8º aniversário da páscoa do nosso querido e santo Dom Luciano

Dom Luciano: o gosto pela música e o cantar litúrgico

“O canto dos cristãos flui de uma plenitude do Espírito.”
(S. Clemente de Alexandria)

Quando me foi pedido para escrever sobre Dom Luciano e o gosto pelo canto litúrgico, minha primeira reação foi de espanto e surpresa. À primeira vista parecem ambos não ter muito em comum. Aprofundando porém o tema, e revendo no coração a vida, o testemunho, a doação de Dom Luciano, que “em nome de Jesus”, amou e serviu até o fim, como o Divino Mestre e Pastor, fui percebendo, não sem emoção, que ele encarnou como poucos o Evangelho de Jesus Cristo e todo seu mistério pascal  – Vida, Paixão, Morte e Ressurreição –  que celebramos sobretudo na Eucaristia,  mistério de fé no qual o canto litúrgico nos ajuda a mergulhar.
Santo Agostinho foi dos Padres da Igreja um dos que mais profundamente abordaram o tema do canto litúrgico, do louvor perfeito, do cantar com a voz, o coração e a vida, abrangendo o homem total. E é ele que me vem à memória, pois, por feliz coincidência providencial, o povo brasileiro se despediu de Dom Luciano justamente na festa do sábio e grande santo, a 28 de agosto de 2006. Adverte os cristãos o doutor da Igreja:  “Quereis cantar louvor a Deus, e não sabeis com que louvar?… Cantai com a voz, com os lábios, e louvai com a vida e o coração.” Quem mais e melhor do que Dom Luciano cantou com a voz, o coração e a vida? Como o Verbo Encarnado – a Palavra de Deus se fez música e habitou entre nós!… –  nosso amado e santo arcebispo jesuíta foi perito na arte musical, usando como instrumento de vida e salvação a própria voz, sua inteligência e bondade, sua sabedoria e lucidez, seu amor compassivo e  misericordioso, suas palavras e gestos carregados de ternura, enfim seu coração habitando um corpo-santuário pleno do Divino. Por isso sua vida inteira foi canto que fluiu da plenitude do Espírito. Um canto novo capaz de sensibilizar e tocar os corações mais duros, um canto novo de profeta e discípulo, de missionário e apóstolo, que para todos foi de alegria, esperança e salvação eterna. Um canto que só  pode entoar quem é amigo dos pobres, quem é disponível ao menor aceno do alto, quem vive e proclama a justiça, quem é apaixonado por Jesus Cristo e sua Igreja,  quem, totalmente despojado de si mesmo,  faz de sua vida doação e entrega, quem ama  até o fim.  Como Jesus!
Dom Luciano foi qual cítara do Espírito Santo, de que fala Santo Inácio de Antioquia, deixando que o Divino Músico tocasse harmoniosamente cada corda, cada fibra do seu coração,  vivendo em profunda sintonia com a Vontade do Pai, sempre afinado com o coro celeste e o louvor da terra, quer reunido em assembléia litúrgica com seu povo, quer no compromisso solidário com a justiça do Reino. Sua vida foi uma contínua liturgia de louvor a Deus, já que fez da liturgia  vida entregue pelos seus. Como Jesus!
Quantas liturgias terá celebrado Dom Luciano com as comunidades cristãs, fortalecendo sua fé, animando sua luta, transformando morte em ressurreição, “eucaristizando” a vida do povo, sobretudo os preferidos do Senhor!… E como liturgia é festa e serviço, o canto está sempre presente, alegrando, consolando, unindo, elevando vozes e corações no mesmo louvor a Deus. O canto nos sustenta na luta, torna a vida mais leve, o coração mais forte,  a oração mais suave, a liturgia mais solene. Afinal, ensaiamos na terra o cantar do céu, quando a liturgia será perfeita e a Páscoa, plena! Lá, com Jesus!
Nosso bendito, santo Luciano, por 75 anos peregrino em canto a caminho da Pátria, de ressurreição em ressurreição, de páscoa em páscoa, está agora plenamente ressuscitado no Senhor,   celebrando a eterna liturgia na Casa do Pai. Com a multidão dos santos e anjos, entoa diante do trono do Cordeiro Pascal o  Cântico Novo dos resgatados, o Amém definitivo, o Aleluia pascal, ecoando eternidade adentro… Lugar de eterna alegria, de festa sempiterna, de sinfonia magnífica, da mais doce e suave melodia!… Em Deus!
Sim, amado e bondoso Dom Luciano, “Deus é bom!”. Todos nós experimentamos esta infinita bondade de Deus encarnada na sua pessoa. Por isso, da Jerusalém Celeste, onde a divina e inebriante  melodia  plenifica o seu coração, peça ao Pai por nós, para que, vivendo na terra a servir o irmão “em nome de Jesus”,  caminhemos cantando, cantemos caminhando rumo ao definitivo Amém, ao eterno  Aleluia!

Fonte: Ir. Miria T. Kolling –
Local: Belém, SP