Significado do Batismo de Jesus

    Através dos tempos o episódio do Batismo de Jesus no Rio Jordão, ministrado por João Batista vem despertando inúmeras indagações e, ate mesmo, causando certa perplexidade (Mc 1,7-11). O batismo do Precursor era um batismo de conversão. Jesus, porém, era o Santo de Deus, o Messias prometido que viera salvar a humanidade de seus pecados. O próprio João Batista no relato de São Marcos proclamou a superioridade de Cristo. Diante dele não era ele inclusive digno de se abaixar para desamarrar suas sandálias. Uma primeira consideração a ser feita é que, ao se deixar batizar por João Batista, Cristo o reconhecia como o Profeta dos últimos tempos messiânicos que já estavam então ocorrendo, como bem explicou o Frei Olivier Rousseau. Acrescenta este autor que por este batismo Jesus era imerso na água simbolizando sua passagem pela morte. De fato, através dela se daria a redenção da humanidade. Além disto, Jesus ratificava a atitude daqueles que eram chamados à conversão pelo seu precursor, se preparando para receber o Reino de Deus que estava próximo. Por tudo isto, o céu se abriu e o Pai reconhece em Cristo seu Filho amado no qual Ele punha todo seu benquerer. Antes, o Espírito Santo como uma pomba descera sobre Jesus. Esta sublime teofania por certo deslumbrou os discípulos de João Batista, deixando-os atônitos.  A divindade daquele que nascera numa humilde manjedoura era proclamada com aparato suntuoso.  Isto acentua, porém, a questão, pois aquele que é consubstancial ao Pai, Luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro se faz batizar. Ele unido desde toda a eternidade ao Espírito Santo nada lhe acrescentaria este batismo.  É que de tal modo Deus amou o mundo que o seu Filho Dileto, o Santo dos Santos, foi capaz de vir a esta terra procurar os pecadores. Embora sendo o justo, quis se submeter a um rito de purificação. Em sua humanidade ele repararia os pecados humanos, santificaria a água que seria o sinal visível do batismo que Ele instituiria e que seria ministrado em nome das Três Pessoas divinas.  Como se reza no Credo, “por nós homens e para nossa salvação Ele descera do céu”. De acordo com esta realidade o fato dele se deixar batizar por João Batista era mais um ato dentro desta prodigiosa missão que Ele viera realizar neste mundo. Ele assumira um corpo como o nosso, uma natureza humana que eram purificados ali no Jordão. Acontecimento por demais grandioso para ser compreendido, mas cheio de significação. Na vigília pascal de certo modo o batismo de Jesus é rememorado quando o Círio Pascal, que simboliza Cristo, é colocado na água que será em seguida abençoada. Ele não precisava ser batizado por João, mas o permitiu para santificar a água que seria a matéria do Sacramento de iniciação cristã. No Jordão a água é santificada por Jesus, no nosso batismo Ele é que nos santifica pela água, nos tornando templos vivos da Trindade que se manifestou lá no Jordão. Contemplando Jesus no mistério de seu Batismo, devemos agradecer a Deus a maravilha de sua obra em nós pelo nosso Batismo. Nunca valorizamos demais esta graça imensa, pois este Sacramento é que nos abre a porta do céu. A santidade deve ser então o grande objetivo da vida do cristão. Isto se dá pela união com Deus na prece cotidiana, na participação na Eucaristia, na vivência dos mandamentos. Não se trata de uma perfeição moral puramente individual. Embaixador de Cristo, o batizado deve ser um apóstolo através de palavras e ações. No Jordão Cristo se assemelhou ao homem pecador. No rito batismal o cristão se torna outro Cristo para fazê-lo contemporâneo de cada contexto histórico. No Jordão ele quis ser batizado por João num gesto penitencial, no nosso batismo é ele mesmo quem nos regenera para a vida eterna da qual cada batizado se torna o arauto neste mundo.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.