A missão de São Camilo de Léllis

    Hoje, 14 de julho, é o dia de São Camilo de Léllis, o santo padroeiro dos doentes, hospitais e profissionais da saúde. Celebrar esta data é um convite à reflexão de nossos tempos. Tempos de dificuldades que não cessaram. Precisamos mencionar que a pandemia da COVID-19 ainda não terminou. Só aqui no Brasil, recentemente, cerca de 150 pessoas têm perdido a vida para a Covid-19 todos os dias, conforme nos mostram as notícias. É um número que nos entristece. São homens e mulheres, idosos, jovens e crianças. Que todos descansem na misericórdia divina e que São Camilo de Léllis interceda pelos familiares enlutados para que vençam a dor pela fé.

    Porque a família também é afetada. E é preciso muita fé para superar esse caminho. Já perdemos quase 700 mil pessoas para esse vírus, desde o registro dos primeiros casos. Por isso, lembrar de São Camillo de Léllis e sua história é tão oportuno para os nossos tempos.

    São Camilo de Léllis nasceu em 25 de maio de 1550, em Buquiânico, na Itália. Seus pais faleceram quando ainda era jovem, o que o levou a conhecer a solidão de ter que enfrentar a vida sem o apoio de ninguém, assumindo prematuramente as responsabilidades de um adulto. Viveu sua juventude conduzido por prazeres desvirtuosos, quando cedeu à bebida e ao jogo. Sem nenhum recurso, abandonado, cego à presença de Deus, Camilo desenvolveu uma dolorosa úlcera no pé, que o acompanharia até sua morte. Mas foi quando Deus apareceu para Camilo. E Camilo decidiu mudar, entendendo a sua missão. Que Deus também nos alcance, assim como alcançou Camilo, abrindo os nossos olhos para a necessidade de sermos solidários com a dor do outro.

    Em Roma, no Hospital São Tiago, Camilo passou a cuidar dos doentes. Foi então que compreendeu a missão que Deus queria para a sua vida. Camilo iria, a partir daquele momento, servir os enfermos, como se fossem o próprio Cristo crucificado. E Camilo abraçou sua missão de tal forma que inspirou outros homens de boa vontade, que passaram a segui-lo. Em pouco tempo, o grupo cresceu e se organizou até o ponto em que, autorizados pela Santa Sé, tiveram sua congregação elevada à Ordem dos Ministros dos Enfermos. Ele morreu em 14 de julho de 1614 e foi canonizado em 29 de junho de 1746 por Bento XIV. Em 1886, Leão XIII declarou São Camilo como padroeiro dos enfermos, junto com São João de Deus.

    São Camilo de Léllis escolheu os doentes e os pobres em uma época muito diferente dos tempos de hoje. Meus irmãos e minhas irmãs, se hoje o sofrimento que afeta os pobres e doentes já é suficientemente doloroso, imagine o que era estar enfermo e desprovido nos idos de 1500. Por isso que, na Igreja, o trabalho evangelizador prioriza os cuidados com os mais necessitados. É uma missão que nasce junto com a Igreja. Tanto que em muitos lugares e momentos da história da humanidade, foi a Igreja e seus irmãos e irmãs os primeiros a cuidarem dos doentes. Então, sejamos agradecidos pelo exemplo antepassado de nossos samaritanos e que Deus nos fortaleça nessa missão de seguir adiante.

    Nestes tempos, a doença ganhou outro contorno. O enfermo não é apenas aquele que precisa da cura para algo no corpo que não está funcionando como deveria. Há milhares de doentes que sentem a dor do estômago vazio, cuja existência, infelizmente para muitos, é invisível nas ruas. Mas eles estão por toda a parte. E onde eles estão, também está Jesus Cristo.

    Por isso, é salutar o trabalho das nossas Pastorais no Brasil, que não apenas se dedicam a levar o alimento, mas também a orientar os doentes para o tratamento. Nessas horas, meus irmãos e irmãs, devemos sempre nos lembrar do exemplo de São Camilo de Léllis, que decidiu cumprir a missão de estar ao lado dos pobres e doentes. O próprio santo foi lembrado pelo Papa Francisco como “um homem que viveu plenamente o Evangelho do bom samaritano. Fundador dos Ministros dos Enfermos (Camilianos), patrono dos doentes e do pessoal dos serviços de saúde”.

    Como cristãos, devemos inserir no nosso cotidiano tudo o que for possível em benefício da coletividade. Devemos estar com a vacinação em dia, especialmente contra a covid-19. Devemos orientar os desorientados. Lembre-se: Jesus Cristo faz sempre a sua parte, mas nós é que precisamos dar o primeiro passo. É o pedir ajuda e ser atendido. Como cristãos, também devemos confiar em Cristo e estar sempre preparado para o seu chamado. Mesmo vivendo em dor, com a úlcera no pé, São Camilo de Léllis superou o sacrifício para atender Jesus Cristo. Nada é mais importante do aceitar a missão que Ele nos deu. Realizar a missão é cumprir a vontade sagrada. E todos nós podemos cumprir a vontade do Senhor.

    “Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal. O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na Terra, e tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu o restaurarás da sua cama de doença.” (Salmos 41,1-3)

    Meu pensamento de gratidão hoje segue para todos os administradores hospitalares – no seu dia – que foram heróis no combate da pandemia. Deus abençoe estes profissionais que fazem um silencioso e eficiente trabalho em nossas unidades hospitalares.

    Que neste dia de São Camilo, possamos dar um passo para além da reflexão e agir concretamente pelos doentes e pelos pobres. Ajudar os pobres é ajudar Jesus Cristo. Quem seguiu essa missão, recebeu abrigo no Reino. Que São Camilo de Léllis, padroeiro dos doentes, hospitais e profissionais da saúde, abençoe a todos. São Camilo de Léllis, rogai por nós!

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