A Cura de Jesus na sinagoga

    Em Cafarnaum, conforme relatou São Marcos, Jesus entrou de novo na Sinagoga e ali estava um homem que tinha uma das mãos ressequida (Mc 3,1-6). O Evangelista foi de uma precisão admirável observando os atores, seus gestos e suas palavras. É de se notar uma série de oposições nesta narrativa, pois no começo Jesus penetra no local de culto dos judeus, no final seus opositores saem; há alguém com a mão atrofiada e esta é inteiramente curada; os adversários observam Jesus, pois era dia de sábado e Jesus volta-se para eles com um olhar de reprovação; Cristo lhes fala, mas eles se calam. A cena era dramática, pois se tratava de um ser humano com mão paralisada e alí estavam corações insensíveis àquele sofrimento, sedentos de ter motivos para acusar o homem de Nazaré que curara o paralítico. O local era sagrado, era um sábado e, por isto, alí devia prevalecer a escuta da Palavra de Deus. Eis porque Jesus lançou solenemente sua indagação se naquelas circunstâncias era lícito fazer o bem ou praticar o mal. Não teve resposta e em sua misericórdia e com seu poder curou aquele enfermo. O resultado foi registrado por São Marcos: “Os fariseus, saindo dali, confabularam com os herodianos sobre a maneira de O matarem”. Inimigos tradicionais a armarem juntos um complot, numa causa comum, contra quem havia operado uma ação caritativa.  É que o sistema de valores de Jesus era muito diferente do modo de pensar de seus inimigos. Prevaleceu a autoridade de Cristo e sua identidade. Como Mestre que era Ele doutrinou sobre o verdadeiro sentido do sábado e como Filho de Deus demonstrou que Ele era o senhor do sábado. Que a lei do amor e da misericórdia deveria sempre prevalecer é a grande lição de Jesus neste episódio. Os discípulos que o acompanhavam devem ter entendido que ser apóstolo era anunciar esta Boa Nova a qual leva a uma nova maneira de ser. Olhe o mundo  o olhar de Deus, amando a todos como Ele nos ama. Viver o dia a dia no amor e para o amor ao Criador e ao próximo, eis a missão do cristão. Aderir a esta verdade não é inteiramente fácil, pois a fragilidade humana trava a dileção aos outros e impede o caminho da conversão e da cura. Assim como Jesus teve piedade do homem da mão ressequida, seu seguidor deve se compadecer de todos os sofrimentos, doenças e feridas, tudo fazendo a seu alcance para minimizar tais amarguras. A exemplo de Cristo o seu discípulo mostra por toda parte a bondade divina, correspondendo aos desígnios da benevolência do Criador, embora tenha que enfrentar dificuldades como Jesus lá na sinagoga. A vida do cristão exige um oceano de paciência e um barril de prudência, como Cristo mostrou enfrentando seus adversários. Ao fazer o milagre da cura Jesus mandou que o doente estendesse a mão paralisada. O cristão não pode ter mãos ressequidas, mas sempre abertas para ajudar os outros, para perdoar e distribuir benefícios. Muitas vezes há o conflito interios entre a visão da fé e a vida cotidiana, entre o desejo de Deus e os hábitos adquiridos, entre a liberdade que Jesus oferece e o esforço que a caridade exige para agir, dizer e pensar. A tensão deve ser superada e florece então a beleza dos gestos humanitários de salvação e reconciliação bem de acordo com o projeto de Deus num clima de uma intensa fé. Finalmente, é de se notar que os fariseus lá na Sinagoga observavam a Cristo. Faziam isto para poderem depois o acusar e perseguir. Ao cristão cumpre, porém,  sempre ter olhos fixos em Jesus, mas  para perceber e assimilar sua ternura sem fim. Admirável foi o seu interesse para  com um homem com a mão ressequida. Seus inimigos ali presentes  não o podiam acusar de desprezo para com aquele sofredor. Jesus, porém, sabia que aquela cura iria levá-los a tramar sua morte, fato bem registrado por São Marcos. Contudo, como Mestre divino, Cristo, deu o exemplo, pois a bondade é a tendência de se dar, de se sacrificar pelos outros. Esta bondade que pulsava em seu coração o inclinava para as misérias físicas e morais dos sofredores que com Ele deparavam. Ele se fez modelo de seus discípulos que deveriam sempre abrir os tesouros de seu coração, vindo ao encontro daqueles que sofrem. Eis aí a vocação do seguidor de Cristo. Se o cristão  ama, se faz o bem, como Jesus na Sinagoga, eleva o mundo inteiro.

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