UM REI SEM COROA

                Em tempos de insignificante vírus dominando o mundo e se sentindo o rei do universo porque nele enxergaram uma coroa real, seria oportuno dizer quem é quem nesta confusa crise da existência humana. Somos inferiores a um insignificante germe ou perdemos nossa identidade de criatura destinada a dominar a face da terra? Essa crise tem origem, meio e fim; não vencerá. Questão de tempo e também de fé. Fé nos revezes da vida, como desafiava antiga palestra que muitas vezes ministrei.

                Dessa fé surgia a figura sempre portentosa, porém serena, de um outro rei, coroado devidamente por anjos e arcanjos que o serviam. Com seu manto púrpura e seu cetro de ouro puro na mão direita, ocupava um trono celestial. Mas sua mão esquerda não estava vazia. Ostentava com orgulho a razão do seu reinado, seu domínio soberano, o globo terrestre encimado por uma cruz reluzente. Aquela cruz era a coroa do mundo em suas mãos! Conquanto, sua coroa também exibia uma cruz… Eis a fé que nos ensina esse Senhor e Rei, com o coração aberto e transpassado por uma espada, mas também encimado por outra estranha coroa… de espinhos. Essa sim, a mais valiosa, o maior e mais precioso dos tesouros que a humanidade nunca mensurou com os devidos critérios da mais pura fé, aquela que tudo vence.

                Reconhecer e venerar Cristo Rei como único Senhor e Redentor do Universo implica em reconhecer a preciosidade de sua coroa de espinhos, aquela que relembra seu calvário de dor, sofrimento e morte, mas ultrapassa tudo isso no mistério de sua ressurreição e ascensão. Como professamos em nosso credo: “subiu aos céus, está sentado `a direita do Pai, donde voltará…” As cruzes de uma pandemia estão aí, fazendo vítimas sem distinções sociais, políticas ou religiosas, mas ceifando muitas vidas de maneira assustadora. O “lugar da caveira” (calvário) deixou de ser um referencial geográfico para dominar o mundo com suas sentenças capitais e seu cetro de vida ou morte. Enquanto os esforços científicos buscam desesperadamente uma forma de derrotar um inimigo quase invisível, muitos dobram seus joelhos diante do trono celestial que a imagem sagrada da fé cristã representa. Só Ele possui o verdadeiro cetro do poder e glória, da vida e da morte, da bênção ou da maldição. Só Ele poderá inspirar soluções eficientes para a cura do corpo e da alma, dando aos nossos pesquisadores e cientistas a pista necessária para a salvação que buscamos. Salvação com “s” maiúsculo. Do corpo e da alma, repito.

                Isso tudo significa que estamos nas mãos de Deus. Os revezes do momento não terminarão num passe de mágica qualquer, mas num maior respeito à vida e aos semelhantes. Isso se chama solidariedade, fraternidade, virtudes básicas da fé cristã. Para agnósticos e descrentes, humanismo, instinto de sobrevivência. Não importa. O que aqui se visualiza é uma maior consciência humana de sua fragilidade enquanto ser vivo, mas também sua inquebrantável força interior que o espírito de fé lhe aponta como ser espiritual.

                Reconhecer, pois, o poder de Deus como a única força restauradora para nossa saúde, seja esta física ou espiritual, é dar-Lhe o devido lugar no trono sagrado dessa odisseia terrena. Nada seríamos, nada teríamos, nada faríamos sem a permissão das forças celestiais, essa energia positiva que governa o universo. Se há um governo, há de existir um comando. Se acreditamos nesse comando, há de ter um rei, um soberano acima de tudo e de todos. Mesmo que o julgamento faccioso de mundo o tenha obrigado a dizer: “Meu reino não é deste mundo”. Se não é deste, existe outro. Nesse outro seu poder supera qualquer realeza ou utopia de poder humano. “Então, o Rei dirá aos que estão à direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo’…” (Mt 25,34). Tomai posse.

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