Catequese e aprofundamento da liturgia da Palavra de Deus: 17º Domingo

    Introdução: Não é difícil fazer piedosas considerações sobre os textos litúrgicos, mas não tão é fácil perceber o verdadeiro sentido da mensagem apresentada para ser vivida, e não apenas analisada.

    1. O Reino de Deus não é apenas uma realidade, sociologicamente, analisável. É mais. Bem mais. É a realidade onde Deus Pai é ouvido, Jesus Cristo, seguido e, o Espírito Santo, o formador maior. É a realidade onde existe amor, solidariedade e fraternidade. Onde ganância, miséria e desunião são combatidas. É um corpo onde Cristo é a cabeça e, o Espírito Santo, a alma, e se busca a glória do Pai. Sendo o Reino realidade feita de homens e mulheres não é perfeito, mas perfectível. Há necessidade de conversão permanente para Deus, como filhos e aos outros, como irmãos. O câncer social, por isso, deve ser sempre combatido e superado. Por isso, há permanentemente a esperança de algo melhor (Cf Segunda Leitura Ef 4,1-6).
    2. Na Primeira Leitura e no Evangelho, não se quer mostrar como fazer milagres. Nem Elias e menos ainda Jesus nos induzem a pensar assim. Não se contam ali histórias do passado, mesmo que sagradas, nem tampouco se pretende repassar uma visão, apenas, política e social da realidade.

    2.1      Num tempo de fome, Elias recebe pães de cevada, trazidos por alguém. Ele não os guarda para si. Partilha. Pensa biblicamente. Sente-se, então, corresponsável: solidário.

    2.2      Jesus (o novo e verdadeiro Moisés), como fora profetizado, tem compaixão do povo. Ele o alimentara com a palavra, alimentá-lo-ia, agora, pela multiplicação dos pães e dos peixes. Jesus não é showman. É profeta, pastor. É o Messias. Faz o povo sentar-se. Valoriza o que trouxeram e faz a sua parte. Multiplica os pães e dá-lhes de comer. Fez sua parte, depois de ter valorizado a dos outros. Mostrou como agir.

    1. Mandou recolher o que sobrara dos pães. Lição para nós: abundancial sim, desperdício, não. Há tanto esbanjamento, hoje. É um pecado. Onde sobra para alguns felizardos, falta para tantos outros necessitados. Morre-se de fome enquanto há os que precisam fugir da própria pátria. A situação clama ao céu. Não é fácil celebrar a eucaristia em situações semelhantes. Jesus fez a multiplicação dos pães, antes da instituição da eucaristia. Pergunta-se: como celebrar quando se ouvem estômagos roncando? Crianças chorando de fome? Idosos sendo abandonados? O mundo atual é um mundo sem alma. Injusto. Há muitos cadáveres sendo sepultados depressa e não só por causa do coronavírus…
    2. Jesus quer um mundo renovado. Melhor. Não, porém, como fruto de milagres, mas sim, como consequência do espírito de justiça, de solidariedade e de fraternidade. Deus já nos deu inteligência, vontade e muitos talentos. O mundo, Ele o confiou aos homens e mulheres para que o tornassem um paraíso, e não um inferno. Ele respeita o jogo estabelecido. Não cria dependentes, nem aprova injustiças e arrogância. Lembra, ainda, que cada qual colherá o que plantou. Até parece que muitos não se preocupam com isso.

    Conclusão: Todos têm seu ponto de vista. Muitos, porém, são tendenciosos ou interesseiros. Deus, não. As explicações da situação atual do mundo abundam. Psicólogos têm a deles, que é divergente, a partir das diversas escolas: psicanalítica, personalista cristã, rogeriana ou junguiana etc. Sociólogos têm outro ponto de partida. E os economistas? E os de esquerda? Os capitalistas? Quot capita, tot sensus. No entanto, somente a visão e ação de Deus são integralmente aceitáveis e, por isso, devem ser plenamente imitadas. Muitos ateus já debocharam de Cristo e do evangelho. No entanto, ao aproximar-se a morte, mudaram de atitude: ficaram piedosos, chegando até a rezar o terço… Enquanto o Titanic – maior orgulho da marinha mercante inglesa – afundava, a orquestra executava o comovente hino “Mais perto de meu Deus”. Sim, mais perto de Deus ou do fundo do mar! Goethe, em morrendo, pediu “mehr licht”. Mais luz. Queria, de fato, mais Luz? Não o sabemos. O Pai Celeste, certamente, não a negaria, pois é sempre Pai amorosíssimo. Até “o bom ladrão” não perdeu sua chance, mesmo já moribundo, suplicou pedindo perdão. Recebeu-o, certamente, pois Deus é imutavelmente bom, eu o repito. Cristo veio para salvar, por isso, com o presente final à humanidade, impetrou do Pai o perdão, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc23,34).

    Dom Carmo João Rhoden, SCJ

    Bispo Emérito de Taubaté, SP

    Presidente da Pró-Saúde

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here