VINDE ESPÍRITO SANTO

    Chegamos na conclusão do tempo pascal! Depois deste tempo de alegria e vida nova em que celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, vivemos a grande vigília e a Festa Solene de Pentecostes. A solenidade de Pentecostes, ao mesmo tempo que conclui um importante tempo que vivemos, é também uma porta que se abre para tantas celebrações importantes neste mês de maio: segunda-feira celebramos a memória de Maria, Mãe da Igreja instituído pelo Papa Francisco e, neste ano, nesse mesmo dia comemoramos N. Sra. Auxiliadora e teremos também o dia de oração pela Igreja da China, instituído pelo papa Bento XVI.

    Em Pentecostes celebramos o evento do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos reunidos com Maria no Cenáculo e assim, a Igreja iniciou sua missão pública. Ao apagar-se o círio pascal no final da última celebração deste domingo, recordaremos que essa luz nos foi entregue para que sejamos aqueles que a levam pelo testemunho e pela palavra vida afora, neste mundo que anda dilacerado por contínuas discórdias.

    O dom do Espírito é fruto da Páscoa de Cristo. Ele nos foi dado no nosso Batismo para continuarmos a missão de Jesus como animados e ardorosos anunciadores do Evangelho. Assim como a festa judaica da Lei se celebra 50 dias após a Páscoa, o Espírito de amor é a nova lei, a Lei do cristão, pois “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). A Liturgia desta celebração vai nos apresentando vários aspectos da grandeza do mistério que estamos celebrando.

    A primeira leitura (At 2,1-11) dos Atos dos Apóstolos, livro que também é conhecido como o Evangelho do Espírito Santo, devido ao protagonismo dado à ação deste ao longo de todo o livro. A passagem descreve para nós exatamente o momento da efusão do Espírito Santo sobre a comunidade que estava reunida no dia de Pentecostes.

    O relato é composto de detalhes específicos, apresentando imagens que fazem recordar momentos importantes no Antigo Testamento, como o vento impetuoso, as línguas de fogo como simbolismo da presença de Deus, a diversidade reunida entre tantos. O barulho, como o vento e o fogo (v. 2-3), evocam precisamente a manifestação de Deus no monte Sinai quando Deus, dando-lhes a lei, constituiu Israel como seu povo.  Agora, com as mesmas características, ele se manifesta ao seu novo povo, a Igreja: o vento significa a novidade transcendente de sua ação na história dos homens; o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo.

    Este último detalhe chama a atenção: o grande sinal da comunhão e da unidade manifesto no dia de Pentecostes. A diversidade de povos apresentada no relato que conseguia escutar o anúncio da Palavra de Deus em sua própria língua nos faz recordar o episódio da Torre de Babel, mas no seu sentido inverso: se em Babel temos a desunião pela tentativa de ser como Deus, Pentecostes recupera o que foi feito lá e traz a unidade entre os homens. O Espírito Santo nos faz falar a língua que é acessível a todos: a linguagem do Amor de Deus. Faz com que a universalidade da Igreja chegue a todos os cantos, aos confins do mundo. A linguagem do amor deve ser a linguagem com que o Cristão se comunica em meio ao mundo.

    O salmo de resposta, o salmo 103, é conhecido como um salmo de louvor ao Senhor pelas maravilhas realizadas na criação e pela ordem posta no mundo, que pode ser descoberta por todos os homens pela luz natural da razão. Este salmo é proclamado na Liturgia de hoje pois, com a vinda do Espírito Santo, temos a celebração da Terceira Pessoa da Trindade, com a que culmina a nova criação realizada a Encarnação de Cristo.

    A segunda leitura (1Cor 12,3b-7.12-13), vem mostrando o protagonismo do Espírito Santo na vida de fé, na vida cristã. Na luta entre carne e espírito que existe dentro de todo homem, a ação do Espírito nos faz viver a vida da Graça, caminho que leva à vida eterna. Nós trazemos o tesouro da fé em vasos de barro, imagem que simboliza nossa fraqueza, nossas limitações e nossa inconsistência essencial. É pela ação do Espírito que podemos viver de fé. Alguns tentaram mostrar que a caminhada da fé é fruto somente da luta e do esforço de cada dia. Na verdade, nossa verdadeira luta é a de estar cada dia mais dócil à ação da Graça em nós e a ser mais humildes em reconhecer que sem Deus nada somos e podemos.

    Ao mesmo tempo, a leitura deixa um aspecto muito importante para considerarmos a realidade da Igreja: a unidade na diversidade que é produzida pela ação do Espírito. A Igreja não é uma instituição como outras que prezam e buscam manter a uniformidade, onde todos agem da mesma forma. Na Igreja, a ação do Espírito traz o dom da unidade: unidade no Senhorio de Cristo, unidade na fé, unidade no batismo, Unidade na proclamação de um só Deus. Essa unidade é vivida em meio a diversidade de ritos, de liturgias, de pastorais, de vocações, de ministérios, de ordens religiosas, de espiritualidades etc. Esta unidade na diversidade é um dos grandes sinais da santidade da Igreja: enquanto a existência humana é marcada pela intolerância e rejeição ao diferente, a realidade da fé realiza no mundo a unidade na diversidade, assim como é a realidade de Deus: um só Deus em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.

    No Evangelho (Jo 20,19-23) teremos o relato do momento em que Jesus, aparecendo aos apóstolos reunidos sopra sobre eles e entrega o seu Espírito. O contexto do relato é a primeira aparição do Senhor após a ressurreição, segundo nos conta João. Jesus aparece de forma gloriosa e infunde seu espírito sobre os que ali estavam reunidos.

    Os apóstolos estão reunidos com medo, tendo de pensar em como refazer as suas vidas, pois tinham deixado tudo para seguir o Senhor, além de terem suas esperanças questionadas pelos eventos acontecidos anteriormente nos dias da Paixão e Morte do Senhor. Em meio a este contexto, aparece a presença do Senhor Ressuscitado que primeiramente alivia seus corações concedendo a eles o dom da paz: Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Após conceder o dom da paz, o Senhor realiza o envio, daqueles que de discípulos, vão se tornar Apóstolos, palavra que significa enviados, enviados a ser presença e ação de Cristo em meio ao mundo: Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.

    Chegamos então ao momento central do relato, quando Cristo sobre  os discípulos o seu Espírito: E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo. O Espírito Santo vem para restaurar as esperanças dos que ali se encontravam; a ação do Espírito reconstrói o homem que está morto pro causa do pecado e coloca também essa missão nas mãos dos homens, capacitando aqueles que agora são os Apóstolos de Cristo, e vem para transformar as vidas deles, concedendo dons, carismas, fazendo-lhes capazes de continuar em meio ao mundo a missão de Cristo, que passou pelo meio dos homens fazendo o bem.

    As maravilhas realizadas pela ação do Espírito e que estão narradas nas leituras proclamadas, são as que pedimos que sejam renovadas na vida da Igreja na solenidade de hoje. O Espírito quer também hoje nos restaurar, capacitar e transformar: restaurar nossos ânimos, nossos cansaços, nossas fraquezas e nosso caminhar rotineiro. O Senhor que nos envia ao meio do mundo, para que ali sejamos sal da terra e luz, não somente nos envia, mas nos sustenta na missão, nos dando sabedoria, coragem e humildade para o serviço. Este mesmo Espírito nos transforma em homens novos, nos traz a uma vida nova, conforme celebramos intensamente neste tempo da Páscoa.

    Neste mês de Maio, não deixemos de pedir a proteção de Maria, para que ela nos faça dóceis à ação do Espírito, para que Ele gere também Cristo em nós. Como nos pede o Papa rezemos pelo fim da pandemia. Rezemos também pela paz em nossa cidade e no mundo. Rezemos pela recuperação dos doentes, pelo consolo dos aflitos e amparo dos desesperados. Que assim como Maria foi apressadamente socorrer Isabel em suas necessidades próprias da gravidez, que possamos estar sempre de prontidão para estender a mão a quem o necessita especialmente fazendo nossas coletas de alimentos para os pobres. É a Igreja que caminha na história movida pelo Espírito Santo!

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