As três leituras do quarto domingo do Tempo Comum, do ano litúrgico chamado Ano A, têm uma mensagem semelhante: o Evangelho não é para os poderosos e orgulhosos, mas para os humildes e aqueles que se consideram pequenos. É uma mensagem que contradiz aquilo que vivemos em nossa sociedade. Desta recebemos exatamente uma mensagem oposta: apenas sendo fortes, poderemos sobreviver. A história parece dar razão a essa maneira de pensar. Apenas os poderosos parecem ter passado para a história. Os fracos foram apagados. Simplesmente não existem. Os meios de comunicação não falam deles.
Mas, de fato, os poderosos vivem? As riquezas e as armas nos defendem de todas as ameaças? Precisamente, a história recente nos demonstra o contrário. Descobrimos que até mesmo os países mais poderosos e ricos são vulneráveis e que o nosso poder não nos livra do perigo, ao contrário, nos expõe ainda mais. Nossa desenvolvida sociedade, tão poderosa, de certa forma, a mais poderosa da história, atraiu para si a inveja e o ódio de muitos povos. E a procura obsessiva por segurança não conseguiu nos livrar da ameaça.
Jesus nos propõe outra forma de viver. Quando proclama as bem-aventuranças, Jesus realiza a mais radical revolução de nossa história. Tão radical que nos custa vitalmente aceitá-la. Tão radical que dois mil anos de história do cristianismo não conseguiram levar à prática essa mensagem. Pois Jesus nos diz que os bem-aventurados, os felizes, aqueles que vivem bem – no melhor sentido da palavra – são os pobres, aqueles que sofrem e sentem fome, os simples, os que continuam acreditando na justiça e na misericórdia.
São Paulo(1Cor 1,26-31) acentua esta mensagem convidando-nos a olhar para a nossa assembléia, nossa comunidade. Ela não é formada por poderosos nem aristocratas. Independentemente do dinheiro que possuam alguns de nós, por sob as aparências, somos pessoas normais, com sentimentos, dores e pobrezas. Somos vulneráveis, ainda que algumas vezes pretendamos parecer fortes e inalcançáveis.
Então, onde está o nosso poder? Precisamente nessa fraqueza reconhecida e aceita, pois apenas daí pode nascer a verdadeira solidariedade, o amor comunitário, a caridade fraterna que nos proporcionará a verdadeira segurança. Quando formos capazes de amar, de sermos misericordiosos de maneira ilimitada, de retirarmos as couraças nas quais nos envolvemos, só aí, então, viveremos verdadeiramente no Reino dos Céus.