Uma presença nova

                A liturgia dominical da Ascensão do Senhor celebra o artigo da Profissão de Fé cristã: “Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso” (Atos 1,1-11, Sl 46, Efésios 1,17-230 e Lucas 24, 46-53). A primeira impressão que vem à mente que se trata de um afastamento, de um distanciamento de quem vai e de quem fica. A Ascensão do Senhor não celebra um distanciamento de Jesus dos seus, porque seria um contrassenso. Se Jesus é a vida dos crentes, como podem viver sem ele?

                Os discípulos tinham experimentado três formas diversas da presença de Jesus. A presença ordinária é a experiência do Jesus histórico quando estava com eles e tinham a possibilidade de vê-lo, tocá-lo, escutá-lo, tirar dúvidas, comer e conviver com ele. É a convivência física e mediada pelos sentidos que durou uns três anos. A segunda forma de presença podemos dizer que é a excepcional. É o período após a ressurreição quando o ressuscitado vai ao encontro dos discípulos e oferece sinais que permitem reconhecê-lo. É uma presença que foge da normalidade e que durou, segundo Lucas, quarenta dias. A terceira forma de presença é a invisível. É a experiência da comunidade depois da ascensão. Jesus continua com os seus na comunidade que se iniciou, a Igreja. Os discípulos não o veem mais, nem o sentem, mas o experimentam muito próximo e sentem-se acompanhados e orientados.

                Os textos bíblicos indicam que a ascensão marca o fim de uma etapa, mas não fecha o caminho, mas ao contrário abre um novo horizonte, uma nova presença de Cristo e uma real comunhão entre Ele e a Igreja. Um novo acesso se abre aos homens para se aproximarem de Deus. Os textos bíblicos acentuam que os discípulos sentiram “grande alegria” com o que estava acontecendo.

                Por se tratar do fim de uma etapa se poderia imaginar que estaria repleto de recomendações, mas não é este o clima que Lucas descreve. Jesus recorda o acontecimento Pascal, renova o envio para serem testemunhas dos fatos em todos os lugares, promete enviar o Espírito Santo. As palavras são acompanhadas com um gesto muito significativo. “Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava afastou-se deles e foi levado para o céu”. O gesto de abençoar, de forma alguma remete a uma saudação de adeus, mas torna-se mediação que assegura a proteção de Deus.

                A reação dos discípulos é positiva. Não gritam desesperados, do tipo “não vai embora, fica conosco”. Lucas registra que “eles o adoraram. Em seguida, voltaram para Jerusalém, com grande alegria”. Uma reação respeitosa e um sentimento de quem não estava sendo abandonado, por isso sentiram “grande alegria”. O evangelista Lucas, o mesmo que escreveu o livro dos “Atos dos Apóstolos”, começa o novo livro contando novamente a ascensão. Acrescenta mais alguns detalhes, por exemplo, que os discípulos acompanharam com os olhos Jesus subindo ao céu.

                “O Senhor atrai o olhar dos Apóstolos e o nosso olhar para o Céu a fim de indicar como percorrer o caminho do bem durante a vida na terra. Contudo, Ele permanece na trama da história humana, está próximo a cada um de nós e guia o nosso caminho cristão: é companheiro dos perseguidos por causa da fé, está no coração de todos que são marginalizados, está presente naqueles aos quais é negado o direito à vida. Podemos ouvir, ver e tocar o Senhor Jesus na Igreja, sobretudo mediante a palavra e os sacramentos”. Foi a mensagem dirigida aos fiéis reunidos na praça São Pedro pelo papa emérito Bento XVI na solenidade da ascensão de 2010.

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