Acabar com a desigualdade social

    “As quatro pessoas mais ricas do mundo… controlam uma fortuna maior do que a dos 57 países mais pobres do mundo” (1).
    Segundo a organização britânica Oxfam, as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial detém mais riquezas do que todo o resto do mundo junto. Além disso, a riqueza da metade mais pobre da humanidade diminuiu um trilhão de dólares nos últimos cinco anos. “Essa é apenas a evidência mais recente de que vivemos atualmente em um mundo caracterizado por níveis de desigualdade não registrados há mais de um século”, afirma o estudo, divulgado no começo do ano, e baseado no relatório anual sobre a riqueza mundial do banco Credit Suisse. Apesar de reconhecer os avanços que ajudaram a reduzir o número de pessoas que vivem abaixo da linha de extrema pobreza pela metade, entre 1990 e 2010, a organização também ressalta que, se a desigualdade dentro dos países não tivesse aumentado no mesmo período, outros 200 milhões de pessoas teriam saído da pobreza. “A desigualdade da qual falamos implica a existência de milhões de pessoas mais vulneráveis do mundo lutando para sobreviver com menos de dez centavos de dólar ao dia”, destaca a assessoria da Oxfam em entrevista à Revista Cidade Nova. Esse número poderia ter chegado a 700 milhões se as pessoas em situação de pobreza fossem mais beneficiadas pelo crescimento econômico do que os ricos. No Brasil, a assessoria aponta que, “a desigualdade de renda ainda é extremamente elevada”. De acordo com o relatório, a renda  dos 50% mais pobres mais do que dobrou em termos reais entre 1988 e 2011, quando cresceu a uma taxa ligeiramente mais acelerada que a dos 10% mais ricos. (2).
    “Em qualquer sociedade, os ricos e poderosos vão acumular poder com o tempo e usarão seu acesso privilegiado ao sistema político para protegerem a si mesmos”, afirma Francis Fukuyama, cientista político americano, autor de O Fim da História (4).
    Daí a necessidade do Estado em usar critérios para legislar impostos sobre os mais ricos. Tais impostos rumo a uma direção em prol da ajuda aos jovens e obras sociais. Impostos também sobre os impérios religiosos e seus aglomerados empresariais. Todo dinheiro de corrupção, do tráfico de drogas e de qualquer outro crime, como também os bens materiais adquiridos fora lei, tudo isso seriam usados para acabar com a desigualdade social.
    AJUDAR OS JOVENS
    Corria o ano de 1993 e o jovem estudante francês Thomas Piketty frequentava as aulas do renomado mestre Anthony Atkinson, na London School of Economics. O tema: distribuição de renda e desigualdade econômica. Vinte anos depois, Atkinson ajudou seu ex-pupilo a produzir o monumental banco de dados que Piketty usou para escrever seu já célebre livro O Capital no Século XXI. Atkinson, considerado o pai dos estudos sobre desigualdade econômica, se debruça sobre o tema desde 1966, quando se formou em Cambridge. Autor de dezenas de livros sobre o tema e parceiro de nomes como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, Atkinson acaba de lançar o livro Desigualdade: o que pode ser feito? Ele afirma que “cabe aos governos definir suas prioridades. Combater a desigualdade, segundo ele, deveria ser a primeira da lista”.
    Atkinson declara: “A maior tragédia da crescente desigualdade é que ela faz cada vez mais pessoas ter um ponto de partida na vida muito distante do de outros. Há poucas pessoas muito privilegiadas e algumas privilegiadas, e estas pessoas sempre vão levar vantagens sobre a larga maioria que não tem um ponto de partida para suas vidas. Reduzir a desigualdade de oportunidades é essencial para termos uma sociedade mais justa. Se não deixamos que bancos quebrem, por que deixar que pessoas fiquem sem emprego e sem uma renda mínima? Garantir empregos para os mais jovens é uma ação positiva no aspecto fiscal porque pode permitir que o governo reduza gastos com políticos de bem-estar social. Eu proponho critérios para a concessão desses empregos, em especial para os jovens, que poderiam escolher entre a garantia de emprego e uma espécie de ajuda financeira a partir dos 18 anos, para educação em tempo integral, até terminar os estudos. Isso não é um subsídio, é um investimento” (3).
    O filósofo grego Platão afirmou: “De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar”. Daí toda uma engenharia de investimentos para o bem-estar dos jovens. Que vai da educação fundamental à conquista espacial. Do envolvimento no campo esportivo à zona rural. Explorar a vasta zona rural com cursos técnicos ambientais na ciência da sustentabilidade. O Brasil com a sua dimensão continental tem espaço para o futuro glorioso da juventude e de todo o seu povo. A meta é investir de forma colossal na educação. A educação é tudo para acabar com a vergonha da desigualdade social. Raiz motriz para todo investimento.
    Pe. Inácio José do Vale
    Professor, escritor e conferencista
    Sociólogo em Ciência da Religião
    Religioso dos Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com
    Notas:
    (1)    FOREIGN POLICY, janeiro/fevereiro de 2011, EUA.
    (2)    Cidade Nova, março de 2016, p.18.
    (3)    Época, 22/02/2016, pp. 44 e 46.
    (4)    Ultimato, setembro/outubro de 2013, p.14.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here