Iniciamos o mês de novembro com os olhos voltados para o nosso fim último. De um lado, ao celebramos o dia de finados, ou seja, a comemoração de todos os fiéis defuntos, recordamos a nossa situação humana e a necessidade de intercessão pelos falecidos. De outro lado recordamos que o nosso fim último é Deus: somos todos chamados à santidade. No Brasil, essa solenidade passa do dia 1º de novembro (calendário universal) para o domingo seguinte, que, neste ano, substitui o 31º domingo do tempo comum. É um momento celebrativo importante para que não esqueçamos o para que fomos criados: para estar com Deus pela fé neste mundo e um dia estar com Ele no céu.
“Sede, pois, perfeitos como vosso pai celestial é perfeito” (Mt 5, 48). Jesus dirige estas palavras não somente aos Apóstolos, mas a todos os que de verdade queiram ser seus discípulos. O Mestre chama todos à santidade sem distinção de idade, profissão, raça ou condição social. Não há seguidores de Cristo sem vocação cristã, sem uma chamada pessoal à santidade. Deus nos escolheu para sermos santos e imaculados na sua presença, dirá São Paulo aos primeiros cristãos de Éfeso; e para conseguirmos esta meta, é necessário que nos empenhemos num esforço que se prolongará por todos os nossos dias aqui na terra: O justo justifique-se mais e o santo mais e mais se santifique.
Esta doutrina do chamado universal à santidade nos diz o Concílio Ecumênico Vaticano II: “todos os cristãos, seja qual for sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor, cada um no seu caminho, à perfeição da santidade pela qual é perfeito o próprio Pai” (Cf. Lumen Gentium, 11). A nossa fé nos ensina que somente Deus é Santo. Na Bíblia, “santo” significa literalmente, “separado”. Deus é aquele que é separado, absolutamente diferente de tudo quanto exista no céu e na terra: Ele é único, Ele é absoluto, Ele sozinho se basta, sozinho é pleno, sozinho é infinitamente feliz. Ele é Deus! Por isso, Santo, em sentido absoluto, é somente o Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo. A Jesus, o Filho eterno feito homem, nós proclamamos em cada missa: “Só vós sois o Santo”; ao Pai nós dizemos: “Na verdade, ó Pai, vós sois Santo e fonte de toda santidade”; ao Espírito nós chamamos de Santo.
É assim que todo cristão é um santificado, um separado para Deus. Mas, esta santidade que já possuímos deve, contudo, aparecer no nosso modo de viver, nas nossas ações e atitudes. E o modelo de toda santidade é Jesus, o Bem-aventurado. Ele, o Filho, foi totalmente aberto para o Pai no Espírito Santo e, por isso, foi totalmente pobre, totalmente manso, totalmente puro e abandonado a Deus no pranto, na fome de justiça e na misericórdia. Então, ser santo, é ser como Jesus, deixando-se guiar e transformar pelo seu Espírito em direção ao Pai. Esta santidade é um processo que dura a vida toda e somente será pleno na glória. São João nos fala disso na segunda leitura de hoje: “Quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”(cf.1Jo 3,2b).
O Evangelho deste domingo (Mt 5,1-12a) nos apresenta as Bem-aventuranças. Elas são proclamações de salvação para aqueles que aderem à comunidade de fé. Todos os santos sempre foram e são contemporaneamente, embora em medida diversa, pobres de espírito, mansos, aflitos, famintos e sequiosos de justiça, misericordiosos, puros de coração, artífices de paz e perseguidos pela causa do Evangelho. E assim devemos ser também nós. Além disso, na base desta página evangélica é evidente que a bem-aventurança cristã, como sinônimo de santidade, não está separada de um eventual sofrimento ou pelo menos de dificuldade.
A expressão “pobres em espírito” nada tem a ver com a carência intelectual, mas a atitude daqueles que não contam com a riqueza e o poder e, além de se contentar com uma vida simples e confiante em Deus, preferem viver pobres do que participar da exploração. Nesse sentido, eles são muito semelhantes aos entristecidos, aos mansos (o povo simples, em oposição aos truculentos; o Salmo 37, 11 lhes promete a posse da terra!). Quanto aos que têm fome “de justiça”, esta justiça não é apenas a justiça social (essa também!), mas a busca da vontade de Deus em tudo.
Procuremos vier neste mundo a santidade de vida e de estado. Ser santo é possível nesta sociedade confusa em que vivemos e esta deve ser a meta e a vocação de todos os batizados. A santidade ensina o Papa Francisco, “é a face mais bela da Igreja, a face mais bela: é redescobrir-se em comunhão com Deus, na plenitude da sua vida e do seu amor. Entende-se, então, que a santidade não é uma prerrogativa somente de alguns: a santidade é um dom que é oferecido a todos, ninguém excluído, pelo qual constitui o caráter distintivo de cada cristão”. Segundo o Papa, “para ser santos, não é preciso necessariamente ser bispo, padre ou religioso: não, todos somos chamados a nos tornarmos santos! Tantas vezes, depois, somos tentados a pensar que a santidade seja reservada somente àqueles que têm a possibilidade de destacar-se dos assuntos ordinários, por dedicar-se exclusivamente à oração. Mas não é assim!”. “Mas, o que é a santidade? Não é “fechar os olhos e fazer cara de imagem”, mas viver “com amor” e oferecer “o próprio testemunho cristão nas ocupações de cada dia que somos chamados a tornar-nos santos. E cada um nas condições e no estado de vida em que se encontra”. (Cf. audiência geral de 19 de novembro de 2014).
Contudo, olhemos para o céu: lá estão Pedro e Paulo, lá estão os Apóstolos, lá estão os mártires de Cristo, os santos pastores e doutores, lá estão as santas virgens e os santos homens, lá estão tantos e tantos – uns, conhecidos e reconhecidos pela Igreja publicamente, outros, cujo nome somente Deus conhece; lá está a Santíssima e Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe e discípula perfeita do Cristo, toda plena do Espírito, toda obediente ao Pai. Eles chegaram lá, eles intercedem por nós, eles são nossos modelos, eles nos esperam.