COMEÇOU POR JERUSALÉM

                Ficar parado na expectativa de uma miragem, algo assombroso, inexplicável para os olhos, realmente, nunca seria uma atitude de fé. “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu”? Essa atitude não combina com os ensinamentos cristãos. A fé vai além da contemplação, da adoração pura e simples. Exige ação. Exige disponibilidade e coragem para ir adiante, enfrentar o mundo, percorrer nossas Galileias e Samarias, sair da Jerusalém de pedras, dos templos que acalentam nossas almas, para encarar a realidade do mundo.

                Evangelizar, antes de mais nada, é sinônimo de doação plena, de martírio, testemunho que se dá a custo de sangue, da vida. Após sua paixão, morte e ressurreição, Jesus quis permanecer mais quarenta dias entre seus discípulos, apenas e tão somente para lhes reafirmar esse aspecto fundamental da missão que iria lhes confiar, tão logo lhes concedesse a unção do Espírito. Antes de sua Ascensão, sua entronização no Reino Definitivo, ministrou-lhes a catequese da revelação pentecostal. O clímax do mistério Pascal exigia o testemunho, a compreensão e aceitação plena da verdadeira teofania, aquela que revelava aos seus a divindade de Jesus em sua ascensão aos Céus, tal qual a manifestação divina de Deus no Egito, que se manifestava ao povo reinando sobre as nuvens. Jesus, em sua Ascensão, não supera um espaço acima do nosso, não atinge os limites da estratosfera terrena, nem ocupa um trono fora da nossa realidade, mas simplesmente volta para o plano existencial de Deus, o terceiro céu como diria São Paulo, um local invisível onde Deus habita, mas também um local visível para sua realidade divina. Ocupa o trono que sempre foi seu.

                Num primeiro momento, os apóstolos viam nesses mistérios a ação de forças fantasmagóricas. Temerosos, ocultavam-se entre as quatro paredes daquela sala num segundo andar de uma residência qualquer. A mesma sala onde Jesus penetrou estando portas e janelas fechadas. A mesma sala onde línguas de fogo iriam clarear suas mentes e corações para o desafio da evangelização sem temores. E Maria ali estava. O Cristo que conheceram tornou-se imagem real do Servo Sofredor do qual bem falou o profeta Isaias e cuja morte todos os demais profetas anunciaram. Também de Jonas, aquele que por três dias ficou prisioneiro no ventre de uma baleia e ressurgiu para anunciar um novo tempo, proclamar a liberdade de seu povo, como bem o fizera Jesus em seus últimos dias. Agora, ressurgia dos mortos e retomava seu discurso. Mas exigia mais: “Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vocês aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,48-9).

                Fica bem claro nessa promessa: Não existe evangelização sem unção pentecostal. Não existe vida eclesial sem envio da força do alto. Não existe fé sem testemunho do Espírito. Não existe Igreja sem perseguição. Todos os fatos que culminaram e ou coroaram a Ascensão de Jesus ainda hoje são sinais concretos e bem visíveis da autenticidade da fé cristã, essa que atravessa milênios contrariando o submundo das portas infernais. O céu é nosso limite, alvo das almas sedentas de plenitude e verdadeira comunhão com Deus. Morada definitiva daqueles que contemplam as riquezas celestiais com os pés no chão de uma realidade assustadora. O mundo é cruel, mas nossa Jerusalém Celeste compensará tudo isso. Jesus subiu aos céus. “Eles o adoraram. Em seguida, voltaram para Jerusalém com grande alegria”. Nunca perderam a esperança de dias melhores!

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