A vida acima de tudo

    O decálogo privilegia a vida, propondo-a como valor ímpar. A vida é o núcleo da constituição do povo de Deus. Ao preservar ou promover a vida, Israel está sendo fiel ao Deus da Aliança que o libertou da escravidão do Egito.
    O versículo 2 de Ex 20, 1-17 funciona como introdução. Ele recorda quem é Deus. É aquele que ouve os clamores do povo e o liberta. É o Deus do povo que clama. O Egito é símbolo de todas as opressões dirigidas às pessoas. Sendo aquele que preserva e promove a vida, Javé se alia aos que sofrem, libertando-os de todos os tipos de escravidão.
    O primeiro mandamento proíbe a idolatria. O verdadeiro culto que se presta ao Deus vivo e verdadeiro é a defesa e promoção da vida.
    O segundo mandamento proíbe pronunciar o nome de Deus em vão. O Deus da vida e da liberdade não pode ser usado para acobertar a morte e a escravidão. O terceiro mandamento diz respeito ao sábado. O descanso no sábado permite que a pessoa se sinta viva e livre e tome consciência de todos os aspectos que envolvem sua vida.
    O quarto mandamento manda honrar pai e mãe, a fonte da vida. O Deus que preserva e promove a vida manda honrar os pais, pois foi a partir deles que a vida de cada pessoa começou a existir.
    O quinto mandamento é o eixo do Decálogo. Ele se opõe ao sistema social que vigorava no Egito, o lugar da escravidão. Aí fora decretada a extinção de Deus. Israel, para ser fiel ao Deus que preserva e promove a vida, deverá por a vida como valor absoluto.
    O sexto mandamento focaliza a preservação e promoção da vida na família. O adultério destrói a relação familiar.
    O sétimo mandamento ordena: “Não roubarás”. Estudiosos afirmam que o verbo “roubar”, neste caso, está relacionado com escravização e privação da liberdade de alguém. Assim, não se trata simplesmente de tirar um objeto que pertence a outra pessoa. A questão é mais profunda. Trata-se de não escravizar as pessoas.
    O oitavo mandamento diz respeito à vida a ser preservada e promovida através de julgamento e sentenças justas. Se os pobres e os fracos não encontram quem lhes faça justiça, a sociedade se torna um novo Egito, cheio de clamores e opressões.
    Os dois últimos mandamentos proíbem a cobiça, fonte e origem de toda injustiça social, pois o desejo do acúmulo é o pai de todos os males. Para construir uma sociedade alternativa, Israel precisa aprender a justiça e a partilha.
    Quantas pessoas, infelizmente, não sabem recitar de cor os dez mandamentos. Pior do que desconhecimento é não vivenciar o que pede o Decálogo para irmos para o céu e viver uma via virtuosa neste vale de lágrimas. Busquemos, como leitura espiritual para esta quaresma, ler os capítulos do Catecismo da Igreja Católica sobre o decálogo.