Bispos se pronunciam sobre independência do Curdistão

Ponto estratégico na entrada da aldeia caldeia de Tesqopa, no Curdistão Ponto estratégico na entrada da aldeia caldeia de Tesqopa, no Curdistão

Os líderes da Igreja no norte do Iraque alertaram que a crise desencadeada pelo referendo a respeito da independência do Curdistão, realizado na segunda 25/09, poderia pôr em perigo a presença cristã na região.

Após o referendo, que pede a separação da região do KRG (Governo Regional do Curdistão) do norte do Iraque, cinco bispos católicos e ortodoxos emitiram uma declaração apelando à comunidade internacional para proteger os cristãos e ajudá-los a permanecerem em suas terras, especialmente na Planície de Nínive.

Na declaração, cuja cópia foi enviada à ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, eles escreveram: “Não podemos omitir nossa opinião de que a situação para os cristãos se tornou muito difícil, beira à incerteza”. Eles acrescentaram: “É fato que tal acontecimento criou nos cristãos um estado de medo e preocupação pela possibilidade da disputa gerar uma crise com graves consequências para todos”. A mensagem foi escrita por: Dom Bashar Warda (arcebispo católico caldeu de Erbil), Dom Nicodemus Sharif (arcebispo ortodoxo siríaco de Mossul), Dom Apris Jounsen, Dom Rabban Al-Qas (bispo caldeu de Amadiyah e Zaku), Dom Timotheos Mousa (arcebispo siríaco ortodoxo da arquidiocese do mosteiro de Mor Mattai).

A mensagem enfatizou a situação precária dos cristãos de Nínive – cuja considerável parcela ainda está deslocada em Erbil, a capital do norte curdo do Iraque, depois de serem expulsos de suas casas pelo grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) em 2014.

Com muitos assentamentos cristãos localizados em territórios disputados, os bispos advertiram: “Deve-se ter cuidado para não envolver a última terra cristã em negociações políticas, pois nossa comunidade vulnerável não pode suportar mais cisões e divisão, além das contínuas lutas políticas e partidárias. “A declaração enfatizou que, na situação vulnerável atual da comunidade, além de levantes poderia haver novas ondas de emigração – ameaçando sua própria sobrevivência. Os bispos pediram em particular que a Planície de Nínive não fosse dividida entre o Iraque e um Curdistão independente. “A futura Planície de Nínive deve ser mantida como um território unificado, é fundamental não dividi-la em partes”.

Os bispos expressaram seu temor de que a restauração das cidades e aldeias da Planície de Nínive se paralisem, pois a área agora enfrenta um futuro político incerto. “Enquanto o governo federal e o KRG estão envolvidos na luta pela área em disputa, incluindo as áreas históricas do nosso povo, as áreas liberadas do controle de militantes do EI permanecem em uma condição terrível em termos de destruição, serviços públicos, e segurança.” Não há tentativas sérias de reconstruir a área pelos governos. O que dificulta o retorno dos refugiados e deslocados, prolongando assim sua situação. Entretanto, em entrevista, o arcebispo Warda, outros bispos e coordenadores do programa de reconstrução, incluindo Stephen Rasche, sublinharam seu compromisso de continuar com os trabalhos de reconstrução, apesar dos recuos pós-referendo.

Expressando a preocupação de que as áreas cristãs possam perder sua identidade histórica, os bispos pediram na declaração o diálogo entre o governo federal iraquiano e o KRG. “Em meio à crise que o país experimenta hoje após o referendo da Região do Curdistão, pedimos a todas as partes envolvidas que optem pelo diálogo e moderação e para impedir que, por meio da mídia, o conflito aumente ainda mais”. Os bispos esperavam que ambos os lados pudessem trabalhar nas questões em discussão “para alcançar uma solução adequada, aparte do sentimento de ódio capaz de inflamar conflitos”.

Temeroso de que os cristãos possam ser apanhados em uma luta armada entre facções que competem pelo poder, os bispos acrescentaram: “Exigimos que o uso das armas seja restrito às forças de segurança oficiais do governo, o que encorajamos nossos jovens a se juntarem”.

Os bispos também prestaram homenagem ao povo curdo que ajudou a comunidade cristã depois de serem expulsos de suas casas. “Sem dúvida, nós, cristãos, nunca poderemos esquecer de como nossos irmãos na região do Curdistão nos receberam, enquanto pessoas deslocadas, não só aos cristãos, mas também a outros membros do povo iraquiano”.

 

Fonte: ACN

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