TEMPO COMUM, TEMPO DA FELIZ ESPERANÇA

Após termos celebrado o Tempo da Páscoa, iniciamos uma longa etapa, até o Advento, chamada Tempo Comum. Este tempo da tarde, dizia o grande pensador espanhol Unamuno, é de espera para acordar em um outro lado…

Em todas as culturas há um tempo comum ou ordinário e um tempo extraordinário ou festivo. Sem este, os dias morreriam de tédio. O que nos faz sentir imortais é o tempo festivo, que só pode ser celebrado se relacionado com Deus. Por isto todas as festas têm um caráter religioso. Uma cultura secular é uma falsa cultura. Inclusive o termo cultura, nossa segunda natureza, deriva-se do culto a Deus.

Criados a imagem de Deus, só
podemos ser humanos religiosamente. Assim como na Física Quântica, se tem chamado ao “bóson”, suposto primeiro tijolo constitutivo da matéria, “partícula de Deus”, para significar que nada existe sem Deus, também alguns neurologistas têm afirmado haver em nosso cérebro um “gens divino”, que relaciona de maneira natural nossa vida a Deus.

Ekkehart, místico alemão do século XIII, falava de uma “faísca divina”. Nessa mesma época, Dante, Alighieri, tendo vivido sem sentido religioso ao longo da sua vida, no seu exílio, reconheceu seu erro cultural na Divina Comédia, dizendo através de um dos personagens novelescos: “Por seguir minha razão, acabei no inferno”.

O culto ou Tempo Litúrgico da Salvação renova nossa vida.

Antes do Concílio Vaticano II (1964) iniciava-se a Missa em latim dizendo: “Introibo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat juventutem meam”, entrarei no altar de Deus, do Deus que alegra minha juventude.

Que pena tenhamos perdido este rito, pois o nosso maior sonho é a eterna juventude, para a qual não existe nenhum creme.

No culto religioso vencemos o temível deus Cronos que segundo a mitologia, devorava seus próprios filhos tão logo nasciam.

Max Weber, exímio sociólogo, historiador e teólogo do fim do século XIX, lamentava seu tempo secularizado pelo Positivismo: “Infelizmente, dizia, temos esquecido a parábola do camelo e da agulha, e demos lugar à frustrante recompensa do mérito e lucro econômico”.

As leituras deste domingo levam-nos a tomarmos consciência do grande problema do mal, inerente ao tempo e que, fatalmente, nos conduz à morte. O Mal, como Deus, o Mundo (ser das coisas) e a alma (vida) são um
Mistério, chamado Mistério da Iniquidade, do qual apenas sabemos que existe, mas não sabemos o que de fato seja.

Todo Mistério supera nossa realidade conhecida e também nossa razão. Na parábola do joio (mal) e trigo (bem) Jesus limitou-se a dizer ter sido “um inimigo” que semeou o joio no mesmo campo do trigo. Conhecer esse segredo ou Mistério está reservado só para o fim dos tempos. O que não podemos negar é que o mal existe para nós sob cinco grandes categorias:

MAL FÍSICO. Toda a criação sofre o mal, afirma São Paulo em Rm.8. Os entes vivos, particularmente o ser humano, sofrem dolorosamente. “

A vida é dor”, é o grande princípio do Budismo.

Nós, católicos, nos situamos existencialmente num “vale de lágrimas”.

MAL PSICOLÓGICO, próprio do ser humano. Tristeza, angústia, depressão, ansiedade, desespero, culpa, frustração torturam nossa vida por dentro. A ingestão de ansiolíticos certifica esse mal em todas as pessoas e povos. Não existem lojas onde se possa comprar a felicidade.

MAL SOCIOLOGICO.Todo ser vivo é gregário ou social, mas o ideal messiânico do lobo pastar junto com o cordeiro nunca foi vivido no planeta. Pelo contrário, afirmava o filósofo inglês Hobbes (séc. XVII) “o homem é lobo ao próprio homem”. O conflito, a guerra, a injustiça e a violência são constantes da História. O ser humano é instintivamente agressivo, afirma o antropólogo Lorenz. Rios de sangue e ódio escrevem as páginas de todos os povos. Este mal pode crescer ao ponto de exterminar a vida do planeta Terra. Einstein dizia: “Não sabemos como terminará a terceira guerra mundial, mas sim a quarta: a pedradas e pauladas”.

De fato, depois da possível terceira guerra mundial atômica, os que sobreviverem retornarão à idade da pedra.

MAL CÓSMICO. O filósofo alemão Leibniz (sec. XVII), à raiz do terremoto que destruiu Lisboa, no Dia de Todos os Santos de 1755, disse que Deus criou o melhor dos mundos. De fato, em Gn.1, é assim que se nos diz: “E Deus viu que tudo era bom”. Mas nenhuma razão humana compartilha esse otimismo cósmico. As estrelas estão em guerra e o nosso planeta azul é escurecido por terremotos, vulcões, tempestades e catástrofes de todo tipo. E se o mal físico, psicológico e sociológico pudessem encontrar alguma culpa humana, não assim no mal cósmico, reportando-nos ao Mistério do Mal?

MAL DIABÓLICO. Existem forças ocultas e misteriosas que, culturalmente, temos personificado com o demônio que, ainda mais, mergulham-nos no Mistério do Mal. Não só existe o mal como também a malícia do mesmo mal, fruto duma vontade perversa e diabólica que parece enfrentar o próprio Deus. Este mal, que transcende o próprio mal, chamamos “pecado do mundo”, antagônico ao bem e à vida, identificado com a morte. Em inglês, “evil” (mal) e “devil” (diabo) tem a mesma raiz semântica. De fato, o mal ou o diabo é tudo o que não é Deus ou de Deus. Portanto, o que não pode ser, ainda que exista. Santo Agostinho afirma ser o Mal a carência do bem ou de um ser próprio. Chegamos à conclusão: O mal é um Mistério, mas nossa razão trata de o explicar .

ALGUMAS EXPLICAÇÕES OU TEORIAS AO MISTÉRIO DO MAL

O MAL É UM PRINCÍPIO OU ENTE ANTAGÔNICO DO BEM.

Foi assim que, Manes, um teólogo da antiga Pérsia (Iran) no século III d.C, o concebia. Na Criação há dois principios que dão origem ao mundo que habitamos: um, essencialmente bom, espírito e luz, que é Deus; e outro, essencialmente mau, matéria e trevas, que é o Demônio. Esta teoria, denominada Maniqueísmo, que faz referência ao seu autor Manes, aparentemente seria a melhor explicação racional ao Mistério do Mal, por isso é professada, sob diferentes maneiras, por quase todas as culturas e religiões. É a leitura mais fácil e até racional do mal do mundo. Mesmo a cultura bíblica não é isenta de essa interpretação. O bem e o mal estão em permanente luta. Manes augurava o triunfo do bem no fim da História. Entretanto, ficaria em aberto seu Mistério: Mesmo derrotado, que futuro teria esse Mal ou Demônio? Seria possível o Céu ao lado do Inferno?

O MAL É CARÊNCIA DO BEM E DO SER

Santo Agostinho, após ter professado o Maniqueísmo, vê filosófica e teologicamente impossível a existência de dois criadores ou deuses, porque nenhum deles seria todo poderoso, assim como o Ser não existiria, pois só pode Ser o bom e o verdadeiro, fatores constitutivos do Ser. O que é só pode ser bom e verdadeiro. Por isso, o nome revelado por Deus a Moisés, “Javé”, significa aquele que é, atuante e dando ser e vida a tudo quanto existe. As palavras do Gênesis.”E Deus viu que tudo era bom” tem seu verdadeiro sentido no futuro. “Tudo será bom” porque tudo quanto existe será em Deus (Ap.20). O mundo criado “existe”, mas ainda não é. Saiu das mãos de Deus (ex-sistir = saída) e está em viagem para Deus.

Até atingir essa meta, as criaturas estarão afetadas por uma carência de bem, verdade, bondade e beleza, que chamamos Mal, manifestado nas diferentes categorias que apontamos acima.

O Mal não tem futuro. Essa nossa esperança vence todo desespero.

O MAL É A FORÇA NEGATIVA DO NADA

Esta teoria sintetiza as duas teorias anteriores. Deus criou o mundo do nada. Esse “buraco negro” primordial do universo arrasta e aniquilaria tudo quanto existe, não fosse Deus, Quem, de maneira invencível, impulsiona toda criatura a ser Nele, meta a ser atingida pela Ressurreição. No dia da Ressurreição, finalizar-se-á a obra da Criação, plenificada de Ser e de Vida, dando lugar à Nova Criação, ao Reino de Deus.

Duns Scotto (sec. XIII) e Teilhard de Chardin, em nosso tempo, eram afins a esta teoria. Freud, desde uma ótica psicoanalítica, a expresava também afirmando que havia no ser humano duas forças antagônicas: o eros
(a vida) e o tânatos (morte), sendo esta última a que prevalecerá. Tudo caminharia para seu nada.

Para quem carece de Fé, o niilismo é a única filosofia possível e resposta ao problema do mal. E a Fé tem como fundamento a Ressurreição de Cristo, única luz para dar sentido à nossa existência e também a do mundo.

RESPOSTAS HUMANAS AO PROBLEMA OU MISTÉRIO DO MAL

POSITIVISMO. O mal será vencido pelo progresso científico e tecnológico. A deusa razão vencerá nossos males. Não são poucas as pessoas que professam essa esperança materialista, slogan da bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”.

ESTOICISMO. Diante do mal que não podemos vencer, resta-nos resignação e aceitação, pois é inerente à natureza deste mundo.

O cristianismo adotou esta filosofia grega, embora curtindo a feliz esperança de que o mal será vencido para sempre em Cristo. Na cruz, morre o mal do mundo. E, na Ressurreição, tudo se torna bom e glorioso.

REENCARNACIONISMO. O mal será vencido, no que ao ser humano se refere, pelo próprio sofrimento, através de sucessivas reencarnações, num processo de auto-salvação. Não só o hinduísmo e espiritismos partilham essa esperança, também nós, cristãos, damos ao sofrimento, nesta vida e na vida futura, um sentido de
purificação, negando assim a graça de Deus.

PLATÔNISMO. O mal será vencido pela nossa desencarnação do corpo. Só num reino de almas o mal não tem lugar. Resta saber onde estará nosso “eu” ou pessoa, este todo de nosso ser humano, que almeja pela Ressurreição. Ao menos por justiça, bem merece que nosso corpo, que tanto sofreu neste mundo, tenha sua
recompensa no Céu.

CRISTIANISMO. O mal, inerente à nossa condição de criaturas só tem uma resposta feliz: a Ressurreição em Cristo, mas exerce neste mundo uma função catalisadora. O mal acrescenta nosso desejo e esperança da Vida Eterna, ao mesmo tempo que afirma nossa Fé e necessidade de Deus. “Porque o mal existe, disse Santo Tomás de Aquino, é que Deus existe, para dele nos libertar”, e nunca para nos destinar ao mesmo mal, que teria seu grau infinito no temido inferno das religiões.

Quem nunca leu o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica, que dedica mais da metade das suas mil páginas ao destino reservado aos “maus” e incrédulos no inferno, eu aconselharia a ler para assim, apreciar e agradecer por ter conhecido a graça salvadora de Cristo. Que grandioso e necessário é o cristianismo para este, e o mundo vindouro!…

Só um verdadeiro cristão pode ser feliz em ter nascido. Por isso, São Paulo diz de Cristo: “Ele é nossa feliz esperança”.

“DEPOIS QUE ADÃO COMERA DO FRUTO DA ÁRVORE DO BEM E DO MAL, DEUS O CHAMOU: “ONDE ESTÁS?” (Gn. 3,9-15)

Depois de Darwin, com sua teoria, mais do que hipotética, da Evolução das Espécies, seria absurdo ler este relato do Gênesis de maneira literal e histórica. De fato, o ser humano, desmembrado por Deus de um hominídeo, passou mais de três milhões de anos na terra aprendendo apenas a comer para subsistir. Só recentemente, não mais de 100.000 anos atrás, após uma longa infância, foi capaz de comer da mítica árvore do bem e do mal, tomando consciência moral dos seus atos.

O Paraíso, como diz Carlos Mesters, nunca foi perdido, ele não é objeto de saudades, mas da nossa esperança. Mas, o mito do “pecado original” ou do mal, é mais do que histórico, pois se faz realmente presente em cada uma das pessoas em todas as gerações. Todos e cada um de nós somos Adão e Eva a comer o fruto da árvore do bem e do mal, tentando viver de maneira autônoma, separados de Deus. E, se invocamos a Deus, é para reforçar a vontade de ser e viver por nós mesmos. Esta trágica experiência de conhecer e querer o bem e o mal por nós mesmos, nos faz sentir desolados e perdidos. Uma voz misteriosa sempre nos questionará: “Onde estás?”. Santo Agostinho interpreta estas palavras do Gênesis dizendo: “Será que era Deus quem não sabia, ou Adão que ignorava onde estava?” Adão acabou reconhecendo sua trágica condição: “Eu me escondi porque estava nú.” Ciência alguma poderia revelar assim esta grande verdade antropológica. No século XVIII, Fenelon definia o homem como um “eu desolado”. Nada mais autêntico e humano do que sua nudez. Sem roupa, o rei e o indigente carecem de toda diferença. Um ser humano, separado de Deus, como pretendeu ser Adão, só pode existir “escondido” até de si mesmo. Inclusive o nome de “pessoa”, do latim persona, fazia alusão à máscara usada, à guisa de caixa de ressonância (per-sonare) pelos atores nos cenários teatrais. Somos existencialmente hipócritas (escondidos) mascarados. Ao cemitério irão duas pessoas, aquela pela qual fomos conhecidos e nos demos a conhecer, e a pessoa de nós mesmos, que só Deus conhece.

Só pela Fé em um Deus bom que não nos condena nem se escandaliza de nossas misérias é que podemos ser autênticos (nós mesmos) sem necessidade de nos esconder. O relato revela-nos que somos vítimas do mal, representado pela figura da serpente, que nos seduz diabolicamente ao mal. Mas Deus promete à humanidade e a toda a Criação a vitória sobre o mal.

Da descendência da mulher, Eva, nasceu um Salvador. Esta palavras do Gênesis são chamadas “proto Evangelho”, a primeira Boa Notícia da Salvação que nos viria de Cristo, “nascido de uma mulher” (Gl.4), Maria, a quem se atribui também, com seu filho Jesus, a missão de “pisar a cabeça da serpente infernal”.

Em Ap.12, ecoa essa profecia ainda a caminho de ser cumprida plenamente. A serpente só morre se tem esmagada sua cabeça. O mal não tem futuro, ainda que permanece conosco até o fim dos tempos, por isso, continuaremos a rezar : “Não nos deixes cair em tentação e livra-nos do mal”.

“SABEMOS QUE AQUELE QUE RESSUSCITOU JESUS, TAMBÉM NOS RESSUSCITARÁ COM ELE E NOS PORÁ AO SEU LADO”.(2Cor.4,13.)

São Paulo faz uma esplêndida e eloquente leitura pascal da nossa existência: “Enquanto nosso homem exterior (carnal) vai caminhando para sua ruína, o homem interior (divino) se renova dia a dia”. Que belo poema, se dotada de palavras, proclamaria a semente, morrendo para nascer?!…”Desde o dia em que nascemos, diz Heidegger, somos já velhos para morrer”. Infelizmente esse grande filósofo alemão, tido como o maior
filósofo do século XX, nunca viu a grandeza de uma semente, por isso cedeu à morte a primazia sobre a vida. Sem a esperança da Ressurreição, a vida só pode ser trágica.

Unamuno, desesperadamente incrédulo, escreveu um livro profundo, intitulado “O Sentimento Trágico da Vida”, a revelar sua própria existência. É claro que se nossa Fé fosse alcorânica, melhor seria não termos nascido. Em seus 114 capítulos ou “suras”, o Alcorão, repete em cada um deles o destino do inferno para os maus e incrédulos e o Paraíso para os bons que, segundo a revelação bíblica, não seriam nenhum dos mortais. Da mesma maneira, o sonhado Nirvana do Budismo jamais seria atingido, pois só Deus é Santo.

A Salvação, como a Criação, é obra de Deus. Só temos Fé se, de fato, nos sentimos imortais e salvos por Deus. Não é propriamente a Fé, que também é um dom e virtude de Deus, o que nos salva, mas o próprio Deus. A Fé é a maneira de saber neste mundo que Deus já nos salvou em Cristo. Ter Fé ou carecer Dela, dizia Santo Agostinho, faz a mesma diferença que existe entre um vidente e um cego.
Ambos vivem, mas um enxerga e o outro não. A única resposta ao Mistério do Mal é a esperança segura e certa da nossa Ressurreição em Cristo.

“TODO PECADO SERÁ PERDOADO AOS FILHOS DOS HOMENS, MAS QUEM PECAR CONTRA O ESPÍRITO SANTO É CULPADO DE UM PECADO OU MAL ETERNO” (Mc.3,20-35.)

Estas palavras de Jesus foram proclamadas por ter sido acusado pelos escribas e fariseus de estar possuído pelo príncipe dos demônios. Seus milagres e, particularmente, “expulsão” dos demônios das pessoas que eram vítimas desse mal misterioso, não eram obras de Deus. Nisso consiste o pecado contra o Espírito Santo. Atribuir o bem ao demônio ou a um princípio maligno é uma blasfêmia ou um insulto contra o próprio Deus, ao mesmo tempo que nega a possibilidade da Vida, da qual o Espírito Santo é sSua única fonte, como confessamos no Credo: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a Vida”. Pecamos contra o Espírito Santo quando fazemos depender nossa vida de nós mesmos ou de outra criatura fora de Deus. Consola-nos que esse mesmo pecado impossível de perdão, pois não existe salvação sem o dom da Vida Divina, que é Espírito Santo, também cessará, como se nos revela em Jo.16. O mesmo Espírito Santo “nos convencerá” desse pecado mortal para abrir-nos à Vida que Ele nos dá. Jesus neste relato evangélico revela-nos também que o mal ou o demônio, “príncipe deste mundo”, não tem poder. Ele já foi “amarrado”, incapacitado de vencer. Os sinais desta vitória final são seus milagres e a “expulsão” dos demônios. Os Evangelhos registram seis exorcismos, que levantam uma grande questão teológica:

Existem de fato demônios assim como existem anjos?

A literatura de muitas religiões, também bíblica, concebe os demônios como “anjos caídos”. Isto é, foram criados no Céu mas “pecaram”, afastando-se de Deus.

No livro do Alcorão se diz que quando Deus criou o homem do barro à sua imagem e semelhança, os anjos(“jinns”) se ajoelharam diante da grandeza do ser humano, como nos revela o salmo 8: “O fizestes pouco inferior a Deus”. Mas alguns dos anjos, por inveja, não se ajoelharam reconhecendo essa grandeza divina do ser humano, razão pela qual foram expulsos do
Céu. Eles então prometeram a Deus fazer todo mal possível aos seres humanos, seduzindo-os para levá-los consigo ao inferno. Anjos e demônios são conceitos necessários para tentar explicar o Mistério do Mal, que por ser mistério permanece selado até o fim do mundo. O que é o Mal e porque existe não sabemos e não nos foi revelado. No Alcorão lemos que alguns anjos ou “jinns” curiosos espiaram no Céu a conversa de Deus com seu anjo preferido Gabriel a respeito de seus planos de salvação e condenação, mas foram fulminados por estrelas de fogo. De fato, só Deus conhece o Misterio do Mal. A nós foi revelado que carecem de futuro, embora estejam presente até o fim da vida pessoal e da História do universo.

O plano de Deus é de Salvação e não de condenação. Porque Ele é Santo e bom, tudo será santo e bom.

Podemos coroar esta longa mensagem com as palavras de Charles Chaplin: “Se alguma coisa não está certa, é porque ainda não atingiu seu fim”. Não estão”certas” nossa saúde, a sociedade na qual vivemos, a ordem das estrelas, a terra que habitamos, nossa vida pessoal, nossas ideias e sentimentos, nosso passado, nosso presente e futuro, tudo é inacabado e incerto. Da mesma maneira que costuma-se pôr um cartaz na rua, pedindo nossas desculpas, quando a rua é interditada por alguma reforma, Deus também pendurou esse cartaz neste mundo ainda inacabado e sujeito ao mal:

“Desculpem as moléstias. Estamos em obras”.

O mal é apenas provisório, e serve-nos para desejar e esperarmos ainda mais nossa Salvação.

Padre Jesus Priante
Espanha
(Edição por Malcolm Forest. São Paulo.)
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