A correção fraterna!

    A liturgia do 23º. Domingo do Tempo Comum sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros. Somos convidados a valorizar a correção fraterna, a qual, agindo na caridade, procura o bem do próximo e estreita os laços que nos unem como discípulas e discípulos do Senhor. Somos convidados a superar os conflitos com diálogo e amor mútuo, a fim de que a harmonia e a paz reinem em nosso meio.

    A liturgia quer sublinhar a nossa responsabilidade perante o irmão necessitado de correção e nos instrui sobre a reconciliação fraterna, fundamenta no amor e no diálogo. O amor é a dívida que temos para com todos.

    A primeira leitura – Ez 33,7-9 – fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projetos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam. Vivemos em sociedade e temos compromissos uns com os outros. Ezequiel nos adverte de que, em parte, somos responsáveis pela sorte dos irmãos e irmãs de comunidade. Como cristãos, não podemos ignorar nosso próximo.

    O Evangelho – Mt 18,15-20 –  deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correto para atingir esse objetivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.

    A correção fraterna e a oração em comunhão na presença do Senhor, o Emanuel, são características de uma comunidade sinodal. A correção deve acontecer na intimidade e em espírito de fé e amizade recíproca (Mt 18,15-16). A premissa é “a coragem e o dever cristão” de corrigir e a capacidade de receber com humildade a correção. Antes de denunciar e acusar, o cristão é chamado a conhecer quais as motivações para alguém se comportar de forma inadequada à fé da comunidade. Essa prática nos concederia a oportunidade de contornar vários problemas evitáveis. Jesus estende a capacidade de ligar e de desligar na terra, antes conferida apenas a Pedro (Mt 16,19), à comunidade que vive e reza em comunhão (Mt 18,18-20). A ação e a oração comuns da comunidade são ratificadas junto de Deus no céu. A confiança dessa ratificação encontra-se na promessa de Jesus: tudo que quiserem em comum o Pai atenderá, “pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles (Mt 18,20). Já que não se trata de exclusão de pessoas, mas de aceitação da vontade ou da obstinação de alguém que abandonou a fé e a comunidade, a reconciliação e o restabelecimento da unidade são, por seu lado, responsabilidade da comunidade inteira.

    Na segunda leitura – Rm 13,8-10 –, São Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada. O mandamento do amor é a síntese de todos os mandamentos. O amor nos leva a passar da lógica do individualismo e do consumismo (“tu és meu”) para a solidariedade e a doação (“eu sou para ti”). A única dívida que não se consegue saldar, alerta o apóstolo, é o amor ao próximo. Quando amamos, não fazemos mal a ninguém: deixamos de lado a ira, o ódio, a inveja, a injustiça.

    Jesus não quer exclusão, sempre procurou pela ovelha perdida. Eu e minha comunidade temos trabalhado e rezado para criar harmonia e para não gerar exclusão da comunidade e da sociedade como um todo? A correção fraterna precisa ser realizada em clima de amor e oração e respeitar vários passos antes de chegar a uma situação de exclusão ou condenação. Não é fácil aplica-la, pois pode parecer uma intromissão na vida do outro. A preocupação com qualquer membro da comunidade que não segue o ensinamento de Jesus não pode levar a atitudes autoritárias e de condenação: antes, seja impulso a construir comunidades unidas e fraternas, que manifestem a presença de Jesus. A tarefa da correção fraterna é justamente buscar a inclusão do transgressor. Antes de condenar ou excluir, a comunidade tem a tarefa de resgatar a pessoa.

    O Evangelho chama sempre a atenção para que as comunidades cristãs não se fechem no rigorismo e exigências radicais, legalistas. Nossas comunidades precisam ser espaços de solidariedade e de fraternidade e, como bem disse o Papa Francisco, “na Igreja há lugares para todos, todos, todos!”.

    Demos graças ao Pai pelo Mistério de Cristo, Mestre e Senhor, que nos atrai ao seu amor. Professemos nossa fé em Deus, que é misericórdia sem limite e nos envolve em sua dinâmica de perdão que gera vida. Vivendo este Mês da Bíblia, abramo-nos à força de sua Palavra.

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