É possível ser fiel

    Se considerarmos aquela torcida esportiva fiel até no nome, se considerarmos a fidelidade partidária capaz de ir às últimas consequências em defesa de seus ideais políticos, se considerarmos a preferência nacional de alguns inveterados apreciadores de determinadas marcas ou os defensores irredutíveis de certos conceitos, filosofias ou mesmo crenças, sim, é possível ser fiel… fiel até morrer. Mas se a questão for fidelidade conjugal? Bem, essa é outra história, dirão muitos!

    Sobre esse assunto refletiu o Papa Francisco em sua habitual audiência das quarta-feira. Exatamente num dia de bruxas soltas (31.10), eis que o sumo pontífice vem nos lembrar a existência de um sexto mandamento, que fala do adultério e suas consequências, lembrando-nos também que tudo aquilo que fere os ensinamentos da santa mãe Igreja possui atitudes de infidelidade, de adultério tão odioso quanto o mais vil, aquele que se pratica contra a própria vida conjugal. Começa por nos recordar que é a Igreja a esposa de Cristo. Por consequência, esposa da humanidade. Por consequência, tudo o que se pratica contra seus ensinamentos, fere nosso amor ao Cristo e à sua Igreja. É um adultério consentido.

    Mas, apenas de passagem, vale lembrar que o modismo desse tal halloween  ou dia das bruxas, é a celebração mais descarada e comprometedora que se faz em oposição ao dia de ação de graças, comemorado na quarta quinta-feira do mês de novembro. O primeiro dá início a mais um ano satânico. Seu inicio às três horas da madrugada é apenas um contraponto alusivo às três horas da tarde, quando Cristo expirou na cruz. Tudo nesse dia é um ato de glorificação satânica, que a ingenuidade popular e a infantilidade da fé de muitos não valorizam, ou não atinam para suas consequências. Mais um adultério contra nossa fé. Já a segunda celebração nos recorda a fidelidade divina em tudo.

    A falta de amadurecimento nos permite consentir em atos de infidelidade. Tanto a Deus quanto ao cônjuge. Falar em fidelidade conjugal nos dias de hoje virou conversa de retrógados, de bitolados, de beatos, de tudo o mais, menos de cristão convicto. No pensar social, aquele que assim ainda procede não evoluiu para as “virtudes” da modernidade sem peias, mas voltada exclusivamente para o bem-estar do indivíduo. Para estes, casamento é negócio circunstancial, empreendimento que visa antes o patrimônio, o conluio social a testemunhar status e gerenciamento sócio econômico ou coisa assim. Poucos ainda entendem um pacto nupcial como juras de fidelidade. “Para se casar, não basta celebrar o matrimônio”, recordou o Papa. “É preciso fazer um caminho, do eu até o nós. De pensar sozinho a pensar a dois. De viver sozinho, a viver a dois”.

    Mesmo em sua forma negativa, o sexto mandamento não é somente mais uma norma proibitiva. Não cometer adultério vai além de um conceito normativo da fé cristã, pois exige uma visão ampla da fidelidade, que passa também pela cruz. Ora, desta não falaremos agora. Mas do amor capaz de vencer barreiras, limites, incompreensões e preconceitos, ah, deste sim. Quão belo e profícuo, formoso em todas as nuances, lirismo e padrões comportamentais. Quando verdadeiro, suprime leis e normas, para viver unicamente sua intensidade, sua originalidade. Dele se exige pouco, quase nada, nada mesmo, pois por si já é um estágio de fidelidade plena. Nele não cabem ações contraditórias, celebrações demoníacas, atitudes adúlteras ou contrárias à harmonia de uma relação autêntica. Então é isso: fidelidade existe sim. É possível vivenciá-la é praticá-la sem medo do ridículo, onde o verdadeiro amor se cultiva diariamente, sem interrupções, sem preconceitos de qualquer natureza. Pois que Cristo amou tanto sua Igreja (sua esposa) que deu sua vida por ela.

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