Cardeal Serafim Fernandes de Araújo

               Tendo sido bispo administrador apostólico da Abadia Territorial de Claraval, na década de 90, tive a oportunidade e a graça de participar como Bispo do Regional Leste 2 da CNBB, que compreende as dioceses dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Naquele ambiente abençoado das Assembleias do Regional Leste 2, pude contemplar e conviver com a figura maiúscula e respeitável do Eminentíssimo Sr. Cardeal Arcebispo de Belo Horizonte, D. Serafim Fernandes de Araújo.

              Suas manifestações, quer nas Assembleias Gerais do Episcopado Brasileiro, quer nas Assembleias do Regional Leste 2, eram sempre pautadas pela serenidade, pela palavra certa na hora certa e pela prudência.  Sempre que ele assumia a Tribuna, havia uma atenção maior por parte de todos os Bispos participantes. D. Serafim pôde participar de todas as sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II. Participou pessoalmente do grande momento da Igreja sob as luzes do Divino Espírito Santo neste Concílio. Com sua morte desaparece o último dos Padres Conciliares brasileiros.

              Quatro são os pilares, a meu ver, que marcam o ministério e vida episcopal de Dom Serafim: 1. A Pontifícia universidade Católica; 2. A Educação Católica no Brasil. 3. O Seminário Coração Eucarístico; 4. O projeto pastoral Construindo a Esperança.

              Dom Serafim eleito bispo titular de Vewrinopoli e Bispo Auxiliar de Dom João Rezende Costa, segundo Arcebispo Metropolitano, aos 19 de janeiro de 1959, é ordenado Bispo aos 7 de maio do mesmo ano por Dom José Newton de Almeida Baptista, Arcebispo de Diamantina. Tinha apenas 34 anos, (foi, na época, o bispo mais novo do Brasil).

              Dom Serafim soube ser o grande auxiliar de Dom João Resende Costa. Os dois se completavam. Era voz comum em Belo Horizonte a admiração pela harmonia e fraternidade carinhosa entre os dois Pastores. Dom João logo de início conferiu a Dom Serafim a tarefa de ser o Reitor da PUCMG. Coube a Dom Serafim transferir a PUCMG do Bairro dos Funcionários para o imponente edifício do Bairro Coração Eucarístico e, por obra e graça de Deus e seu esforço pessoal, transformou a PUC Minas na maior Universidade Católica do mundo. O reconhecimento público de sua capacidade e a competência eficiente em seu trabalho o levaram a ser chamado para ser membro do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais e, posteriormente, do Conselho Federal de Educação, em Brasília. Sua presença no Conselho Federal de Educação foi um tempo precioso para o Brasil. Ele era admirado e querido pelos seus pares nesse Conselho. Foi, naturalmente, Reitor da PUC de 1960 a 1981.

              Entre suas grandes contribuições para a Igreja do Brasil, Na América Latina, nas Américas e no mundo, quero lembrar:

              Dom Serafim participou da Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, Puebla, México, 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979.

              Participou da Quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Santo Domingo, na República Dominicana, de 12 a 28 de outubro de 1992 e foi um de seus presidentes, escolhido pelo Papa.

              Participou da IX Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, de 2 a 29 de outubro de 1994.

              Participou da Assembleia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, de 16 de novembro a 12 de dezembro de 1997.

              São João Paulo II o nomeou Arcebispo Coadjutor com direito à sucessão da Arquidiocese de Belo Horizonte, 22 de novembro de 1982. Assumiu a Sé Metropolitana de Belo Horizonte, em 5 de fevereiro de 1986, tornando-se o terceiro Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte.

              Durante o seu governo como Arcebispo Coadjutor e como Arcebispo Metropolitano Dom Serafim deu especial atenção aos padres e seminaristas. Disse ele, uma vez, a um Arcebispo meu amigo: “ – Não há nenhum padre em Belo Horizonte que não me deva uma atenção especial”. Os padres tinham livre acesso e contacto direto com Dom Serafim que sempre foi um pai e amava todos os seus padres com um amor paternal. Ele Era um centro de convergência e carinho em todo o presbitério de Belo Horizonte. Deixou marcas profundas de paternidade, de seriedade, de confiança na missão dos presbíteros. Foi o grande impulsionador de um clero numeroso, santo e trabalhador que é do clero de Belo Horizonte.

              O Seminário Coração Eucarístico, com as suas duas faculdades de filosofia e de teologia, era a menina dos seus olhos. Dedicava especial atenção para as vocações, para os Seminaristas e para a formação em vistas ao ministério presbiteral.

              Mas a marca pastoral, numa busca constante de respostas para a evangelização das grandes cidades, veio em 1990, com o Projeto Pastoral Construindo a Esperança. Esse projeto tornou-se referência e modelo para todo o Brasil em suas diversas Dioceses. O Projeto Construindo a Esperança conseguiu reavivar a animação pastoral das paróquias e das comunidades dando vida nova à Igreja em Belo Horizonte.

              Dom Serafim se antecipou no uso dos meios de comunicação social para a Evangelização. Pela Rádio América e pela TV Horizonte, que fundou com sabedoria e clarividência pastoral, fez chegar o Evangelho em todos os lares com seu programa a PALAVRA DE DEUS (que dirigiu até o final do ano 2.000). Sorridente, comunicador exímio, cativava pelo sorriso e pela prudência mineira. Foi o Bispo das comunicações e fez estender sua ação pastoral pelas ondas do Rádio e na Televisão.

              Nunca foi afeito à busca de nenhuma honraria. Quando um grupo de Bispos o convidou para aceitar ser candidato a Presidente da Conferência dos Bispos do Brasil, ele não aceitou para dedicar-se melhor à finalização de seus trabalhos pastorais com a sua querida Igreja em Belo Horizonte. Foi fiel amigo do Papa São João Paulo II que se encantou com ele, já em 1980, com a Visita Apostólica em Belo Horizonte. Dom Serafim teve o unânime reconhecimento internacional com a realização do 5º Congresso Missionário Latino-americano – COMLA 5 – de 18 a 23 de julho de 1995, que veio dar maior impulso às atividades missionárias em Minas Gerais e sobretudo na Arquidiocese de Belo Horizonte.

             Já em 1994 São João Paulo II queria fazê-lo Cardeal da Igreja. Por circunstâncias diversas, tal honraria aconteceu em 21 de fevereiro de 1998. Dom Serafim recebeu a barrete cardinalício, com a dignidade presbiteral com o  título de São Luís Maria Grignion de Montfort, 21 de fevereiro de 1998.

             Por motivo de idade, em 28 de janeiro de 2004, o Papa São João Paulo II aceitou a sua renúncia ao governo da Arquidiocese, sendo sucedido por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, como 4º. Arcebispo de Belo Horizonte.

            Dom Serafim continuou as suas atividades pastorais e passou a dar especial atenção para a Fundação José Fernandes de Araújo, em homenagem ao senhor seu pai, Fundação que custeia o estudo de alunos carentes.

            A vida sorriu para Dom Serafim e Dom Serafim sorriu para a Igreja e para o povo de Deus. Amado. Respeitado. Consultado. Homem da palavra certa em qualquer situação. Prudente. Humilde. Homem de oração.

            A Palavra de Deus que ele tanto pregou por homilias e por atos escondidos de misericórdia, bem como o cultivo da virtude da “Ternura” o fizeram viver uma vida longa: 95 anos servindo na alegria do Evangelho. Deus o chamou em 08 de outubro de 2019 para entrar na alegria do Senhor que Ele anunciou durante toda a sua vida.

            Fiz questão de concelebrar a sua missa de exéquias, seguida dos últimos ritos da Ultima Commendatio e da Valedictio. Uno-me ao Excelentíssimo Dom Walmor Oliveira de Azevedo, aos seus bispos auxiliares e eméritos, ao reverendo clero, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e a todas as forças vivas da Arquidiocese de Belo Horizonte num hino de ação de graças pela vida presbiteral e episcopal do Cardeal Fernandes de Araújo, agradecendo o sumo bem que fez por Belo Horizonte, pela CNBB, da qual foi Vice-Presidente, pelo Brasil e pelos Santos Padres João Paulo II, Bento XVI e Francisco, como membro do Sacro Colégio Cardinalício, como Cardeal da Santa Romana Igreja. Feliz povo e Igreja de Belo Horizonte que tiveram esse grande pastor e por tanto tempo!

            Fiquei emocionado ao testemunhar, em Belo Horizonte, a presença do povo, religiosos, padres e bispos durante os dias do velório e nas exéquias de D. Serafim: tantos Bispos e de tão longe a confortar a Igreja de Belorizontina, no seu Arcebispo, Bispos Auxiliares, Clero, Religiosas, Religiosos e Consagrados na despedida de seu Pai e Pastor. Por isso estive, de todo o coração, em Belo Horizonte para prantear o legado do grande Dom Serafim, Cardeal Fernandes de Araújo, um bispo que pelo testemunho e pela palavra santificou Minas e o Brasil.

            O Papa Francisco, em seu telegrama de condolências, resumiu esta vida bendita: “Confio à misericórdia de Deus o amado cardeal, que com tanto zelo serviu a Igreja, tendo sido Padre Conciliar durante o Concílio Vaticano II e, de modo particular, por mais de cinquenta anos se dedicou à Arquidiocese de Belo Horizonte, onde sua paixão missionária fez crescer no coração dos fiéis o amor a Jesus Cristo e à sua Igreja. Ao elevar fervorosas preces, sob a intercessão de Nossa Senhora da Boa Viagem, para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel, envio a essa comunidade arquidiocesana que chora a perda de seu amado pastor, à Igreja do Brasil e a quantos partilham esta hora de tristeza que anuncia a ressurreição”.

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