Estamos caminhando para a metade deste tempo favorável de jejum, oração e penitência. Vivemos nestes dias o Terceiro Domingo da Quaresma. Vamos vigiar nossos sentidos para sermos mais livres para Seguir e Anunciar o Cristo Senhor. Jesus nos ensina a não sermos sepulcros caiados, mas homens que buscam a Verdade do Evangelho. No Evangelho deste domingo (Jo 2, 13-25) Jesus se apresenta “expulsando os vendedores de bois, ovelhas, pombas e os cambistas”. O Templo era um lugar muito sagrado para os judeus; todo judeu deveria ir ao templo ao menos uma vez por ano para oferecer um sacrifício a Deus. Como bom judeu, Jesus exige respeito pelo templo. Desrespeitá-lo significava desrespeitar o próprio Deus, pois templo significa a presença de Deus entre os seres humanos. A palavra Templo vem do grego e significa lugar separado do profano para Deus, onde habita Deus.
O gesto ousado de Cristo não é apenas zelo de purificação do Templo. As ofertas para os sacrifícios faziam girar muito dinheiro e provocavam abusos e exploração. “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio”! (Jo 2, 16). As relações do homem com Deus e também para com o próximo têm que ser orientadas pela retidão, pela sinceridade; pode acontecer que, no culto divino ou na observância de determinado preceito do Decálogo (os Dez Mandamentos) se preste maior atenção ao aspecto externo legalista do que ao interno e, assim, poderá chegar-se, pouco ou muito, à profanação do Templo, da Religião, da Lei de Deus. São João afirma que Jesus purificou o Templo expulsando dele os vendedores, com as suas mercadorias, quando já estava próxima a “Páscoa dos Judeus”.
O Templo, lugar do encontro de Deus com o seu povo, transformado numa casa de comércio, um lugar de prostituição do coração, de idolatria. É idolatria a ganância, é idolatria a impiedade, é idolatria reduzir a religião a um negócio lucrativo. O Senhor previne: “Eu sou o Senhor vosso Deus, que não aceita suborno”! (Dt 10,17) Por isso, Jesus age de modo tão violento: fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. Disse aos que vendiam pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da Casa de meu Pai uma casa de comércio”! O que significa este gesto de Jesus? É uma pregação pela ação, uma ação profética, uma ação, um gesto que vale por uma pregação. Sabemos que isso é aplicável a todos nós que somos templos de Deus pela presença do Espírito Santo em nossa vida. Jesus vem para expulsar o mal de nossa vida, a fim de sermos morada do Senhor.
A Igreja, durante a Quaresma, caminhando para a Páscoa, repete o gesto de Jesus, convidando os cristãos à purificação do templo do seu coração para que possam prestar a Deus um culto mais purificado. Jesus falou de outro templo, infinitamente digno, “o Templo do Seu Corpo” (Jo 2, 21), ao qual fazia alusão quando dizia: “Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei” (Jo 2,19). Sua ira nos previne no sentido de que não podemos brincar com Deus, não podemos fazer pouco Dele! Correremos o risco de perdê-Lo, de sermos rejeitados do Seu coração! Em outras palavras: a conversão é uma exigência fundamental para quem deseja caminhar com Deus, sendo discípulo do Filho Jesus!
Vede bem, caríssimos: quando a infidelidade é grande, quando o nosso coração habituou-se no mal, corremos o risco de sermos tomados de tal cegueira, de tal dureza de coração que já não vemos nem com a Luz! Jesus é a luz que brilha claramente. Sua atitude dura recorda aos judeus o amor de Deus que foi traído, a Lei que foi deturpada, e eles ainda pedem sinais! Jesus dá um sinal, terrível, decisivo: “Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei”. Que significa isso? O templo é um sinal, é um símbolo profético: ele é o lugar no qual o homem pode encontrar Deus, ele é imagem do meu corpo.
Olhemos para nós, o Novo Povo de Deus, o Povo nascido da morte e ressurreição de Cristo. Somos convidados a olhar o Crucificado, cujo corpo macerado é o lugar do perdão e do encontro com Deus, o lugar da nova e eterna Aliança. Olhando o Crucificado, ouçamos, mais uma vez, como Israel: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da casa da escravidão, da miséria do pecado e da morte, da escuridão de uma vida sem sentido! Eu te dei o meu Filho amado! Não terás outros deuses diante de mim”! E, para nós, a exigência é ainda maior, porque nós sabemos até onde foi o amor de Deus: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). É a Ele que nós pregamos: “Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1, 23-24).