É mais fácil acreditar na hipótese de um roubo, uma malandragem qualquer, do que na possibilidade de um milagre. Foi essa a primeira reação dos discípulos diante do túmulo vazio onde horas antes haviam depositado o corpo do Senhor. Profanaram seu túmulo, roubaram seu corpo. Não lhes passava pela cabeça aquela estranha linguagem profética de que o Messias haveria de ressuscitar dos mortos.
Ainda hoje essa linguagem é muito dura para a lógica da vida: nascer, crescer, morrer. Ainda hoje muitos teimam na possibilidade do roubo, afastando por completo o maior dos milagres de que se tem notícia na frágil e finita história humana. Como assim, ressuscitou? A possibilidade de um morto voltar à vida foge completamente da lógica, da biológica… real e primária na definição do ato de viver… e morrer! Não, definitivamente não. Um atestado de óbito não dá margens para rasuras, alternativas contrárias ao que se atesta. Então, melhor aceitar as evidências dos fatos: roubaram o corpo do Senhor!
Acontece que nenhuma lógica humana é maior do que o milagre da própria vida. Se Jesus, redentor e restaurador da maior obra divina, se sua missão era justamente nos devolver a graça, reatar a plenitude da vida, a morte não poderia ter efeito sobre Ele, nunca, jamais! Mesmo que não houvesse a crucificação, que sua morte viesse naturalmente como a qualquer ser vivo, mesmo que os anjos o resgatassem milagrosamente desse vale de lágrimas, se não houvesse a ressurreição, seria vã nossa fé. Conclusão lógica e bem amadurecida no testemunho do apóstolo que conheceu Jesus em sua vida ressurrecta, em uma estrada de Damasco. Quem lhe revelou tamanha ciência teológica senão o Cristo em pessoa? Como explicar seu ardor missionário, sua entrega total e incondicional à doutrina que lhe foi revelada?
Mas as provas que o mundo exige vão além da realidade que limita nossa compreensão. Estão lá, aos rês do chão de um túmulo emprestado, usado provisoriamente, mas capaz de abrigar as evidências de um milagre imensurável. São panos ensanguentados, sujos e impregnados de muito suor e lágrimas, que por certo verteram dos olhos de sua mãe, naquele colo diáfano, naquela despedida de piedade. São “as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20, 6-7), Quem os enrolou? Por que? Mais um enigma para nossa fé pequena. Seria esse o Sudário de Turim, a famosa peça motivo de estudos, veneração e revelações minuciosas da imagem de um homem crucificado? O milenar pano de linho sobre o qual a ciência humana tem se debruçado com avidez e curiosidade, mas sem explicações lógicas para os mistérios ali ocultos?
Como vemos, os mistérios da fé cristã ultrapassam qualquer lógica da precavida sabedoria humana. Mas o apóstolo dos gentios e pagãos tem sempre uma palavra de ânimo para nossas incertezas: “Aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”. Perder-se no emaranhado das coisas falíveis e perecíveis é fácil, mas abandonar-se na esperança de uma vida imorredoura, uma fé perene e imortal é muito melhor. Não deixe que a dúvida também lhe roube a alma, além do corpo jogado na geena… O túmulo vazio de Jerusalém nos diz tudo isso.