamente o templo que havia levado um século para ser construído. Foi uma tragédia. Em uma noite, tudo o que existia de madeira— o teto, as escadas, as portas, os móveis e a adorada imagem de Ártemis— ardeu nas chamas e apareceu reduzido a cinzas na manhã seguinte.
Tudo o que restou do templo que havia sido o mais magnífico da Grécia foram colunas esfumaçadas, enegrecidas e arruinadas. Heróstrato foi rapidamente preso e confessou que havia incendiado o santuário para que, “por meio da destruição dessa construção tão bela, seu nome fosse difundido por todo o mundo”, segundo relato de Valério Máximo, autor da coleção Feitos e ditos memoráveis. Por causa desse ato infame, Heróstrato foi torturado e executado.
Heróstrato decidiu incendiar o tempo de Ártemis de Éfeso com o único intuito de ganhar fama com isso. Heróstrato alcançou seu objetivo, conseguiu a fama garantida, tendo o nome citado em obras de literatura e história. No poema onírico inacabado “A casa da fama”, de Geoffrey Chaucer, do século 14, Heróstrato aparece apresentando seu caso à musa Calíope, que escuta suas súplicas no tribunal da fama.
E Heróstrato não segue vivo apenas no mundo da mitologia, mas também no campo da ciência. É abordado cientificamente pela psicanálise, psicologia e psiquiatria. O “Complexo de Heróstrato” é um termo utilizado na psiquiatria moderna para pessoas que sofrem de “sentimento de inferioridade”, mas que “desejam se sobressair a qualquer custo”.
Para alcançar esse fim, recorrem a ações agressivas, atos terroristas, destruir reputação, como destruir objetos de arte, patrimônios públicos, objetos socialmente úteis, torturam e matam animais ou pessoas.
As características doentias do Complexo de Heróstrato são: obsessão pela fama, ser o centro das atenções, de qualquer forma positiva ou negativa, baixa autoestima, atitudes inconsequentes de um inconsciente traumatizado, conduta agressiva, antissocial, prepotente e incompetente.
O Complexo de Heróstrato deixou um legado maldito, doentio, malicioso, destruidor, fanático, intolerante, desrespeitoso, traidor, cismático e a espetacularização da má fama. Pela idolatria de ficar famoso, vende-se a alma, faz qualquer negócio pela fama. Esse egocentrismo não teme a própria autodestruição e a destruição dos outros.
Prof. Dr. Inácio José do Vale, Psicanalista Clínico, PhD.
Especialista em Psicologia Clínica pela Faculdade Dom Alberto-RS.
Especialista em Psicologia da Saúde pela Faculdade de Administração, Ciências e Educação-MG.
Doutorado em Psicanálise pelo Phoenix Instituto da Flórida-EUA.
Doutorado em Psicanálise Clínica pela Escola de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea. Rio de Janeiro-RJ. Cadastrada na Organização das Nações Unidas – (ONU).
Autor do livro Terapia Psicanalítica: Demolindo a Ansiedade, a Depressão e a Posse da Saúde Física e Psicológica
Fontes:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-57982686