No episódio envolvendo a mulher adúltera Jesus com sua autoridade fez fulgir a justiça e a misericórdia, quando com sua sabedoria escapou da cilada armada pelos fariseus e anistiou a pecadora dizendo-lhe: “Vai e doravante não tornes a pecar” (Jo 8 1-11). Escribas e fariseus, demonstrando serem feras espirituais da maldade, apresentam ao divino Redentor uma adúltera e, invocando a lei mosaica O interrogaram: “Mestre Moisés nos ordenou lapidar tais mulheres. Tu o que dizes?”. A armadilha estava bem armada. Com efeito, se Cristo a deixasse entregue à morte, além de ferir sua fama de mestre misericordioso, Ele estaria publicamente afrontando a autoridade romana que reservava para si, naquela época, todas as execuções capitais. Jesus nada respondeu e escrevia algo no chão. Diante da insistência de seus arguidores Ele lançou uma assertiva para eles desorientadora: “Aquele de vós que estiver sem pecado lhe lance por primeiro uma pedra”. Inclinou-se novamente e continuou a escrever no chão. Resposta sábia que pegou seus interlocutores a contrapé, citando também uma sentença do Deuteronômio que preceituava, no caso de uma sentença de morte, que as mãos das testemunhas fossem as primeiras a lançar a pedra sobre o acusado para fazê-lo morrer e, em seguida, a mão de todo o povo (Dt 17, 5-7). Jesus remetia os escribas e fariseus diante de sua condição de pecadores. Não tinham, portanto, direito de punir a adúltera. Ao voltar Jesus a escrever no chão, um a um saiu a começar dos mais velhos, certamente os menos inocentes. Todos os acusadores foram embora e Jesus então proferiu solenemente o perdão divino, mas deixou clara sua recomendação à pecadora: “Vai e doravante não tornes a pecar”. Esta admoestação valia para todos aqueles que se arrependessem de suas faltas, pois, de fato, com Deus não se brinca. Mostrar o arrependimento é antes de tudo e, sobretudo, estar disposto a fugir das ocasiões de pecado, como por exemplo, não entrar em sites pornográficos; não vencer a gula, infringindo o plano alimentar traçado por um competente nutricionista. A pecadora fora salva da morte pela intervenção de Jesus, mas agora era preciso que ela renunciasse á sua paixão, a suas loucuras e se entregasse a uma lealdade contínua. Esta é motora da conversão diante da misericórdia do Senhor. É óbvio que Deus, sendo Pai, está sempre pronto a perdoar, mas ninguém sabe até onde a reincidência nos vícios esgota a clemência divina. Eis aí a maravilha da redenção. Deus não se cansa de perdoar um coração contrito e humilhado, dando numerosas chances de conversão, mesmo porque um arrependimento amargo diante das recaídas no mal firma o bom propósito de emenda. Aos poucos quem cultiva o hábito do arrependimento passa a perceber o quanto é amado por Deus. Ao olhar sempre a Cruz aumenta o desejo de se entregar a Ele apesar da pusilanimidade humana. Se alguém, porém, se sente paralisado pela sua miséria espiritual passa a avançar na compreensão da infinita misericórdia daquele que é amor infinito. A condenação da própria consciência perante o recaimento no pecado se torna um momento de um mergulho no oceano imenso da clemência do Ser Supremo. Quem conserva a fé e humildade tem sempre a possibilidade de recomeçar uma vida nova como ocorreu com a mulher adúltera. É o instante da graça, da verdadeira liberdade que livra o ser humano da escravidão de sua perversidade. Então por mais que alguém se sinta pecador, estando só perante Jesus, descartando todas as invectivas do mal, todos os sistemas da maldade que impregna os meios de comunicação social, pode escutar a salutar palavra de Cristo: “Nem eu te condenarei, vai e doravante não tornes a pecar”. Eis aí a grandeza do dom que Deus faz de sua misericórdia a quem deseja suplantar seus desacertos, pouco importando a enormidade das faltas e das recaídas no mal. Através do profeta Isaías Deus deixou sua mensagem: “Deixai de recordar os acontecimentos antigos e do passado não tenhais cuidado. Eis que vou realizar um mundo novo que desponta. Não o reconheceis?” (Is 43,16-21). Ele quer total confiança para a vivência de um futuro mais santo, menos dependente das insinuações do espirito do mal. São Paulo bem entendeu isto e pôde afirmar aos filipenses que ele fora conquistado por Cristo. Ele era como um atleta que competia sem se prender ao passado. Avançava para frente para a meta a qual Deus lá do alto o chamava. (Fil 3,8-14). Estava inflamado de um amor tenaz e perseverante no bem. É que o caminho do seguidor de Cristo não é medido pelas suas falhas, mas a partir do olhar de Deus sobre cada um, sobre sua pessoa e não sobre seus erros dos quais se dispõe a sinceramente apartar, vencendo-os com a graça divina.