A manifestação de Jesus aos Magos (Mt 2,1-12) mostra a significação universal da vinda do Filho de Deus a este mundo. Daí a importância da solenidade da Epifania. O Verbo Eterno se encarnou não apenas para a salvação de Israel, mas de toda a humanidade representada pelos sábios vindos do Oriente. Uma redenção oferecida a todos os povos, abrangendo justos e pecadores. Na trajetória até o Messias uma estrela guiou os Magos. Em Jerusalém eles afirmaram: “Vimos a sua estrela e viemos adorá-lo”. Eram pessoas estudiosas, dedicadas à cosmologia. Não se interessavam em perscrutar o futuro nos astros para disto tirar proveito. Usavam esta ciência relativa à astronomia para pesquisar a estrutura do Universo. Eram cientistas e não adivinhos. Em momento algum manifestaram faculdades divinatórias. Como ressaltou Bento XVI, eram pessoas que estavam convictas de que as coisas criadas supõem um Criador que nelas deixou sua assinatura. Em Jerusalém averiguaram onde devia nascer o Messias. Relata São Mateus que houve uma agitação por parte de todos com a presença e indagações daqueles personagens que queriam encontrar o Rei dos Judeus. Da parte de Herodes surgiu o receio da chegada a este mundo de um rival e o medo de perder o trono o levará ao morticínio de crianças inocentes. Os especialistas na Escritura então convocados conheciam de onde sairia o chefe, o pastor de Israel, segundo a profecia de Miquéias que o anunciara, (Mc(5,1). Eles, porém, estavam inertes, pois, como bem observou Santo Agostinho, eram guias para os outros, mas eles mesmos não seguiam as rotas que recomendavam. Não basta nunca apenas ler e interpretar a Escritura Sagrada, mas é preciso seguir tudo que ela indica. Os Magos, porém, eram perseverantes e mediante os que lhes disseram os sumos sacerdotes e mestres da lei puseram-se novamente a caminho. Registra São Mateus, que então “vendo de novo a estrela, sentiram uma alegria muito grande”. Através dos tempos os cientistas têm dado suas opiniões sobre este astro. Interessa-nos, porém, é decodificar o significado da mensagem que este objeto celeste nesta narrativa oferece. Aquela estrela que chamou a atenção dos Magos era dotada de uma luminosidade especial. Bem o símbolo da Palavra de Deus contida na Bíblia. Ela nunca nos levará aos palácios dos poderosos e seus esplendores. Os que procuravam o Messias foram conduzidos a dez quilômetros da Capital Jerusalém a uma humilde casa e acharam um Menino cercado de pobreza. Assim são os caminhos de Deus. Cada cristão deve ser como aquela estrela que orientou os Magos para junto de Cristo. Ser luz através do exemplo, do testemunho de vida, das palavras, enfim de todos os meios de apostolado. Guiar até Maria, pois junto dela se encontrará sempre Jesus. São Mateus foi claro ao dizer que os Magos “viram o menino com Maria sua mãe”. Além disto, é preciso mostrar que, encontrados Maria e Jesus, cumpre seguir outras rotas. Aqueles sábios não voltaram a Herodes, mas retornaram para as sua terra, seguindo outro caminho. Estavam jubilosos, após oferecerem a Cristo o ouro de seu amor, o incenso de sua adoração, a mirra do sacrifício de uma longa viagem. Os Magos foram pessoas que souberam interpretar os sinais. Para encontrar a Deus é preciso estar atento a tudo que acontece. Cumpre sair de si mesmo e, até, ir além de si mesmo. Elevar todo o ser para Deus e se tornar capaz, por entre a escuridão que muitas vezes envolve o ser humano, de enxergar uma estrela luminosa. Vislumbrar a Luz, não obstante as dificuldades da caminhada. Perpétuo viandante, o homem deve redescobrir constantemente seu horizonte e não se apegar a nada transitório. É assim que ele se realiza de maneira existencial num caminho marcado por incessante transformação. Olhos fixos na estrela da fé é necessário nunca desanimar e, se for o caso recomeçar. Viver a realidade do encontro com Jesus, se tornando estrela para os outros.
* Professor no Seminário e Mariana durante 40 anos.