UMA SEMENTE FAZ O PÃO

                Júlio Verne, em seu livro A Ilha Misteriosa (1875), contou-nos a aventura de cientistas americanos que, em fuga com um balão, caíram acidentalmente numa ilha perdida em alto mar. Com seus conhecimentos científicos e muita criatividade, conseguiram sobreviver, mas, do pouco conforto resgatado, o que mais desejavam em seus cardápios extremamente selvagens era um simples e saboroso pão. Um pãozinho recém saído do forno. Mas onde encontrar farinha de trigo para fabricá-lo?

                Eis que um belo dia um dos sobreviventes encontra, no forro do próprio casaco, um belo grão de trigo. Um grão de trigo! Aquela semente, aquela única semente, tinha um poder multiplicador extraordinário, se semeada com cuidados.

    “_ Sabe quantas espigas um grão de trigo é capaz de produzir?

    _ Uma, suponho! Respondeu o marujo admirado com a pergunta.

    _ Dez, Pencroff. E sabe quantas sementes possui uma espiga?

    _ Aí já é pedir muito.

    _ Em média, oitenta – afirmou Cyrus Smith – Logo, se plantarmos essa semente, na primeira safra colheremos oitocentas, as quais, na segunda, produzirão seiscentas e quarenta mil, na terceira, quinhentos e doze milhões e, na quarta, mais de quatrocentos bilhões. Tal é a proporção”.

     Assim a semearam e montaram guarda ao redor do solo semeado. Veio a primeira colheita, a segunda e mais rápido do que imaginavam conseguiram sementes suficientes para uma tigela de farinha e o primeiro e saboroso pão. O pão dos anjos – exclamavam!

    Não pude deixar de resgatar essa história – fictícia, é verdade! – mas extremamente ilustrativa para entendermos racionalmente o ensinamento da Parábola da semente. A pedagogia de Cristo, por si, nos fala tudo, mas foge-nos muitas vezes, a compreensão de tão singela mensagem: “O reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra” (Mc 4, 26). Acontece que a ciência dos homens caiu de paraquedas numa ilha de mistérios, em terrenos desconhecidos e assustadores. A sobrevivência depende do que encontramos oculto no velho casaco de nossas memórias passadas, na sabedoria daqueles que ainda enxergam, numa pequenina semente de esperança, o gáudio, a alegria de um banquete futuro. “Porque a terra por si mesma, produz, primeiramente, o colmo, depois a espiga, e por último o trigo grado na espiga” (Mc 4,28). Porque é preciso dar tempo à ação miraculosa de Deus em nossas vidas. Ele que compara o seu Reino a um simples grão, uma pequenina e misteriosa semente – tal qual aquela da mostarda – que há de se tornar árvore altaneira, planta vistosa, frutuosa, como tantas outras semeadas no Jardim das nossas vidas.

    Assim o Reino acontece entre nós. Mesmo que nos falte a visão plena de suas graças, o sabor maravilhoso de um alimento simples, mas saudável, tal qual o Pão Nosso de Cada Dia ou, ao menos, o Pão Vivo que desceu dos céus e nos aponta a verdadeira vida, aquela que esperamos alcançar um dia. Esse é o serviço que nos foi confiado: continuar semeando a esperança. Mesmo em tempos tão difíceis!

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