Segundo a Classificação Internacional de Doenças em sua décima edição (CID10)1, o transtorno desafiador opositor (TOD) na classificação F91.3 é definido como: Transtorno de conduta, manifestando-se habitualmente em crianças jovens, caracterizado essencialmente por um comportamento provocador, desobediente ou perturbador e não acompanhado de comportamentos delituosos ou de condutas agressivas ou dissociais graves (CID-10).1
De acordo com o Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)2, o TOD é definido como: Um padrão de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou índole vingativa com duração de pelo menos seis meses (DSM-5)2.
A psiquiatra Dra. Priscila Dossi, especialista em infância e adolescência pela Universidade de Campinas – Unicamp, destaca a famosa ‘birra de criança’ – aquelas crises de choro e raiva que os pequenos demonstram, geralmente porque desejam muito alguma coisa e não podem ter. Às vezes, essas crises servem para chamar a atenção, mas são passageiras. “As birras começam por volta dos 10 meses e geralmente acabam bem antes dos 4 anos. Trata-se de um comportamento normal, não é um transtorno. Faz parte do processo de maturidade. Então levará um tempo para a criança entender o que é certo e errado.”3
“Agora, quando se trata de transtorno opositor desafiador (TOD), estamos falando de uma criança que se opõe a tudo e a todos, sempre desafiando, “principalmente as figuras de autoridade. Não aceita ordens, não respeita os sentimentos dos outros, não se responsabiliza pelos erros que cometeu e não tem medo de ser punida pelos pais ou responsáveis”, explica a médica.
A Dra. Priscila diz que é importante que os pais fiquem atentos, pois quando isso não é corrigido cedo, a criança, ao chegar na adolescência, poderá ter transtornos ainda maiores, inclusive podendo se envolver com más influências, uso de álcool e drogas, e iniciação na criminalidade. O TOD, enfatiza a médica pediatra, faz parte dos Transtornos de Comportamento Disruptivos da infância, “se apresentando nos primeiros oito anos de vida, principalmente na idade escolar, podendo inclusive aparecer ou se intensificar na adolescência.
Causas e sintomas do TOD
As causas do TOD não são exatas, mas podem ser uma consequência de combinações entre predisposições neurobiológicas e genéticas, fatores de risco psicológicos e disfunções no ambiente social ou familiar no qual a criança está inserida. Apesar disso, ela pode se socializar, ter amigos e colegas da mesma faixa etária.
O tratamento
O tratamento geralmente consiste em sessões de psicoterapia individual e com os pais ou familiares, além de medicamentos receitados e acompanhados por um psiquiatra infantil, conforme a necessidade do caso. De nada adianta tratar a criança se os pais não passarem por um tratamento também”, afirma a Dra. Priscila.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela American Psychiatric Association, lista os critérios para o diagnóstico de TDO. Os critérios do DSM-5 incluem questões emocionais e comportamentais que duram pelo menos seis meses.
Humor zangado e irritável:
- Frequentemente e facilmente perde a paciência
- É frequentemente sensível e facilmente incomodado pelos outros
- Muitas vezes fica com raiva e ressentido
Comportamento argumentativo e desafiador:
- Discute com adultos ou pessoas em posição de autoridade
- Desafia ativamente ou se recusa a obedecer às solicitações ou regras dos adultos
- Irrita ou perturba deliberadamente as pessoas
- Culpa os outros por seus erros ou mau comportamento
Vingança:
- Muitas vezes é rancoroso ou vingativo
- Demonstrou comportamento rancoroso ou vingativo pelo menos duas vezes nos últimos seis meses
TOD pode variar em gravidade:
- Suave. As características ocorrem apenas em um ambiente, como apenas em casa, escola, trabalho ou com colegas.
- Moderado. Algumas características ocorrem em pelo menos duas configurações.
- Forte. Algumas características ocorrem em três ou mais configurações.
Para algumas crianças, as características podem ser vistas inicialmente apenas em casa, mas com o tempo estendem-se a outros ambientes, como escola e amigos.
Conclusão
Cuidar e educar os filhos não é tarefa fácil para ninguém. Existem alguns comportamentos que criam um padrão de sintomas persistentes. “O transtorno opositor desafiador pode ser responsável por sentimento de vingança, hostilidade, teimosia, insubordinação, raiva e impulsos agressivos”. O tratamento medicamentoso não exclui a necessidade de tratamento psicossocial e psicoterapêutico e tem por objetivo a diminuição dos sintomas de impulsividade, raiva e agressividade, característicos do transtorno.
Prof. Dr. Inácio José do Vale, Psicanalista Clínico, PhD.
Especialista em neuropsicologia pela Minas Faculdade-MG.
Especialista em Psicologia Clínica pela Faculdade Dom Alberto-RS.
Especialista em Psicologia da Saúde pela Faculdade de Administração, Ciências e Educação-MG.
Doutorado em Psicanálise Clínica pela Escola de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea. Rio de Janeiro-RJ. Cadastrada na Organização das Nações Unidas – (ONU).
Autor do livro Terapia Psicanalítica: Demolindo a Ansiedade, a Depressão e a Posse da Saúde Física e Psicológica
Fontes:
- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). 10 ed. 2012. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f90_f98.htm#F91. Acesso em: 09 Janeiro 2024.
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (recurso eletrônico). 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=QL4rDAAAQBAJ&pg=PT578&lpg=PT578&dq=taxa+de+preval%C3%AAncia+de+transtorno+de+conduta&source=bl&ots=nQZItDAcER&sig=y7HCJWKsWRR_HOAnUZZm8QMG3Y&hl=ptPT&sa=X&ved=0ahUKEwjJ9sDcsdrWAhUDN5AKHfiJBfkQ6AEIYTAI#v=onepage&q=taxa%20de%20 preval%C3%AAncia%20de%20transtorno%20de%20conduta&f=false. Acesso em: 09 Janeiro 2024.https://saude.riopreto.sp.gov.br/transparencia/arqu/arqufunc/2018/risperidona_tod.pdf
- https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2022/07/13/interna_bem_viver,1379615/tod-transtorno-opositor-desafiador-saiba-o-que-e-e-como-lidar.shtml#google_vignette
AGOSTINI, V. L. M. L., SANTOS, W.D. V. Transtorno desafiador de oposição e suas comorbidades: um desafio da infância à adolescência. Psicologia.pt. Fevereiro 2018. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1175.pdf. Acesso em: 09 Janeiro 2024.
SERRA-PINHEIRO, M. A. et all. Transtorno desafiador de oposição: uma revisão de correlatos neurobiológicos e ambientais, comorbidades, tratamento e prognóstico. Rev Bras Psiquiatr 2004;26(4):273- 6. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n4/a13v26n4.pdf.