Este mundo é um mercado onde tudo se compre e se vende. Os anúncios publicitários nos informam continuamente que podemos conseguir tudo aquilo de que necessitamos por bons preços. Tantas vezes ouvimos essa mensagem que terminamos por acreditar. Com toda certeza. Às vezes pensamos que isso é próprio de nossa sociedade capitalista, mas não é bem assim. Ao longo da história, sempre esteve presente na mentalidade das pessoas, de uma maneira ou de outra, essa ideia de que tudo pode ser comprado. E, como não, essa mesma ideia também tem estado presente na relação com Deus. Deus, igualmente, pode ser comprado.
Acredita-se que Deus tem algo a nos oferecer e que nós podemos lhe dar algo em troca. Tudo se resume em “toma lá, dá cá”. Talvez por isso os judeus acabaram por transformar o templo em um mercado, como narra o Evangelho de João. Não apenas porque havia ali cambistas e bancas em que eram vendidas oferendas para o templo. O pior era a mentalidade das pessoas que pensavam que oferecer aqueles objetos era o preço que pagavam para alcançar o favor de Deus, aplacar sua ira ou obter o perdão dos pecados.
As leituras do terceiro domingo da quaresma lançam uma mensagem poderosa: nosso Deus não está à venda. Ele não tem uma banca no mercado da vida para oferecer paz de consciência, tranqüilidade, saude ou o que quer que seja. Nosso Deus não vende e nem compra nada. Nosso Deus é aquele que nos tirou do Egito, aquele que nos libertou da escravidão. Esse é o nosso Deus. É aquele que concede a liberdade, a vida e a salvação aos que vivem na escravidão e na morte. Nada pede em troca, não é necessário pagar algo antecipadamente. Há uma única condição: que vivamos em liberdade, que não nos deixemos escravizar por nada ou por ninguém e que compartilhemos a vida. As normas que nos mostram a primeira leitura são todas elas libertadoras, todas nos convidam a viver de maneira solidária e fraterna, de forma livre e respeitando a liberdade dos outros.
Na Quaresma, Deus se manifesta como aquele que nos liberta de todas as escravidões. Até mesmo da morte, que é a última delas. Assim, experimentamos sua libertação quando celebramos a ressurreição de Jesus nos dias próximos da Páscoa. E isso Deus faz de maneira gratuita, por puro amor. Não há preço a pagar, não há condições prévias anteriores. Não precisamos ir à igreja como se isso fizesse parte do preço de nossa salvação. Deus nos ama porque sim e basta. Cabe a nós sermos agradecidos pelo presente e compartilhá-lo com aqueles que estão a nossa volta. Amar a Deus como Ele nos ama e reconhecê-lo como Pai que nos ama tanto.
Não nos é imposto um preço, mas está em nossa natureza darmos a nossa resposta, pois não podemos ser insensíveis ao amor do Senhor.