Terceiro Domingo da Páscoa

    Depois da Ressurreição de Jesus, os Apóstolos passaram a considerar o primeiro dia da semana como o dia do Senhor, porque foi nesse dia que Ele nos alcançou com a Ressurreição a vitória sobre o pecado e a morte. E esta tem sido a tradição constante e universal da Igreja, desde o tempo dos primeiros cristãos até os nossos dias. Por uma tradição apostólica que tem sua origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra solenemente cada oito dias o mistério pascal, no dia que é muito justamente chamado o dia do Senhor ou domingo.

    Na Liturgia da Palavra deste terceiro domingo da Páscoa, o encontro de Emaús sintetiza muito bem a experiência cristã. Prestemos atenção, porque é de nós que fala o Evangelho! Há, primeiramente o caminho – aquele da vida: aí, os discípulos conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido com Jesus. Neste texto de Lucas, nos apresenta o processo de transformação que sucede nos discípulos, que estavam tristes e desolados, desistindo da caminhada, e os leva à análise do que havia acontecido à luz da Palavra de Jesus, de Moisés e dos profetas, que aquece o coração e faz retornar ao caminho do seguimento.

    Desolados, dois dentre eles se dirigiam para uma aldeia chamada Emaús. Haviam desistido da caminhada, tomando o caminho de volta para casa. Mas o Senhor não desiste deles e vai ao seu encontro. Enquanto falavam e discutiam um com o outro, o próprio Jesus os alcançou e caminhava com eles. Tendo o primeiro passo de aproximar-se e tornar-se companheiro de viagem, dá um segundo passo, começando um diálogo com eles, através de perguntas que faziam com que explicitassem o que estava se passando com eles. Cléofas faz uma análise de Jesus como um profeta malsucedido, porque, segundo ele, não houve uma intervenção de Deus a favor do profeta. Esperavam um triunfo terreno que iria libertar Israel. Havia sinais de esperança, o testemunho das mulheres de que Ele estava vivo, mas como nenhum deles o tivesse visto, não acreditaram.

    Não poderíamos deixar de pontuar aqui um detalhe importante. Cléofas chama Jesus de estrangeiro residente, termo clássico para designar os não-cidadãos que viviam na periferia das cidades greco-romanas. Um convite sutil que Lucas dirige aos membros de sua comunidade para que reconheçam nos peregrinos, migrantes vindos de longe para os centros urbanos, companheiros de caminhada e, deste modo, o Cristo ressuscitado.

    Somente então, num terceiro passo, Jesus os questiona atingindo em cheio os seus corações tardos para crer tudo o que os profetas declararam! Não era preciso que o Cristo sofresse isso para entrar na sua glória? A temática de Jesus, para abrir-lhes o horizonte do coração, é a mesma que os anjos haviam anunciado às mulheres no túmulo. E começando por Moisés e todos os profetas, ele lhes explicou em todas as Escrituras o que lhe concernia.

    O quarto passo de Jesus é parecer que ia prosseguir, deixando que eles tomem a iniciativa de convidá-lo. Jesus não força nada. Respeita a liberdade de seus interlocutores. Saber muita coisa sobre a Bíblia ainda não é suficiente para reconhecer o Deus vivo presente em suas vidas. É necessário um quinto passo, a experiência prática: Ora, quando se pôs à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, pariu-o e lhes deu. Quando o reconhecem, Jesus dá mais um passo decisivo: Ele se lhes tornou invisível. Já não precisam vê-lo. Agora podem reconhecê-lo no ardor do coração, quando leem as Escrituras.

    Tocados em seu coração, podem dar o sétimo passo sozinhos. No mesmo instante, eles partiram e voltaram para Jerusalém. A experiência de que Ele está vivo despertou a fé e fez com que colocassem o pé na estrada para encontrar-se com os companheiros e companheiras e contar-lhes a experiência vivida. O mesmo fizera Maria, depois da anunciação, para encontrar-se com Isabel (1,39), o paralítico curado (5,25) e Levi, chamado da coletoria de impostos (5,28).

    Em Jerusalém recebem o testemunho dos Onze e seus companheiros e eles dão testemunhos de sua experiência. Nós também o poderemos reconhecer na comunidade, na contemplação da Palavra e na Celebração da Eucaristia. A iniciativa, sem dúvida, foi de Jesus, que soube preparar o terreno do coração dos dois. Mas os dois estavam abertos para acolher o diferente. Aceitaram o forasteiro na caminhada. Aceitaram entrar em diálogo com Ele. Fizeram silêncio para escutar e deixar-se questionar pela palavra dele sobre as Escrituras. Souberam escutar o apelo do coração e convidá-lo a ficar com eles.

    Reconheceram-no na partilha. Aquecidos em seu coração, tomaram a decisão de voltar e partilhar em comunidade o que haviam vivido.

    Convido a todos a manifestar a grande graça de ter encontrado o Senhor ressuscitado. Cristo vive, está em nosso meio e todas as vezes que reunimos a comunidade para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia, o Senhor está presente e se faz presente. Assim, sejamos grandes mensageiros desta tamanha graça.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here