A mensagem do Papa Francisco para o 55º. Dia Mundial das Comunicações a ser celebrado no próximo domingo dia, dia 16, é um convite para abrir os olhos à realidade humana neste tempo de confinamento.
Ir e ver tudo em sua volta. Mas pode-se também “ficar em casa”; não ir, nem ver… e é nesta dicotomia social que está inserido aquele que comunica algo que deve ser sempre novo. O que se percebe é uma disputa ideológica de forças e poderes para vender uma ideia que nem sempre atende as expectativas humanas. Há os que defendem ardentemente, neste tempo de pandemia, que se deve ficar preso em casa. Há os que defendem com a mesma força que o mundo não pode parar. Em diferentes partes do mundo crescem apelas por um lockdown a fim de conter a pandemia. Outros revidam diante desta proposta afirmando o colapso da economia caso houver fechamento. E é neste contexto que se encontra quem deve IR, VER e COMUNICAR.
Até diante do esvaziamento das ruas, avenidas, comércios, estabelecimentos nasce a curiosidade para pautar a informação que precisa ser vendida. É como tentar VER do melhor ângulo a real situação de uma cidade fantasma. O jornalista, o comunicador, ou um simples blogueiro sai para VER, ele VAI ao encontro da satisfação de sua curiosidade para elaborar e apresentar o seu melhor produto: a comunicação da realidade para quem está confinado.
Diante do desastre da ameaça à vida humana, nasce a expectativa de VER a possibilidade da superação ao confinamento. As pessoas se cansaram de ouvir falar em “quarentena”, “fique em casa”, “vacina”, “morte”, “novas suspeitas”, “contaminados”, “nova variante”, enfim, expressões de aprisionamento, solidão, dor, tristeza e luto. Todos esperam informações que mostrem a rapidez em solucionar, em estancar esta força mortal que assola o planeta.
“Vem e verás”, diz Jesus. E agora é a vez de olhar tudo em volta com os olhos da sensibilidade cristã e não mais com a “piscadela” de quem parece não se envolver com os fatos. Ver onde estão mergulhados o homem e a mulher que vivem essa dicotomia atual. A realidade da economia familiar, a questão da alimentação e saúde estão na ordem do dia. Um olhar atento às fontes de informação está sempre sedento para saciar ao desejo de tranquilidade diante do medo, mas o que se observa é um silêncio pavoroso de quem precisa enfrentar a realidade como ela é.
Os meios de comunicação apresentam uma coleção de informações. Os diálogos se multiplicam entre cientistas, políticos, críticos da medicina, jornalistas e acadêmicos vendendo ideias tentando empurrar uma ideia de “zona de conforto e segurança” para os que adotam determinações diante da opção entre o lockdown e o afrouxamento. Tudo isso apenas em se tratando de falar sobre a realidade maior que assola a humanidade: a Pandemia da Covid-19. Mas e como ficaram então as outras “pandemias” sociais? Não se pode deixar de lado, ou cair esquecimento, a crise cultural e as divisões dentro das famílias e comunidades. A crise do isolamento pode esfriar as relações humanas. A sensibilidade enfraquecida está legitimada pela ideia de isolamento social. Aqui no Rio de Janeiro a violência dessas últimas semanas acrescentou mais um capítulo nesse atroz sofrimento.
As diferentes visões da realidade trazem confirmações particulares sobre um todo, seja na dor, na morte ou até mesmo na tentativa de não deixar a esperança enfraquecer diante do medo. Ainda há quem luta para que a desesperança não se abrigue na cultura causada pelo isolamento social. Os meios de comunicação estão envoltos, sem trégua, na ação de ver e mostrar a realidade em detalhes, do particular humano ao universal social sobre as causas e consequências do comportamento que está transformando as relações interpessoais e sociais em tudo o que se refere ao desenvolvimento social e econômico em consequência desta pandemia.
Outro elemento que não se pode deixar de ver: o consumidor da informação. A riqueza de fontes é muito grande para que ele possa absorver tudo que que é oferecido e assim ajudar nas decisões de suas ações no cotidiano desta nova cultura. Além das grandes agencias de notícias começam a nascer inúmeras fontes de informação. Muitas delas locais como se fossem apontar com “um dedo digital” normativas de sobrevivência para a saúde, o transporte, o emprego e a convivência social.
Há o riso de um comodismo racional imposto. São tantas as fontes de informação que até as fake news passam travestidas de “verdades”. É neste momento que surgem respostas às propostas das oportunidades do mercado on line. Se multiplicam as oportunidades dos cursos on line usando o “dialeto grátis”, até que o consumidor chegue ao link “Saiba Mais”.
O Papa Francisco lembra nesta mensagem para o 55º. Dia Mundial das Comunicações que é necessário gastar a sola dos sapatos. Para um consumidor acomodado fica fácil ser bombardeado pelas notícias lançadas a toda hora, sobre os acontecimentos no mundo, sem consultar as fontes dos editoriais. Sem um olhar crítico à fonte da comunicação pode acontecer a aceitação dos equívocos, erros, políticas de grupos econômicos, governamentais e o não julgamento da veracidade dos fatos.
Cuidados com as fontes de informação. Por isso o Papa chama a atenção e critica os que poluem o mercado da informação com conteúdos produzidos em laboratórios editoriais, sem o cheiro da busca da verdade, do confronto com os fatos. O Papa chama a atenção para o cuidado com a cultura da “cópia” do que os outros dizem, ou seja: a antiga forma Ctrl C x Ctrl V. seria isto o fruto de uma crise editorial?
Quando Jesus em sua resposta aos discípulos afirma “Vem e Verás”, faz um convite para a cultura do encontro. Só pode comunicar algo quem “vê”. É necessário o movimento de ir ao encontro das pessoas, para poder falar a elas a novidade do Evangelho que está no amor ao próximo, apesar do apelo ao distanciamento social. O mundo está se preparando para uma “normalidade diferente”: para que as pessoas vivam terão que ser distanciar alguns metros. Que normalidade estranha em nome da vida. Agora vai ser necessário fazer comunicação interpessoal on line, verdadeiros auditórios on line, igrejas on line, sentimentos virtuais e outras realidades. Nesta nova cultura as marcas econômicas e políticas dominam o controle do que pode ser visto e dito. Ao comunicador cristão fica o desafio de manter a conexão da verdade do evangelho, vivo e presente no meio do povo de Deus, apesar das forças contrárias a alegria da boa nova.