Estamos caminhando e aprofundando a nossa vida batismal neste tempo quaresmal, tendo já percorrido um pouco mais da metade do tempo da quaresma é sempre bom lembrar que neste tempo favorável sempre devemos nos confessar para prepararmos dignamente para a Páscoa do Senhor. Tivemos oportunidade durante os “mutirões” de confissões (tendo até assaltos) e também nas “24 horas para o Senhor” (muito bem celebrado em todos os vicariatos). É mandamento da Igreja confessar-se pela Páscoa do Senhor, por isso em nossas comunidades há o “mutirão” de confissões nas foranias com o atendimento auricular das confissões. Com tudo isso chegamos já com alegria neste tempo de conversão, e por isso o IV Domingo da Quaresma é chamado de Domingo “Laetare”. “Laetare”– alegra-te, em latim, é encontrado na antífona de Entrada do Missal Romano para a Missa deste hoje: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós, que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”. São palavras do Profeta Isaías, no capítulo 66. É muito oportuno este convite à alegria a esta altura da Quaresma.
No meio da Quaresma, na metade do caminho para a celebração da Ressurreição do Senhor, a Igreja nos convida à alegria pela aproximação da Santa Páscoa. Daí hoje a cor rosácea dos paramentos e as flores na igreja. “Alegra-te, Jerusalém!” – Jerusalém é a Igreja, é o Povo santo de Deus, o novo Israel, é cada um de nós. Alegremo-nos, apesar das dificuldades da vida, apesar da consciência dos nossos pecados! Alegremo-nos, porque a misericórdia do Senhor é maior que nossa miséria humana! Aliás a segunda leitura deste domingo irá nos falar muito sobre a misericórdia!
A primeira leitura (Cf. 2Cr 36,14-16.19-23) apresenta um resumo que o Livro das Crônicas traçou da história de Israel: “Todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs. O Senhor Deus dirigia-lhes a palavra por meio de seus mensageiros, porque tinha compaixão do seu povo. Mas, eles zombavam dos enviados de Deus…”. Com estas palavras dramáticas, o Autor sagrado nos explica o motivo do terrível e doloroso exílio da Babilônia: Israel fez pouco de Deus, virou-lhe as costas; por isso mesmo, foi expulso do aconchego do Senhor na Terra que lhe fora prometida, perdeu a liberdade, o Templo, a Cidade Santa, e tornou-se escravo no Exílio de Babilônia. Aqui aparece toda a gravidade do pecado, que provoca a ira de Deus! É sempre essa a consequência do pecado: o exílio do coração, a escravidão da vida!
A Escritura nos ensina que Deus nos ama e por isso nos leva a sério, faz conta de nós! Ora, o pecado, afastando-nos de Deus, nos desfigura e nos faz perder o rumo e o sentido da existência. Pois bem, o Senhor levou, então, seu povo para o exílio para corrigi-lo e fazê-lo voltar de todo o coração para Aquele que é seu único bem, sua verdadeira riqueza – aquele que é o seu Deus! É por misericórdia que ele corrige Israel, por misericórdia que nos corrige: “Pois o Senhor não rejeita para sempre: se ele aflige, ele se compadece, segundo sua grande bondade. Pois não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem” (Cf. Lm 3,31-33). Deus é amor e misericórdia. A leitura do Livro das Crônicas nos mostrou que, uma vez Israel convertido, corrigido, o Senhor fá-lo voltar para a Terra sempre prometida. Sim, efetivamente, “não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem”. O salmo de resposta (136/137) irá cantar essa saudade do amor do Senhor: “Junto aos rios de Babilônia nos sentávamos chorando com saudades de Sião”.
A segunda leitura (Cf. Ef 2,4-10) está fortemente marcado por uma constatação que reforça o raciocínio dos textos anteriores: é pela graça de Deus que somos salvos, pois Deus é rico em misericórdia e nos amou quando estávamos mortos por causa de nossas faltas. Essas constatações são fruto do desígnio divino que nos arranca da morte para vivermos a união com Cristo. Assim, a alegria deste domingo quaresmal configura-se como verdadeira bem-aventurança, pois é resultado do agir de Deus que nos faz participantes da vida do seu Filho pela fé, pois tudo é dom de Deus para que ninguém se orgulhe.
O Evangelho (Cf. Jo 3, 14-21) nos apresenta a conclusão do diálogo de Jesus com Nicodemos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Cf. Jo 3, 14-16). No deserto, os hebreus olhavam a serpente levantada por Moisés como sinal de cura e libertação. Faz lembrar a cruz onde foi levantado o Filho do Homem. Da Cruz de Jesus brota a vida e a salvação para todos. Ao olhar com fé para esse sinal, ficamos curados. Deus enviou Seu Filho para salvar o mundo e para que todos tenham vida e se aproximem da luz para que se manifeste as ações realizadas n’Ele.
Contudo, nesse tempo de conversão, que é a Quaresma, meditemos na Cruz, na alegria da Cruz! É sempre o mesmo júbilo de estar com Cristo: “Somente d’Ele é que cada um de nós pode dizer com plena verdade, juntamente com S. Paulo: “Ele me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). O tempo da Quaresma que conduz ao Tríduo Pascal nos faz compreender que o aproximar-se da Cruz significa também aproximar-se do momento da Redenção, e por isso a Igreja e cada um dos seus filhos se enchem de alegria pascal.