Vocação à santidade

    No Brasil, depois de termos celebrado o dia de todos os fiéis defuntos, neste 31º domingo do tempo comum, transferido por resolução da Assembleia Geral da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – celebramos neste domingo seguinte ao dia 1º de novembro, a Solenidade de Todos os Santos. Com a celebração desta soleniade, o nosso coração e o nosso pensamento se voltam para muitos homens e mulheres que souberam viver uma profunda unidade com Deus.  É um dia em que recordamos não apenas os santos canonizados, muitos deles já têm a sua festa própria ao longo do ano, mas, sobretudo, os santos anônimos e desconhecidos. Abrange todos aqueles que foram justificados pela fé em Cristo. Recordamos aqueles que vivem para sempre diante de Deus e que nos recordam, além de nossa vocação universal (santidade), também o nosso fim último.

    O Mestre chama todos à santidade sem distinção de idade, profissão, raça ou condição social. Não há seguidores de Cristo sem vocação cristã, sem uma chamada pessoal à santidade. Deus nos escolheu para sermos santos e imaculados na sua presença, dirá São Paulo aos primeiros cristãos de Éfeso; e para conseguirmos esta meta, é necessário que correspondamos em acolher o dom de Deus e nos empenhemos num esforço que se prolongará por todos os nossos dias aqui na terra: o justo justifique-se mais e o santo mais e mais se santifique.

    Esta doutrina do chamado universal à santidade, nos diz o Concílio Ecumênico Vaticano II: “todos os cristãos, seja qual for sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor, cada um no seu caminho, à perfeição da santidade pela qual é perfeito o próprio Pai” (Lumen Gentium, 11). Jesus convida todos os cristãos, em especial neste ano do laicato, que estão absorvidos nas suas ocupações profissionais a encontrá-lo precisamente nessas ocupações, realizando-as com perfeição humana e, ao mesmo tempo, com sentido sobrenatural: oferecendo-as a Deus, vivendo nelas a caridade e o espírito de sacrifício, elevando no meio delas o coração a Deus.

    A santidade-amor crescente por Deus e pelos outros pode e deve ser vivida através das coisas comuns de todos os dias, que se repetem muitas vezes numa aparente monotonia. “Para amar a Deus e servi-lo, não é necessário fazer coisas extraordinárias, e sim viver extraordinariamente o dia a dia. Cristo pede a todos os homens sem exceção que sejam perfeitos como seu Pai celestial é perfeito (Mt 5, 48). Para a maioria das pessoas, ser santo significa santificar o seu próprio trabalho, santificar-se no trabalho e santificar os outros com o trabalho, e assim encontrar a Deus no caminho da vida.

    Como leitura evangélica neste domingo solene, temos o texto das bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12), visando ressaltar que a sua vivência total é o melhor caminho para se chegar à santidade. A prática das bem-aventuranças é a marca e o selo dos santos descrita por Jesus, para sublinhar a dinâmica da santidade.

    Todos os santos sempre foram e são contemporaneamente, embora em medida diversa, pobres de espírito, mansos, aflitos, famintos e sequiosos de justiça, misericordiosos, puros de coração, artífices de paz e perseguidos pela causa do Evangelho. E assim acontece também conosco. Além disso, na base desta página evangélica é evidente que a bem-aventurança cristã, como sinônimo de santidade, não está separada de um eventual sofrimento ou pelo menos de dificuldades.

    Santos são os aflitos, que são impotentes diante de situações dramáticas, e não pretendem ter solução para tudo.  Há muitos que não entendem a razão dos sofrimentos e se revoltam contra Deus.  Jesus diz que os aflitos são felizes.  De fato, se souberem aceitar com fé ativa as provas diárias, se souberem sofrer com ânimo as misérias e dificuldades da vida, a recompensa será a consolação de Deus.

    Santos são os famintos e sedentos de justiça, que não pactuam com a maldade, nem se deixam levar pela lógica da dominação.  Deus mesmo haverá de realizar seu ideal e fazê-los contemplar o reino da justiça. Trata-se daquela justiça interior que torna o homem agradável a Deus, quando se esforça por cumprir sempre a vontade de Deus. O primeiro passo para conseguir a santidade, além de acolher o dom, é desejá-la.  Por isso, Jesus diz que são felizes os que têm fome e sede de justiça, isto é, aqueles que realmente desejam ser santos.  Mas é necessário que este desejo seja eficaz.  Isto é, que empreguemos os meios necessários para consegui-lo.

    A santidade é acessível a todos porque Deus quer que todos os homens e mulheres sejam santos, isto é, participem da sua Vida e do seu Amor. O Pai deseja que, através da ação do Espírito Santo em nós, nos pareçamos cada vez mais com o seu Filho Jesus Cristo. Em resumo, a santidade é o desenvolvimento da nossa filiação divina, em última análise, do nosso batismo: desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é” (1 Jo 3,2).

    Caminhemos para a santidade, para a conversão contínua! Ser santo é possível e necessário na via do caminho cristão. Ser santo é ser o bom odor do Cristo Ressuscitado penetrando em todos os ambientes da sociedade e da Igreja. A santidade deve ser o cotidiano. Santificamos quando somos canais das bem-aventuranças para os irmãos. Ser santo é ser bendito e bendito é aquele que leva a bênção de Deus para os seus irmãos. Espalhemos a santidade da Trindade para que o mundo possa ser transformado e renovado!

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