Uma cadeira de pedras

              Quem lê a frase acima por passant, à revelia de um momento como muitos na vida, em que se ouve, se vê ou mesmo se fala uma verdade sem dela tomarmos posse, eis a quantas nos leva a preguiça intelectual. O que seria uma cadeira de pedras? Para muitos mais um objeto bucólico, situado em cenário paradisíaco, a nos oferecer um momento de contemplação ou coisa assim. Para outros, nada mais que um trono desconfortável, por certo vazio, que circunstâncias naturais ou mesmo propositais, construíram ao acaso. Para mim, a mais bela, poética e realisticamente profética imagem descritiva que Cristo fez sobre sua Igreja: a cátedra de Pedro!

    Poucos atentam sobre a riqueza que essa afirmativa nos oferece; a Igreja é uma cátedra, um trono… Neste se assenta uma autoridade divinamente constituída, lembrando-nos que toda autoridade vem de Deus. Dessa “cadeira” emanam os ensinamentos deixados pelo Mestre maior, aquele que elegeu e instituiu sobre seu eleito o poder de “ligar e desligar”, abençoar ou não, delegar, defender suas leis e diretrizes, promulgar normas, conservar a luz da verdade, a unidade; “combater” o bom combate, “preservar” a fé. Tal missão teria mesmo que ser despojada das riquezas e ilusões dum poder meramente humano, que quase sempre se assenta sobre as bases das riquezas temporais. Por isso a imagem da pedra, da solidez indiferente aos poderes de dominação, porém rigidamente constituída sobre um alicerce imutável. Por isso Pedro tornou-se sinônimo de pedra, o novo fundamento da doutrina que Cristo nos deixou. O trono de Cristo, plantado sobre as rochas do Calvário, teria paredes sólidas e indestrutíveis a partir da missão apostólica de Pedro e seus companheiros. O envio pentecostal legitimou a missão da Igreja e deu início à edificação do templo espiritual, a pedra viva da qual nos falou Pedro.

    ‘         Cristo foi a base, a pedra angular dessa instituição. Mas Pedro melhor traduziu essa imagem ao nos desafiar: “Achegai-vos a ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus” (1Ped 2,4). Esse desafio foi a oficialização da autoridade apostólica, liderada por Pedro e oficializada publicamente por Cristo quando bem definiu seu caráter eclesial: “Tu és pedra”. Aqui nasceu a autoridade da Igreja como fundamento básico de uma instituição divina “Sobre esta pedra edificarei minha igreja”. Observemos o singular da afirmativa, uma única pedra, “escolhida e preciosa aos olhos de Deus”. Observemos, porém, a multiplicidade de “outras pedras”, que Cristo não desprezou, mas convidou à unidade, ao abrigo do novo rebanho, aqueles “de outros apriscos” agora subordinados ao pastoreio de Pedro: “Apascenta, apascenta, apascenta o meu rebanho!”. Então a dureza do coração de Pedro acabou proferindo o primeiro desafio ecumênico da missão da Igreja: “Quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual” (1 Ped 5…)

    O fundamento cristão tinha a visão da unidade, da solidez de suas paredes! Realmente, à luz da autoridade de Pedro nasceu a Igreja, apesar dos antagonismos que a história da vida cristã permite constatar nos dias de hoje. Como entender tamanhas e tacanhas divisões no seio da Igreja de Cristo? Era essa a “pedra de tropeço” (Sl 117), a “pedra angular que os construtores rejeitaram (Is 28,16), uma “pedra de escândalo” (Is 8,14) que dificulta nossa compreensão do trono de Cristo entre nós, sua Igreja. Queiramos ou não, somos um povo único e da cátedra da nossa fé ainda se pode ouvir “Vós, porém, sois uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus… (1 Ped 2,9). Então está dito: Não importa qual seja a catedral da sua fé, o fundamental é que esta respeite e valorize a cátedra de Pedro e sua autoridade apostólica. Sem esses princípios deturpamos a doutrina.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here