Bem-aventurados os pacíficos, porque serão filhos de Deus

    A sétima bem-aventurança é um convite vibrante para a construção da paz, não obstante os conflitos interiores e exteriores do ser humano nesta terra. Trata-se de uma obra de conciliação e de concórdia. É preciso construir a paz consigo mesmo e com os outros para poder estar em paz com Deus. Não é uma paz estática, mas dinâmica, uma vez que “a vida do homem nesta terra é uma luta” (Jó 17,1 in Vulgata). Cristo, aliás, asseverou: “Não vim trazer paz, mas a guerra” (Mt 10,34). Se assim é, como ser artífice da paz?  Num mundo dividido entre o bem e o mal a batalha ininterrupta é contra o mal para que reine sempre o bem dentro de cada um, irradiando esse bem para o próximo e caminhando persistentemente no amor do Deus da Paz. Trata-se de um movimento contínuo e não de um mero repouso existencial. A verdadeira paz não leva à imobilidade, mas conduz o seguidor de Cristo a estar a desfazer sempre os nós da perversidade, da discórdia, da divisão.  Ser pacífico é, deste modo, agir, edificando uma relação consciente que conduz à unidade interior e exterior. Eis porque se deve pedir sempre a Deus: “Unifica meu coração para temer o teu nome”  (Sl 86,11, pois num coração dividido não reina a paz. Esta, porém, reinando no íntimo do fiel se expande na união com os irmãos. Lembra Davi: “Oh! como é belo, como é prazenteiro o convívio de muitos irmãos juntos (Sl 133,1). Então o cristão pode se imergir na serenidade divina. Dá-se o que preconizou São Paulo: “E a paz de Deus que supera todo o conceito, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus”. O cristão se torna deste modo um portador vivo da quietude ativa. Esta beatitude traz consigo um vasto ensinamento na luta contra a inquietação, a altercação e o afastamento de Deus. O caminho inverso ocorre porque o cristão passa a reconhecer Deus no outro numa admirável reconciliação a qual toma conta de todo o seu ser, tranquilo no amor ao próximo e ao Criador de tudo. Isto acontece porque o cristão faz parte de um povo no qual o Espírito divino é mais poderoso do que a guerra e em Cristo cada um se torna uma vinha que traz consigo  o fruto delicioso da paz pelo qual todos se mostram irmãos. Os pacíficos, contudo, trilham um caminho de sacrifício total, dado que não é fácil estar em paz consigo mesmo, com o próximo e com o Criador, pois o orgulho é um obstáculo que deve ser removido. Somente assim se anatematiza o agitamento pessoal e se passa a conviver com sabedoria com o próximo e com o Senhor Onipotente. Deste modo, se conhece a verdadeira paz em ação persistente, sem as oscilações nefastas que pode levar o cristão a se martirizar e a ofender os outros e a Deus. Afastados os óbices,  o destino do pacífico é usufruir a imperturbabilidade, entoando um poema de amor, um hino de vida para quem se acha em seu derredor e percebendo ao vivo as maravilhas de Deus por toda parte. Tal é o destino do artista da paz, ou seja, lançar onde estiver uma mensagem luminosa de  serenidades, erguendo a obra da verdadeira dileção. Para cultivar a  paz consigo mesmo é necessário reservar momentos de silêncio interior, colocando em ordem os pensamentos e desejos, longe do bulício exterior. No relacionamento com o próximo é preciso estar consciente de que a paz se constrói a cada dia no diálogo, com o coração aberto, com os ouvidos prontos a escutar, saindo da emotividade mal ajustada, evitando tudo que possa ferir o outro. Se este é quem nos ofende, deixar para dar explicações quando for oportuno, perdoando imediatamente qualquer ofensa. Então se poderá dizer a Deus: “Perdoai nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Cumpre repetir sempre: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso. Além disto, nunca  querer enquadrar os outros nos próprios moldes mentais, por vezes, tão estreitos.  “Shalom Aleichem”, foi uma saudação frequentemente utilizada por Jesus e que significa “a paz esteja convosco”. Este deve ser também o desejo continuado de seu seguidor, inebriado na paz de Seu coração amabilíssimo.

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