A imposição do sistema

    “Não deixe a mídia te dominar, caso contrário você será mais um pobre coitado dominado pelo sistema, sem vida própria, pense com a sua própria cabeça e não com a deles, pois isso é tudo o que eles mais querem”.

    Hélène Françoise (1955-2015), foi arquiteta, professora e intelectual francesa.

    O sistema impõe ditadura que o indivíduo pode obedecer, um peso que ele pode carregar e o lucro que ele deve produzir. Ele não tem consciência, não questiona, não se livra da armadilha e vive iludido na gíria da onda e sendo propaganda da moda.

    O indivíduo como objeto de lucro é muito rendoso para o sistema capitalista e um ser bastante infeliz, doente e pobre de si mesmo.

    “Furar partes do corpo para inserir um anel, alfinete, anzol, grampo e outros objetos — é a moda do piercing. Orelha, sobrancelha, queixo, nariz, bochechas, língua — tudo serve. Dir-se-ia que a moda de incrustar objetos no corpo é a moda da dor e da infelicidade. Mais assustador ainda é o fundo moral e psicológico que essa moda revela”, escreve o escritor, jornalista, conferencista de política internacional Luis Dufaur ((1).

    O historiador de arte, professor da École du Louvre e curador-chefe do Musée des Arts Décoratifs de Paris Denis Bruna, pesquisou antecedentes da degradante moda no mundo cristão. No pagão, não precisava, pois índios americanos e selvagens africanos ainda costumam deformar o corpo com artifícios até mais sádicos e supersticiosos (2).

    Em pinturas do fim da Idade Média, Bruna descobriu indivíduos com a face traspassada com anéis, cadeias, penduricalhos ou broches. Numa Via Crucis do pintor holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), os carrascos de Nosso Senhor aparecem com piercing, com o rosto furado por anéis. Uma parteira histérica, um velho lúbrico e infiéis também portam esses piercings como estigmas de infâmia.

    Na Idade Média, certos crimes merecedores de uma execração especial, como falso testemunho e graves injúrias à autoridade, podiam ser punidos com um piercing na língua.

    Refletir abissalmente

    Furar o corpo significa copiar o buraco existente no seu interior.

    Marcar o corpo é o resultado do inconsciente manchado, marcado e carregado de traumas e de frustrações.

    Rasgar a pele indica a alma rasgada, partida, anavalhada e perturbada.

    O resultado da infelicidade do lado de dentro, se vê pelo lado de fora, ou seja, o corpo mostra o peso de carregar as terríveis dores!

    Daí os vícios não enche o buraco, não preenche o vazio, não satisfazem os desejos reprimidos, não eliminam os traumas e as dores. Quanto mais dependentes, se consume para aprofundar mais o buraco, ficar mais traumatizado, aumentar o rasgão e a infernização!

    O renomado artista Bosch, se destacou com suas figuras humanas nuas que se misturam a animais fantásticos, monstros devoradores de corpos e paisagens insólitas.

    Não há dúvida que o mais terrível monstro devorador é o homem! Devora a si mesmo.

    Dr. A. Inácio José do Vale,

    Psicanalista Clínico, PhD.

    Sociólogo em Ciências da Religião

    Qualificado em Psicologia Clínica e Educacional

    Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea/RJ.

    Autor do livro Terapia Psicanalítica: Demolindo a Ansiedade, a Depressão e a Posse da Saúde Física e Psicológica

    Notas:

    (1)http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/381/mes/Dezembro2002

    (2) Denis Bruna. Piercing. Sur les traces d’une infamie médiévale, Textuel, Paris, 2001.

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