Quando alguém nos visita, automaticamente começa a preparação para proporcionar uma boa acolhida. Quanto mais significativa, desejada e esperada for a visita, mais empenho haverá, mais expectativa se criará e mais intenso será o momento do encontro.
Os cristãos católicos vivem o Tempo Litúrgico do Advento que prepara um grande encontro. O Natal faz memória do mistério da encarnação, isto é, da opção de Deus assumir a condição humana. É o encontro do divino com o humano. O evangelista João diz que “a Palavra se fez carne e veio morar entre nós”, literalmente: “armou a sua tenda entre nós” (Jo 1,14). “Deus vem” visitar o seu povo, para permanecer no meio dos homens e formar comunhão de vida e amor. Quer viver o que os humanos vivem, inclusive a dor e a morte. Visita a humanidade na condição de um menino.
A liturgia da Igreja do segundo domingo do Advento faz ecoar o convite de João Batista: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). João Batista tem um importante papel em relação a Cristo. Ele empresta a sua voz para que os ouvintes percebam a presença de Jesus. Sua voz convida a todos disporem-se para acolher Aquele que vem vindo permitindo Deus “construir sua casa entre os homens”.
O evangelista Lucas situa historicamente João Batista. “No décimo quinto ano de império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Teraconítide, e Lisânsias e Abilene: quando Anás e Caifás eram sumo sacerdotes.” (Lc 3,1-2). Estas citações indicam que o Evangelho não é uma lenda, mas a narração de uma verdadeira história. Falar do “Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo” – nome oficial do Natal – é falar de um acontecimento histórico para o qual os cristãos católicos são convidados a se prepararem. Faz-se necessário reavivar o desejo do encontro com o Menino Jesus.
João Batista exerce o seu ministério no deserto e seu modo de viver era austero. O deserto designa o lugar geográfico, mas também tem um valor simbólico. No deserto, para sobreviver, se pensa em primeiro lugar naquilo que é essencial: água e alimento. O supérfluo, a abundância, o excesso fica em segundo plano.
João Batista também indica o caminho para recuperar o essencial. A sobriedade do estilo de vida conduz para a mudança interior, para a conversão. Enquanto nos preparamos para o Natal é importante que olhemos para nós próprios e façamos um exame sincero da vida. É ir ao deserto em sentido simbólico. A referência para examinar a vida pessoal e o mundo é a Palavra de Deus. A sua leitura, a escuta permanente e a reflexão vão iluminando os recantos obscuros da vida projetando raios de luz para discernir o essencial do supérfluo, o justo do injusto, o bem do mal, a paz da violência, a acolhida da discriminação.
A liturgia dominical ainda propõe a Carta de São Paulo aos Filipenses. Nela Paulo convida os cristãos daquela cidade e os cristãos de hoje. “E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernirdes o que é o melhor. E assim ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus”. (Fl 1,9-11). É o que São Paulo entende por “preparar o caminho e endireitar as veredas”. A via da caridade é a via por excelência do cristão.
Preparar o caminho também é suplicar: “Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22,20)