Tempo de Natal

    No Natal, atualizamos o acolhimento de Cristo que nasce: ele veio, ele virá e ele vem. As palavras do Pai também são dirigidas a nós: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7). O Natal não é simplesmente a lembrança do aniversário de Jesus. É a celebração da presença viva de Jesus, que nos faz renascer para Deus. “O Natal de Jesus é também o nosso Natal”. É bom meditar sobre isso: Jesus me fez nascer para Deus.
    A Igreja continua a festa solene de Natal com a oitava (oito dias), entre os dias 25 de dezembro a 1º de janeiro. Nesse tempo, vive-se a exultação da grande Festa do Nascimento de Jesus como um único dia. A palavra oitava é derivada do latim octava (oitavo), com “dies” subentendido. O termo é também aplicado para todo o período de oito dias, durante o qual as ditas festas passam a ser observadas.
    Antigas fontes batismais e tumbas cristãs tinham a forma de octógonos. Aqui no Rio de Janeiro, a Igreja do Outeiro da Glória é constituída por dois octógonos.
    A prática da celebração das oitavas pode ter tido suas origens na celebração de oito dias da Festa dos Tabernáculos e da Dedicação do Templo, do Antigo Testamento. Porém, o número “oito” também pode ser uma referência à ressurreição, que na igreja antiga era geralmente chamada de “oitavo dia”. Ela teria sido introduzida pela primeira vez por Constantino I, por conta da Festa de Dedicação das Basílicas de Jerusalém e Tiro, que duravam oito dias. Depois disso, algumas festas litúrgicas anuais passaram a ser observadas na forma de oitavas. As primeiras foram a Páscoa, o Pentecostes e, no Oriente, a Epifania. Assim, elas começaram a ser celebradas a partir do século IV e até o VII os cristãos observavam as oitavas com uma celebração no oitavo dia, com poucas liturgias durante os dias intermediários. O Natal foi a festa a receber uma oitava já pelo século VIII. Roma tinha desenvolvido oitavas não somente para Páscoa, Pentecostes e Natal, mas também para a Epifania e as festas de dedicação de igrejas individuais. Do século VII em diante, as festas dos santos também passaram a ter oitavas (uma festa no oitavo dia e não uma festa de oito dias), sendo as mais antigas as festas de São Pedro e São Paulo, São Lourenço e Santa Inês. A partir do século XII o costume passou a ser a observância dos oito dias intermediários, além do oitavo. Durante a Idade Média, as oitavas para diversas outras festas e dias santos eram celebradas de acordo com a diocese ou a ordem religiosa. Hoje restam poucas festas com oitava, e uma delas é justamente o Natal.
    São Leão Magno afirma que, com o nascimento de Jesus, “brilhou para nós o dia da nossa redenção”. Na oitava e neste Tempo do Natal, celebramos o nascimento e a manifestação de Jesus Cristo, luz do mundo, que vem para iluminar as nossas trevas.
    Na solenidade do Natal, o nascimento do Filho de Deus armando sua tenda no meio de nós, na humildade da natureza humana e na pobreza da gruta de Belém, nos traz o dom de uma vida nova e divina. A liturgia do domingo depois do Natal (quando existe) nos lembra de que o amor com que Deus Pai amou o mundo – até mandar seu próprio Filho para salvá-lo – manifesta-se e se reflete no amor que deve reinar em toda família cristã, daí celebramos a Sagrada Família de Nazaré.
    A oitava nos convida para vivermos o nascimento de Jesus em nosso coração e em nossa vida. Essa vivência acontece pelo reconhecimento do “Menino de Belém” como nosso Salvador; pela participação nas celebrações natalinas; pela atitude de serviço e pelo amor fraterno. Cada um poderá descobrir como Cristo vai nascer em sua vida e na sua comunidade.
    Com a Solenidade de Maria, Mãe de Deus, concluímos a oitava e continuamos a viver o Tempo do Natal, que também nos faz acolher e anunciar com alegria os sinais da presença do Messias no meio de nós.
    Assim, no segundo domingo depois do Natal tomamos consciência do sentido pleno do mistério da Encarnação: o nascimento do Filho de Deus, que vem viver a condição humana, inaugura o nascimento de todos os homens para a vida de “filhos de Deus”; esta é a vida que Jesus nos deu no seu Natal. Na Solenidade da Epifania, a luz de Cristo brilha e se manifesta aos olhos de todos. Os Magos, que seguem o “sinal” da estrela, representam a humanidade inteira, chamada a reunir-se em torno de Jesus na fé. É a festa da universalidade da salvação.
    Concluindo o tempo do Natal, celebramos o Batismo de Jesus: a voz do Pai e a força do Espírito Santo que descem do céu, O investem oficialmente de sua missão de Salvador; analogamente, cada um de nós, no batismo, se torna participante da mesma missão. A manifestação no Batismo do Senhor nos remete para a missão de Jesus e nos faz recordar o nosso Batismo.
    Vivendo a oitava e o tempo do Natal, ao acolher hoje o Cristo que vem, somos chamados a proclamá-Lo e anunciá-Lo aos irmãos e irmãs. Devemos ser uma estrela que conduz para Jesus Cristo. Os Magos foram guiados por uma estrela. Hoje, somos guiados pela estrela da Palavra de Deus, pela estrela das obras da criação, pela estrela da fé, pela estrela da Igreja, pela estrela dos sacramentos, pela estrela do amor. Essas estrelas nos conduzem para o encontro com o Salvador.
    Guiados por estas estrelas, somos também chamados a ser estrela ou luz que ilumina e guia os irmãos ao encontro do Senhor. Manifestemos a presença transformadora do “Menino-Deus” pelo nosso testemunho de vida,      vivendo intensamente esta oitava e tempo do Natal da misericórdia com compaixão, esperança, perdão, acolhimento e paz.

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