A vocação sacerdotal e o mundo contemporâneo

               No último sábado do ano litúrgico, dia 1º de dezembro, em nossa Catedral Metropolitana, durante a Festa da Unidade iniciamos em nossa Arquidiocese o Ano Vocacional Arquidiocesano. Ele é continuidade do ano da Vida Religiosa que já vivemos e sobre o qual até escrevemos uma carta pastoral. Também estamos concluindo com muitos frutos o ano do laicato despertando as vocações leigas na Igreja e como Igreja no mundo de hoje. Agora é o momento de rezar pelas vocações sacerdotais. Já existe um momento entre dioceses do Brasil e do exterior de rezar pelas vocações, e que nós também aderimos, e que quer suscitar em cada comunidade uma nova vocação. Este ano que iniciamos na Festa da Unidade vem ao encontro desse momento e também nos prepara o grande evento vocacional nacional neste próximo ano.

    Estamos em uma época de muita tecnologia, de rapidez nas informações e busca desenfreada pelo sucesso, pela fama e visibilidade. Toda essa metamorfose cultural tende de atingir, sobretudo, a juventude. É exatamente nessa fase da vida que se faz grandes questionamentos sobre o próprio futuro, sobre a própria vocação.

    Falar de vocação profissional para a juventude já está sendo um grande desafio para as famílias, para os próprios profissionais e sociedade. Imaginem falar de vocação sacerdotal. Eis um grande desafio! Falar em sacerdócio aos nossos jovens significa apresentar a eles, uma pessoa, que é Jesus, o Mestre, que continua chamando-os ao ministério ordenado. Temos que ter a coragem de falar dessa possibilidade vocacional, que não é retrógada, mas atualíssima e desafiadora.

    Devemos sempre lembrar que os jovens da pós-modernidade também têm sede e fome de Deus e de radicalidade no seguimento do Senhor. Apresentar-lhes uma mensagem desafiadora e atraente, cativante, um ministério exigente, mas alegre e bonito, cheio de alegrias e realizações humanas e espirituais é a nossa missão. Falar-lhes ao coração de um chamado a transcender as meras realidades humanas que o mundo apresenta. Os nossos jovens gostam e esperam que sejamos testemunha dessa beleza que é a vocação, como nos afirmou Bento XVI em seu discurso para a juventude no Brasil em 2007: “O testemunho suscita vocações”.

    A configuração da sociedade pós-moderna apresenta desafios para se abordar esse tema, em especial com os jovens, pois vivemos em uma cultura altamente relativista e subjetiva, na qual a tendência da juventude é enveredar-se pela mentalidade “liquida” e superficial. Portanto, nossos jovens estão cada vez mais com dificuldade de assumir compromissos duradouros, que exigem uma decisão radical e corajosa. Logo, falar de vocação nessas circunstâncias sociocultural e religiosa é desafiante. Podemos destacar entre os principais desafios o encontro com os jovens disponíveis a ouvir, ou melhor, a escutar, muito embora quando alguém os questiona com seriedade e fundamentos sólidos, de maneira individualizada, eles são capazes de escutar.

    Outro desafio forte é o ambiente familiar e social dos jovens que não favorecem a uma busca do sagrado, pois não os educam para a escuta, além da diminuição do número de natalidade. Esses dados influenciam muito na opção de um filho em ser padre, pois dado que favorecem a cultura do egoísmo. Os comunicadores da mensagem vocacional precisam ter uma linguagem adaptada à realidade dos jovens, levando em conta as várias juventudes que temos hoje. Deve-se buscar uma pedagogia onde a mensagem seja atraente, dinâmica e criativa, sempre jovial, mas sem deixar de ser a mensagem de Jesus Cristo, com toda a verdade que ela comporta.

    A cultura capitalista e consumista, do descartável e do provisório, a difusão da mentalidade secularizada vai contra os valores do Reino e da vida, e consequentemente contra os conselhos evangélicos que o ministro ordenado é chamado, na alegria e liberdade viver. O senso de doação e de entrega por causas nobres perde força. A estima pública que tem o sacerdote na sociedade e na cultura atual está sendo colocada em crise, ou está até mesmo sendo marginalizada pela comunicação, cultura e educação de hoje. Por isso este um grande desafio para a promoção vocacional, ou seja, o desprestígio que, por diversas razões, enfrentam os sacerdotes e a vida consagrada em geral.

    O grande questionamento que se deva fazer nos atuais dias é: O que é preciso fazer para se ter uma pastoral vocacional forte e com resultados concretos? É evidente que essa resposta não pode ser dada nem recebida de forma instantânea, pois se trata de uma pergunta muito complexa e engloba muitos aspectos: desde uma promoção vocacional eficaz, dinâmica, criativa, chamativa, atrativa, propositiva e adaptada à diversidade das juventudes que temos hoje a uma consciência vocacional bem mais ampla do que a que ainda é realizada em grande parte no Brasil. Embora, ainda não é garantia de resposta totalizante. É preciso ver as questões que envolvem os jovens pós-modernos e não esquecer que o chamado é dom de Deus, é vocação, e não mera proposta dos agentes. Tendo isso em vista, pode-se garantir que a eficácia da pastoral vocacional está em grande parte fundamentada na oração da comunidade eclesial, que pede ao “Dono da Messe que envie operário para a sua Messe” (Mt 9,38).

    Desde o segundo Congresso Vocacional da Igreja no Brasil, realizado em setembro de 2005, temos falado de criar uma cultura vocacional na Igreja. Acredito que enquanto isso não estiver concretizado a resposta vocacional será ainda pequena. Outra linha de missão da Pastoral Vocacional, e, talvez uma das primeiras, é a família, conscientizar as famílias, que elas são as primeiras responsáveis pela vocação dos filhos. No número 3 do referido documento, fruto do Congresso, fala-se da importância da comunidade em rezar pelas vocações sacerdotais. Ainda apresenta como meio para o crescimento das vocações uma evangelização paroquial que envolva a juventude de forma mais totalizante. Nesse aspecto a Igreja está dando passos, mas ainda falta muito. Outro fator de grande importância e eu considero como o principal é o testemunho alegre e jovial dos padres. O testemunho dos próprios padres é o que mais encanta e atrai os jovens. Isso eu tenho ouvido muitas vezes no testemunho dos jovens ordinandos ao agradecer ao final da missa de ordenação. O Papa São João Paulo II, em uma de suas últimas mensagens para o dia mundial de oração pelas vocações coloca três características como impactantes na promoção vocacional: “a alegria dos consagrados ao ministério ordenado, a oração pelas vocações e o testemunho de comunhão” (ano 2000).

    Vemos nos países de antiga tradição cristã a preocupante diminuição numérica dos sacerdotes, o crescente aumento da sua média de idade e a necessidade da nova evangelização esboçam a apresentação de uma nova situação eclesial. Em assim continuando, pelos últimos dados das atuais estatísticas, a sociedade brasileira não demorará muitos anos a atingir a realidade que a Europa já enfrenta. Esta é uma situação que atinge não somente a população leiga, mas também aos clérigos. Portanto, a Igreja que tem uma preocupação maternal, busca ver todas as realidades de seus filhos. Essa preocupação já está expressa nos documentos de Aparecida, nas Diretrizes para a Evangelização da Igreja no Brasil, nos documentos sobre a formação do clero, nos documentos finais dos Congressos Vocacionais, no documento final do Congresso Vocacional Latino americano e Caribenho: todos apontam para a necessidade de uma nova evangelização. Realmente é uma nova situação eclesial que vem surgindo. E os agentes da Pastoral Vocacional, bem com todos os formadores precisam estar atentos aos sinais dos tempos especialmente na questão vocacional. Mais que nunca é urgente investir em um novo jeito de evangelizar cada pessoa e a cultura atual, ou as culturas. Do contrário, teremos muito em breve apenas uma pastoral de conservação para os que já estão caminhando sem investimentos na grande missão evangelizadora.

    Hoje faz-se muito necessário que em todas as pastorais, movimentos, associações eclesiais e em todas as comunidade e realidades eclesiais criem essa cultura vocacional. Acredito que a partir desta consciência, a Pastoral Vocacional será mais eficaz. Obterá uma mais diligente pela sua esmerada missão. Essa realidade está na raiz mesma do termo IGREJA, assembleia dos chamados. Todos os batizados precisam tomar consciência de sua vocação na Igreja e pedir ao Senhor da messe e Pastor do rebanho que enviei operários para a colheita.

     

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