No dia da festa da Apresentação do Senhor no Templo, já chamada de festa da Purificação de Maria, por isso: Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Candelária… e no Oriente, Festa do Hypapante (Encontro) a Igreja celebra a Jornada da Vida Consagrada, que foi instituída por São João Paulo II em 1997.
Existe então um duplo mistério celebrado nesta ocasião, por isso chama-se festa da Hypapante no Oriente, em primeiro lugar porque a profetisa Ana e o profeta Simeão encontraram Nossa Senhora quando ela foi ao templo para oferecer seu Filho. A vinda do Senhor ao templo significa sua vinda à Igreja e à mente de cada alma fiel, que é um templo espiritual. O Senhor profetizou essa vinda por meio do profeta Malaquias: “Vou mandar o meu mensageiro para preparar o meu caminho” (3,1-4). No segundo aspecto, percebemos a relação àquela que deu à luz, por isso a festa também é chamada de Purificação porque a Santíssima Virgem, embora não tivesse necessidade de purificação, e não estivesse sujeita à lei da purificação, quis mesmo assim cumprir o preceito da Lei (cf. Lv 12,1-8).
Os que vivem na Vida Consagrada, apresentam-se, então, no memorial deste mistério da festa de hoje, para que a Igreja confirme a vocação que receberam e vivam o carisma próprio que Deus confiou, pois mesmo que tenha surgido no contexto de uma Igreja particular, “como dom para a Igreja, não é uma realidade isolada ou marginal, mas pertence-lhe intimamente; está no próprio seio da Igreja como elemento decisivo da sua missão” (Carta aos consagrados, III, 5).
Neste ano da graça do Senhor de 2023, esta 27ª Jornada teve como tema: Irmãs e irmãos para a missão, tendo já nos recordado o Papa Francisco de que “a missão é o oxigênio da vida cristã: tonifica-a e purifica-a” (Audiência geral, 11 de janeiro de 2023). Essa expressão é um convite, ou melhor ainda, um verdadeiro mandato para viver a missão à maneira de Deus como vida consagrada, precisamos do sopro do Espírito, que oxigena a nossa consagração, que alarga a nossa tenda, que não permite que o desejo de sair e convidar a outros para proclamar o Evangelho se desvaneça ou ofusque, que reacende o fogo missionário em nós. Ele é o verdadeiro protagonista da missão e ao mesmo tempo aquele que mantém o vigor da nossa fé para que ela não esmoreça.
A celebração desta Jornada nos une, de fato, a todas as comunidades de vida consagrada presentes no mundo, peregrinas, viajoras, transeuntes na mesma terra que nos sustenta e na qual vivemos esta história que nos interpela com os seus desafios. A missão leva-nos à plenitude da nossa vocação cristã, dá nos a oportunidade de retornar ao estilo de Deus que “é proximidade, compaixão e ternura” que se expressa em palavras, em presença, em laços de amizade. Não podemos nos separar da vida; é necessário que alguém cuide “das fragilidades e pobrezas do nosso tempo, curando as feridas e sarando os corações dilacerados com o bálsamo de Deus” (Papa Francisco, Início do percurso sinodal, 9 de outubro de 2021). Ele deixou gravada uma mensagem que foi veiculada no dia 2 de fevereiro durante a missa presidade pelo prefeito do Dicastério D. João Braz de Aviz. Aqui nós nos encontramos na Paróquia N. Sra. De Fátima, Rainha de Todos os Santos onde representantes das várias congregações estavam presentes na renovação da consagração dos irmãos e irmãs da Canção Nova, no primeiro momento sem a presença física do fundador, Pe. Jonas Abib.
Deus continua a chamar-nos a consagrar as nossas vidas nas diversas expressões que se complementam e enriquecem mutuamente, e que são acima de tudo um dom para a Igreja. Os Institutos de Vida Consagrada (religiosos, monásticos, contemplativos, seculares, “novos institutos”), a Ordo virginum, os eremitas e as Sociedades de Vida Apostólica expressam o conjunto da vida consagrada que traduz o Evangelho numa forma particular de vida, que sabe ler os sinais dos tempos com os olhos da fé, e que procura responder com fidelidade dinâmica (cf. VC, n. 37) às necessidades da Igreja e do mundo.
As Irmãs e Irmãos consagrados, chamados para a missão, sempre assumiram, antes e também nos últimos anos, os mesmos sentimentos de Jesus, que os levaram a dar a vida pelos irmãos. Neste dia celebramos o seu sangue derramado em união com Cristo, o que é mais eloquente do que qualquer discurso sobre missão. Junto deles está também o sangue derramado pelas vítimas da guerra, da violência, da fome e da injustiça.
O tema, desta Jornada, é um despertar também, como Vida Consagrada, a colocar-nos, como recomenda o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada algumas questões: invocamos o Espírito com força e frequência e pedimos-lhe que reacenda no nosso coração o fogo missionário, o zelo apostólico, a paixão por Cristo e pela humanidade? Sentimo-nos impelidos a “falar do que vimos e ouvimos” (1Jo 1,3)? Será que sentimos um anseio por Cristo? Será que sofremos e arriscamos, em sintonia com o seu coração pastoral? Estamos dispostos a “alargar a nossa tenda, a caminhar juntos? E acima de tudo, perguntemo-nos: é a Pessoa de Jesus, os seus sentimentos, a sua compaixão, que abrasa os nossos corações?
Neste dia rezamos com e por todos que fazem parte da Vida Consagrada na Igreja, para que o testemunho que são chamados a dar, suscite no coração de muitos este desejo de ir ao encontro de Cristo, o Senhor, único salvador de toda a humanidade, doando-se, fazendo o caminho juntos na sinodalidade!