Solenidade de São Pedro e São Paulo

    Celebramos neste final de semana a solenidade dos Santos Pedro e Paulo. Embora a data desta festa seja o dia 29, aqui no Brasil ela é transferida para o domingo para facilitar uma maior participação do povo de Deus nesta celebração. Ao celebrar a festa de Pedro e Paulo celebramos a vida da Igreja, da Igreja nascente: a Igreja que nasce de dois elementos importantes: Primeiramente da ação do Espírito Santo e posteriormente da entrega de homens simples, mas transbordantes de fé. Pedro, aquele escolhido para ser o primeiro Papa: Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la (Mt 16,18) e Paulo, grande missionário e evangelizador, que foi enviado mundo afora para pregar o Evangelho e testemunhar com a própria vida, após a sua conversão, as maravilhas do Evangelho. Pedro e Paulo: colunas da Igreja.

    A Igreja vai ser fundada a partir do encontro com Jesus Cristo, à beira do Mar da Galileia quando Jesus convida Pedro a ser pescador de homens, seja com o encontro com Paulo no caminho de Damasco, perseguindo os cristãos. Com essa festa celebramos o dia do papa, a quem manifestamos nosso carinho, nossa proximidade espiritual e nossa gratidão por sua entrega de vida, para com aquele que é o sucessor de Pedro, sendo sinal concreto da unidade do povo de Deus, que recebe a missão de confirmar os irmãos na fé. Por ser o dia do papa, temos o chamado óbolo de São Pedro, onde as coletas feitas em nossas comunidades são encaminhadas ao Santo Padre e assim encaminhadas a tantos projetos geridos por ele, ajudando a países que passam por situações sérias, dificuldades, desastres naturais ou necessidades mais variadas.

    Escutando a palavra de Deus que nos ilumina e nos conduz nessa festa, (Mt 16, 13-19), assim como proclamado no domingo passado, embora com conotações diferentes, mostra Jesus na região de Cesaréia de Filipe, que lança aos discípulos a seguinte questão: Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16, 13s).”

    Ante a todos aqueles que não souberam responder quem era Jesus, Pedro confessa claramente que Jesus é o Messias prometido e que é o Filho de Deus. Comentando essa passagem, afirma S. Leão Magno: “O Senhor pergunta aos apóstolos o que é que os homens opinam sobre ele e a coincidência em suas respostas reflete a ambiguidade da ignorância humana. Mas, quando urge que respondam o que pensam os próprios discípulos, o primeiro a confessar o Senhor é também aquele que é o primeiro na dignidade Apostólica. ”

    Ante a resposta já conhecida de que eram variadas as opiniões dos homens, encontramos a confissão de fé de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”(Mt 16, 16). Pedro confessa Jesus como Messias, o esperado para vir salvar o povo de Deus. Também o confessa como Filho do Deus vivo, uma afirmação de grande relevância devido ao contexto da época. Confessa não somente qual é a missão de Jesus (messias), mas também o íntimo ser de Jesus, que é ser Filho de Deus. É a confissão completa de quem é Jesus, a mesma que fazemos nós, cristãos, unidos a Pedro. Essa confissão não pode ser proferida somente a partir da experiência humana. Deve ser feita a partir da fé, que é dom de Deus. Por isso, citando novamente S. Leão Magno, reinterpreta assim as palavras do Senhor: “Tu és verdadeiramente feliz, porque foi meu Pai quem te revelou; a opinião humana não te induziu ao erro, mas foi a revelação do céu que te iluminou. E não há sido ninguém e carne e osso, mas te ensinou aquele de quem sou Filho Único.”

    A conclusão deste evangelho, diferente da narrativa de Lucas lida na semana passada, mostra a escolha de Pedro como aquele que vai servir os irmãos: “Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”(Mt 16, 17-19).  Por si mesmo Pedro não seria capaz de confessar Cristo como Messias; se o faz, é pela ação da Graça de Deus nele, já que não foi um ser humano quem revelou isso a ele. A Igreja recebe uma grande missão: assim como Pedro, aquele que confirma os irmãos, ser sinal desta unidade. Portanto, um grande serviço é dado para aquele que assume a responsabilidade de ser o sucessor de Pedro, anunciando Jesus Cristo, assumindo a tarefa de confirmar os irmãos na fé. Louvamos a Deus por toda essa caminhada através dos séculos, em que a sucessão de Pedro foi marcada majoritariamente por homens santos, de homens que procuraram servir a Deus e aos irmãos, e que tem marcado a história contemporânea, sendo muitos deles canonizados: basta lembrar as figuras dos últimos tempos na Sé de Pedro que foram canonizados: São João Paulo II, São Paulo VI e São João XXIII. Em meio a tantas fragilidades do mundo e da Igreja, o Senhor continua chamando homens para que, na sucessão de Pedro, confirme os irmãos na fé e se santifiquem. Por outro lado, sabemos que é nessa fé de crer em Cristo como Messias e Filho de Deus que se constrói a Igreja. A Igreja se edifica sobre a profissão de fé de Pedro. Se edifica em Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo.

    Ao mesmo tempo, nos relata o Evangelho que o poder do inferno nunca poderá vencê-la. De uma forma ou outra, a pesar da debilidade humana e das vicissitudes experimentadas ao longo dos séculos, a Igreja segue em peregrinação rumo aos céus, sendo presença viva do Senhor ressuscitado. Continua e continuará presente porque não é uma mera instituição humana. Ela vem do Senhor. Esse é exatamente um dos sinais de credibilidade da Igreja: ela permanece viva e eficaz, a pesar de tantas batalhas e lutas enfrentadas ao longo dos séculos, sendo algumas consideradas invencíveis aos olhos humanos.

    A leitura dos Atos dos Apóstolos (12, 1-11) também vai falar da figura de Pedro, descrevendo sua prisão e miraculosa libertação:

    Naqueles dias, o rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João.

    E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos Pães ázimos. Depois de prender Pedro, Herodes colocou-o na prisão, guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um. Herodes tinha a intenção de apresentá-lo ao povo, depois da festa da Páscoa (At 12, 1-4). A vigilância sobre Pedro era intensa e era aguardado o momento de que sua sentença fosse ditada. Qualquer tipo de saída, humanamente falando, era inevitável. No entanto, a oração da Igreja ante as perseguições e contrariedades, realiza o milagre da libertação de Pedro: Enquanto Pedro era mantido na prisão,

    a Igreja rezava continuamente a Deus por ele. Herodes estava para apresentá-lo. Naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes; e os guardas vigiavam a porta da prisão. Eis que apareceu o anjo do Senhor

    e uma luz iluminou a cela. O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: “Levanta-te depressa!” As correntes caíram-lhe das mãos. O anjo continuou: “Coloca o cinto e calça tuas sandálias!” Pedro obedeceu e o anjo lhe disse: “Põe tua capa e vem comigo!” Pedro acompanhou-o, e não sabia que era realidade o que estava acontecendo por meio do anjo, pois pensava que aquilo era uma visão. Depois de passarem pela primeira e segunda guarda, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. O portão abriu-se sozinho. Eles saíram, caminharam por uma rua e logo depois o anjo o deixou. Então Pedro caiu em si e disse: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!”(At 12,5-11).

    É curiosamente precisa a descrição da atitude da Igreja diante da perseguição e prisão de Pedro: colocavam-se em oração intensa por eles. Assim comenta São João Crisóstomo este episódio: “Observai os sentimentos dos fiéis em relação aos seus pastores. Não reagem com distúrbios nem com rebeldia, mas com a oração, que é o remédio invencível. Conseguem ver o que faziam os perseguidores sem ter noção? Faziam a uns mais fortes na tribulação e a outros mais firmes na tribulação. ”

    O Salmo de resposta vem exatamente traduzindo em oração o que foi relatado por Pedro: De todos os temores me livrou o Senhor Deus (Sal 33, 5). Por mais que a Palavra libertadora do Senhor possa ser impedida, Deus vem e virá ao encontro dos seus, manifestando sua presença que salva, cura, liberta e restaura.

    Por fim, a liturgia apresenta a figura de Paulo (2Tm 4, 6-8.17-18), apóstolo dos gentios, que se apresenta como alguém que tem a consciência de ter feito aquilo que deveria ter sido feito e estava ao seu alcance: Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem

    fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém (2Tm 4,6-8.17-18).

    Dois homens de Deus que semearam a semente dos novos cristãos com seu sangue derramado em Roma, por meio do martírio. Suas Basílicas até hoje nos fazer ver, até hoje, os sinais das maravilhas que o Senhor realiza em meio a seu povo. Ao considerar a proximidade do final da sua vida, Paulo manifesta que a morte é uma oferta a Deus semelhante aos sacrifícios que se faziam antigamente. Apresenta a existência cristã como um esporte sobrenatural, como uma competição contemplada e julgada por Deus mesmo. Essa visão esperançosa da vida eterna não está reservada aos apóstolos, mas se estende a todos os fiéis

    Rezemos e expressemos nosso carinho pelo sucessor de Pedro. Que tenhamos o coração aberto para confiar sempre no cuidado do Senhor para conosco e que sejamos portadores e protagonistas da unidade que o Senhor confiou à sua Igreja. Que em meio a tantas lutas, possamos, como Pedro e Paulo, continuar anunciando a boa nova da salvação.

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