AVÓS NA SEGUNDA IDADE

                A netinha, sempre vivaz e curiosa, chegou-se até à avó e lhe perguntou:

                – Vovó, o que significa velhice?

                A avó, tomada pela surpresa da pergunta, tomou no colo a pequena, sorriu-lhe com um quase pesar nos olhos e propôs uma resposta um tanto quanto enigmática.

                – Velhice, minha filha, é o que você vê em meu rosto…

                A criança fitou por alguns segundo a serenidade estampada naquele rosto, já não tão jovem, porém marcado pelo amor e devoção aos seus e surpreendeu a todos com uma conclusão inesperada.

                – Ah, como é linda a velhice!

                Desconsiderando a pureza dessa conclusão, que também nos remete a um elogio de profundo respeito à beleza da figura dos avós na vida familiar, é real a afirmativa dessa criança: cada dia mais se nota a beleza e jovialidade de muitos avós. O dom de contemplar e conviver com a segunda e até terceira geração familiar tem premiado muitos casais cada dia mais jovens. Sem desmerecer ou desqualificar os avós que o foram na plenitude de seus dias, estendo a todos os avós do mundo o elogio mais que verdadeiro da netinha acima: Ah, como é linda a velhice!

                A beleza independe da idade, das máscaras que vestimos, da pintura, do botox, de qualquer plástica ou milagre das clínicas de estética. Rusgas e marcas também estampam certa beleza. Esta que não se vê com os olhos, mas com o coração. Mais que a tez alva e cabelos sedosos, beleza maior é aquela que flui da íris serena de avós conscientes de suas responsabilidades e levam adiante a missão sagrada de esteio e referência familiar. “Na sua posteridade permanecem os seus bens… Os filhos de seus filhos são uma santa linhagem e os seus descendentes mantêm-se fiéis às alianças” (Eclo 44, 11-12).  Alianças que o Senhor fez com seu povo. Aliança que eles próprios um dia fizeram entre si, jurando fidelidade mútua, amor aos filhos, aos netos, aos bisnetos… “Por causa deles seus filhos permanecem para sempre, e sua posteridade, assim como a sua glória, não terá fim” (Eclo 44, 13).

                Qualquer reduto familiar tem em seus ascendentes um ponto de referência, seja este positivo ou não. Daí a importância dos avós até na constituição social e no equilíbrio moral, ético, religioso que seja, de todo e qualquer indivíduo que busque uma vida equilibrada, normal diante dos homens e de Deus. Ou será que Ana e Joaquim não foram uma referência positiva para a criação e formação psicológica do menino Jesus? Sabemos que Jesus não conviveu com seus avós, mas a história sagrada nos legou seus nomes como santos e deles fizemos patronos do Dia dos Avós (26 de Julho).

                Ah, avós! Quem me dera ainda tê-los!  Mas na ausência que hoje noto, eis que a vida me surpreende como um deles… Então visto a carapuça da idade que solapa meu chão e enfeita a vida com as flores inquietas, perfumadas, vivazes, dos netos que hoje tenho. Vovô, vovó! Como é doce ouvir esse nome!

                Se você, pai e mãe, ainda não penetrou na “beleza” dessa idade, sossegue; um dia chegará lá! Então virão os netinhos, sempre prontos a quebrar sua rotina, a bagunçar sua casa, sua vida, a cobrar uma explicação qualquer, uma história que seja: “Ó vovó, ó vovô, conte-nos uma história bonita”! E, com ares de poeta, como Bilac escreveu, fará sua parte com orgulho. “Então, com frases pausadas/Conta história de quimeras,/Em que há palácios de fadas,/E princesas encantadas… E os netinhos estremecem/Os contos acompanhando,/E as travessuras esquecem,/-Até que, a fronte inclinando/Sobre o seu colo, adormecem…”

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