No sábado, dia 4 de julho, na missa do “Rio Celebra” que retorna agora com suas transmissões das diversas igrejas de nossa arquidiocese foi marcada pelo retorno às missas presenciais depois de mais de 100 dias de transmissões de nossa Capela N. Sra. da Conceição na Residência São Joaquim
Foi um belo momento com a nossa Catedral bem preparada para esse novo momento e com a presença de muitos órgãos de imprensa para cobrir esse evento. A Igreja, depois de muito tempo de reflexão, consultas e ponderações vive com responsabilidade e precaução esta possibilidade de retorno à presença do povo em nossas Eucaristia.
É a ocasião em que toda a nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro se une nesse novo momento, um novo olhar, uma nova perspectiva. E, sem dúvida, que a Palavra de Deus que nós ouvimos neste sábado nos coloca esse desafio de um novo tempo. Há muitas perguntas. São muitas situações discutidas e colocadas: se esse “novo normal”, esse tempo que vem agora, vai ser diferente do que veio antes. Se as pessoas aprenderam a questão da fragilidade e da dependência um do outro, da preocupação com a vida e o valor da vida, a importância da família onde tiveram praticamente durante 100 dias ali convivendo 24 horas por dia. E, principalmente, a importância da fé diante de uma situação em que não havia muito a fazer a não ser se esconder em casa para não ser contaminado.
Mas a Palavra de Deus hoje, meus irmãos e irmãs, nos fala que o Senhor vai reconstruir. “Mudarei a sorte de Israel, reconstruirão as cidades devastadas e as habitarão, plantarão vinhas e tomarão vinho, cultivarão pomares e comerão seus frutos. Eu os plantarei sobre o seu solo e eles nunca mais serão arrancados de sua terra que eu lhes dei” (cf. Am 9,14-15. Já mostra que, depois de ter falado de tantas situações de infidelidade do povo e todas as várias situações que aconteceram, o exílio fora dessa promessa do senhor de reconstruir. E o Evangelho (cf. Mt 9,14-17) fala que ninguém coloca um remendo de pano novo em roupa velha e nem tampouco vinho novo em odres velhos, mas tudo deve ser novo.
Portanto, a pergunta, a situação que se faz, as perguntas que se têm feito na sociedade e nos meios de comunicação, nos artigos desse tempo — se nós aprendemos algo? É claro que o ser humano e a vida humana, as pessoas já passaram por vários episódios na história de que levaram a pensar sobre a sua própria vida. Não é a primeira pandemia que se tem na história e ao mesmo tempo não é a primeira crise. Quantas guerras mundiais, quantas situações também de limite que chegou à sociedade. Se nós olharmos um pouco a história, nós vemos que há sim alguns certos tipos de progressos científicos, tecnológicos; mas o que transforma o ser humano, a vida e os valores pelos quais ele luta e busca vem de outra maneira, vem de sua abertura à graça e ao dom de Deus, de ver que no meio de tanta situação de destruição o Senhor vai reconstruindo e fazendo com que nós sejamos odres novos, ou seja, tenhamos nova vida. O próprio Jesus fala que aquilo que ele vem trazer da Palavra salva e da Boa Notícia, da Boa Nova, deve encontrar um coração novo, um recipiente novo, não pode ser apenas um remendo de pano novo em uma roupa velha.
A Palavra de Deus hoje, meus irmãos e irmãs, vem lembrar a missão da Igreja na sociedade, a nossa missão nesse nosso mundo. Temos nossas dificuldades internas, muitas. Mas temos uma missão muito grande na sociedade e que nesse nosso mundo ocidental e nossa região do mundo, nós temos uma grande responsabilidade de ser uma presença diante de todas as várias situações religiosas, humanas, sociais, as mais diversas. Vendo que o ser humano pode justamente fazer vir à tona os seus melhores sentimentos, suas melhores ideias, seus bons propósitos, aquilo que tem de melhor no seu coração e não o contrário. Não bastam apenas os sinais externos, nós vemos, já passamos por pandemias, epidemias, passamos por guerras das mais variadas em que houve progresso técnicos. Mas o ser humano se transforma com um testemunho de um povo unido que fica como fermento no meio da massa, de uma sociedade que acaba sendo contagiada pelo bem e pela fraternidade. Mesmo sabendo com quanto que nós sofremos de nossa própria carne, de nossa própria pele. Pelas incompreensões, pelas intimidações, pelas intolerâncias, pelos nossos próprios pecados, pelas nossas divisões, no entanto o Senhor vem nos anunciando que ele quer reconstruir.
E, ao nos reconstruir, ao transformar nossas vidas, nos coloca como presença dele nessa sociedade que necessita também daquilo que está almejando, que são as perguntas que se fazem nos meios de comunicação, artigos, livros e discussões, seminários sobre o novo normal, se as coisas vão ser diferentes ou vão voltar a ser iguais etc. Nós vemos, meus irmãos e irmãs, no fundo é um desejo que há de uma mudança. Mesmo a questão do próprio meio ambiente que resultou, com relação a não poluição, tempo novo onde as águas ficaram mais limpas, onde o ar ficou mais puro e os pássaros e animais voltaram à grande cidade. Tudo isso pode ser apenas efêmero e passageiro se nós voltarmos tudo ao que estava antes. E nós somos convidados, somos chamados, não só nesse aspecto do meio-ambiente, mas de tudo aquilo que significa o valor da vida, da família e da sociedade, da fraternidade, da preocupação com o outro. E quantos belos exemplos nós temos, tivemos, e se Deus quiser teremos, com relação a esse tempo. E de pessoas dedicadas, arriscando a própria vida pelos outros, servindo e partilhando os bens que tem, quantos trabalhos sociais que se multiplicaram durante esse tempo? Suponho, encarecidos irmãos e irmãs, que nós sejamos aqueles que serão reconstruídos e sejamos odres novos para um novo tempo.
Para que a novidade, a Boa Notícia, o Evangelho de tal maneira presente em nossa vida nos faça ser sinais, sacramento universal de salvação, a missão da Igreja nos faça ser sinais nessa sociedade. Sabemos de tudo aquilo que se passa ao redor e sabemos também o chão que nós pisamos, sabemos que nem sempre falamos a mesma língua, nem sempre nos entendemos, mas nós somos como que forçados pelas circunstâncias a buscar ainda mais a conversão e a mudança de vida. E daí vem justamente a questão do jejum, que fala a primeira parte da leitura do Evangelho (cf. Mt 9,14-15), que é realmente para que nossa conversão, para que nossa vida, para nossa transformação de tal maneira, que eu mostro para nossos irmãos e irmãs, cumprem as palavras da profecia.
“Reerguerei a tenda de Davi em ruínas e consertarei os seus estragos. Levantando dos escombros e reconstruindo todos os dias de outrora.” (cf. Am 9,11) O Senhor aqui, através da Igreja vem chamar essa reconstrução. Nós chegamos aqui com muitos machucados, muitos ferimentos também por tantas pessoas que partiram do nosso convívio e que nem tivemos oportunidade de nos despedir direito devido a esse momento de pandemia. Nós iremos celebrar nessa intenção no próximo dia 18 de julho, aqui mesmo na Catedral Metropolitana de São Sebastião.
E nesse sentido é oportuno que nesta celebração nós tenhamos sacerdotes que terminam e começam seu jubileu de prata de ordenação presbiteral, representando todos os demais sacerdotes de nossa Arquidiocese que tem essa missão de estar à frente das comunidades e que dão um belíssimo testemunho neste tempo de distanciamento social – serviço, criatividade, unidade, preocupação com a evangelização, com a missão. Mesmo passando por agruras e dificuldades, souberam dar esses passos, e nós estamos juntos nessa caminhada tentando encontrar caminhos e soluções juntos.
Essa missão de poder ser presença e junto com os sacerdotes, as paróquias, que hoje são representadas por aquelas que fazem 75 anos e 100 anos de criação aqui representadas pelos seus padres, seus párocos e um grupo de leigos e leigas. Estão representando todas as demais paróquias de nossa Arquidiocese, lembrando essa missão dos sacerdotes aos diáconos, aos religiosos, aos consagrados e consagradas, seminaristas, o povo de Deus de cada paróquia, cada comunidade. Para ser essa Igreja sinal dessa reconstrução.
Não porque sejamos melhores, não porque não tenhamos problemas, mas porque o senhor nos faz ser sinais daquilo que ele quer fazer em nossa vida e através de nossa vida, a nossa sociedade. Portanto, ao retomar as celebrações com a presença do povo, e quantas vezes as pessoas, de longe, estavam realmente ansiosas por vir à Igreja. Ficando às vezes na porta, na grade externa, para escutar, para ouvir ali da sua Igreja, uma palavra, além das milhares, que nos assistem pelos meios de comunicação. Deram experiência a um momento, em nossa prudência e responsabilidade, vimos a importância da vida, a preservação da vida, mas não deixamos de estar próximo das pessoas. Esse novo tempo em que nós vimos como é importante a fraternidade, a partilha, a comunhão, a preocupação. A Palavra de Deus hoje, o Evangelho, nos fala de reconstrução, de vinho novo em odres novos.
Ao celebrarmos este momento muito bonito de jubileus em nossa catedral reabrindo com a celebração com presença do povo em nossas Eucaristias faz com que nós retomemos, recuperemos as nossas forças e a nossa disposição em ser sinais de esperança e confiança nesse mundo que a necessita. Não respondamos o mal com o mal, os insultos com insultos, respondamos com a fraternidade, com o bem. E ao mesmo tempo, meus irmãos e irmãs, construamos esse mundo em que a Igreja é o sinal, procura ser fermento no meio da massa dessa sociedade.
Haverá sempre a liberdade humana de dizer sim e de dizer não, de acolher ou não acolher os sinais, mas compete a nós sermos sinais da misericórdia, do amor e da esperança no meio da sociedade. Palavra que nos consola, nos conforta, nos ilumina e nos impulsiona ao ir à frente.
Meu abraço e meus parabéns aos padres que completam seus 25 anos, aos que começam os 25 anos, e também às paróquias que completam 75 e 100 anos de criação.
Aos poucos nós vamos voltando a celebrar, mesmo com as limitações de presença do povo nas paróquias que durante esses três meses, aliás, mais de 100 dias estivemos celebrando sem a presença do povo em nossos templos, mas sim com a presença pelas mídias. Aos poucos vamos retomando e voltar a comemorar com as comunidades os eventos que não foram possíveis viver durante este tempo, porém, ainda agora, com as restrições desse jeito limitado, porém muito solene e muito digno.
O Senhor que nos trouxe até aqui e nos conduziu, continuará nos conduzindo na comunhão e na unidade para o futuro e para a frente. Amém!