O segundo final de semana de Outubro em que celebramos o 28º Domingo do Tempo Comum é marcado de eventos eclesiais importantes: a comemoração da Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no sábado dia 12 de outubro, durante o final de semana o momento mais importante do Círio de Nazaré, com a Festa de Nossa Senhora de Nazaré, a maior procissão mariana do mundo; o dia das crianças e a festa de inauguração do Cristo Redentor (88 anos) no dia 12 de outubro, em que rezamos pedindo a paz pelo Brasil e um sonoro não para a morte voluntária de crianças e de idosos (esses, mais do que todos, devem ter a nossa gratidão e o nosso amor misericordioso). Além disso neste domingo temos a canonização da Ir. Dulce dos pobres, o anjo bom de Salvador.
A liturgia deste 28º domingo do tempo comum nos fala de duas coisas importantes e necessárias para a nossa caminhada: a fé e a gratidão. Fé e gratidão são irmãs e sempre andam juntas, elas fazem o mesmo caminho. Assim, cada passo dado traz a marca de uma e de outra. É preciso, por meio da fé, sempre estarmos abertos à ação graciosa de Deus a nosso favor; não sabemos quando ele irá agir, mas, pela fé, sabemos que agirá. E da expressão de fé assume-se, como necessária e inevitável, a expressão de gratidão. A fé faz que os passos dados sejam em direção àqueles que necessitam de socorro.
A primeira leitura (Cf. 2Rs 5,14-17) relata que Naamã era o chefe do exército arameu, que representava uma grande força na geopolítica da região. Não era raro que os arameus e os israelitas estivessem em disputa territorial. Nosso texto se inicia com o general sendo obediente à orientação do profeta Eliseu a fim de que pudesse ser curado da lepra. Após mergulhar obedientemente por sete vezes nas águas do rio Jordão, Naamã viu, inacreditavelmente, que sua pele havia ficado completamente limpa, como a de uma criança. Após a constatação, ele faz bela confissão de fé: “Agora sei que não há outro Deus na terra, a não ser em Israel” (v. 15b). Sua cura e conversão são contadas a fim de mostrar que Deus é, de fato, um Deus universal e está acima de todos os outros deuses. A história destaca, portanto, que a ação salvífica de Deus não estava limitada a Israel. Deus quer que todos saibam que ele é o verdadeiro Deus.
A segunda leitura (Cf. 2Tm 2,8-13) exorta que “Lembre-se de Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos, segundo o meu Evangelho!” e suporta o sofrimento assim como eu, prisioneiro, “Sofro, até as algemas, como um malfeitor!” Este é o testamento espiritual do Apóstolo Paulo para seu discípulo Timóteo. O Apóstolo Paulo, preso e algemado em Roma e aguardando a condenação final, envia seu “Testamento espiritual” para o discípulo Timóteo! Lembra-te de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, segundo o meu Evangelho. Não vivamos lamentando nossos sofrimentos e contrariedades, mas abracemos nossa cruz diária e vamos carregá-la em parceria com a Cruz de Cristo. Diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à paixão de Cristo para a salvação do mundo!” Ele quer parceiros na sua missão de Salvador!
No Evangelho (Cf. Lc 17,11-19) vemos como a enfermidade e a miséria reúnem dez homens e os fazem esquecer o tradicional ódio existente entre judeus e samaritanos. Eram excluídos por todos, e havia até mesmo uma legislação própria para eles: “Quem for declarado leproso deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando ‘impuro, impuro’. Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento” (Lv 13,45s). Jesus está em missão e, enquanto atravessa a Samaria e a Galileia com o objetivo de chegar a Jerusalém, é interrompido aos gritos por dez leprosos. Eles guardam certa distância de Jesus. Não havia uma distância definida, mas ao menos uma autoridade tinha estabelecido que, quando o vento soprasse do leproso em direção à pessoa sadia, aquele devia ficar a pelo menos 50 metros de distância. Nada poderia demonstrar melhor a solidão total em que viviam os leprosos. Afinal, eram considerados impuros e eram impedidos de se aproximar de todos os reconhecidos como puros. Após o pedido – “tenha piedade de nós” –, os dez são instruídos por Jesus a se apresentar aos sacerdotes. Mas que surpresa: enquanto percorrem o caminho que os levaria aos sacerdotes, percebem-se curados. Nesse momento, o grupo se divide. Já não eram dez. De um lado, um grupo de nove, que seguiu adiante, e, do outro, apenas um, que voltava todo feliz pelo caminho já percorrido para agradecer a Jesus. A gratidão era e continua sendo um artigo raro de encontrar. Três perguntas são feitas por Jesus, perguntas retóricas que procuram elogiar a fé daquele que retornou: “Não eram dez os purificados? Onde estão os outros nove? Não voltou ninguém, além desse estrangeiro?” (v. 17).
A Lei de Moisés ordenava que todo leproso fosse afastado do convívio social para evitar a epidemia da letra. Era um recurso de higiene pública. Mas, o tempo, criou a ideologia que leproso era um amaldiçoado por Deus! O episódio dos dez leprosos é clara demonstração de que a fé rompe barreiras e preconceitos seculares. Aquele que volta é um estrangeiro, e é justamente o considerado impuro e, por isso, inadequado que reconhece que Jesus lhe concedeu o dom da vida. A graça de Deus, por meio de Jesus, é, porém, completa. Não se trata de uma ação superficial que cura o corpo do enfermo. Naquele momento, também se realizava a superação da marginalização em que os leprosos se encontravam. Jesus torna visível o poder e a misericórdia de Deus. É interessante recordar outro samaritano, cheio de compaixão, que estava no caminho do evangelho e do Reino de Deus, fazendo o bem àquele que se encontrava à margem da vida e sem futuro. Agora, o samaritano que volta também encontra o caminho do Reino, mas, neste momento, pela gratidão.
Rezemos neste final de semana para que nossas crianças sejam evangelizadas ainda no seio da família e que cresçam com seus pais na vivência dos sacramentos e na vida de Igreja, crescendo em sabedoria, estatura e santidade.
Maria, com os títulos de Nossa Senhora de Nazaré e Nossa Senhora Aparecida interceda por nós e nos ajude a viver a graça da permanente missão evangelizadora.