Ver para crer

    Os que vivem em situação de pobreza, de opressão e injustiça são aqueles que sabem apreciar de fato a libertação. Nisto se parecem com o cego que nos mostra o Evangelho do trigésimo domingo do Tempo Comum. Não é um cego como os demais. Há uma especial diferença: é consciente de sua própria cegueira. Por isso, é capaz de gritar quando Jesus passa e pedir-lhe que tenha compaixão dele. Talvez pudéssemos imaginar que este não era um cego de nascença, como outro que aparece nos Evangelhos. Sabia o que era ver as coisas, o mundo e as pessoas. Quando ficou cego, sabia o que estava perdendo. Por isso o seu sofrimento era maior. Ou simplesmente seus familiares lhe teriam falado o que era ver as coisas e os rostos das pessoas, os entardeceres e os amanheceres com todas as suas cores. Por isso grita quando Jesus passa. E quanto mais lhe dizem para se calar, mais grita. Era a sua oportunidade. Com seu grito, chama a atenção para sua limitação e sua pobreza. Mas o grito não é educado. Incomoda. Impede que os discípulos ouçam a voz de Jesus. Por isso pedem que ele se cale.
    Na nossa sociedade, às vezes, também é pouco educado revelar as nossas pobrezas e nossas limitações. Mas os pobres e os oprimidos, aqueles que sofrem a injustiça e a dor, estão sempre aí. Por mais que os retiremos dos nossos bairros, ou olhemos para outro lado quando se aproximam de nós. Os jovens delinqüentes, por exemplo, vivem no meio da violência. Fazem barulho e nos tiram o sossego. Entretanto, todas essas coisas que tanto nos incomodam – e a violência que elas provocam em nossos bairros – não são mais que uma forma de gritar sua miséria e sua necessidade de carinho. No fundo, são apenas crianças necessitadas de uma família s apóie, que as defenda e as faça se sentir seguras.
    Jesus devolve a visão ao cego. Mas o milagre físico de lhe devolver a visão nos fala de outro milagre mais profundo. Parece que o cego começa a enxergar não apenas com os olhos, mas também com o coração. Diz o Evangelho que, “no momento em que recuperou a visão, pôs-se a seguir Jesus pelo caminho”. Talvez haja poucos cegos no sentido físico, entre nós. No entanto, é possível que haja muitos cegos de coração que não sabem ver onde está o verdadeiro caminho. Esse é o milagre que temos de pedir a Jesus com todas as nossas forças. Que nos cure o coração para que possamos acreditar verdadeiramente nele e enxergar o seu caminho, para que os gritos de ajuda dos que estão ao nosso lado não nos incomodem, mas que sejam chamados a viver a fraternidade tal como Jesus desejava. Ele nos dará a força e a graça de que necessitamos.

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