Sobre a masculinidade cristã (2 de 3)

Continuamos o resumo e breves comentários sobre a Exortação Apostólica “Firmes en la Brecha”, a respeito da masculinidade cristã, do Bispo de Phoenix, Arizona, Dom Thomas J. Olmsted

Brasilia, 22 de Outubro de 2015 (ZENIT.org) Paulo Vasconcelos Jacobina | 41 visitas

O assunto da masculinidade, e em especial da masculinidade cristã, é da maior importância na atualidade. Diante das propostas educacionais, jurídicas e culturais que envolvem a chamada “teoria” ou “ideologia” de gênero, nada mais interessante do que repropor a visão cristã sobre a masculinidade. E é com este olhar que estamos estudando a presente Exortação Apostólica.

A Carta, após colocar muito bem o contexto em que deve dar-se a compreensão da masculinidade cristã nos dias correntes, passa a encaminhar as respostas às três perguntas colocadas pelo texto, a saber:

1 – O que significa ser um homem católico?

2 – Como ama um homem católico?

3 – Por que a paternidade, adequadamente compreendida, é tão crucial para qualquer homem?

A Primeira Pergunta.

À primeira pergunta o Bispo lembra que pela primeira vez na história o ser humano está tão confuso, ou tão arrogante, que busca determinar por si mesmo sua própria masculinidade e feminilidade. E ousa lembrar a frase de Pilatos, quando nos apresenta Jesus macerado, ferido, um simples camponês de Nazaré que é, no entanto, completamente Deus e completamente homem: “Ecce homo” (eis o homem, em latim). Pilatos não sabia a dimensão de sua frase: estava apresentando alguém que, ademais de ser Deus, era plenamente homem: veio ao mundo para entregar a si mesmo por completo. E aqui está, segundo a Carta, o que representa a masculinidade por completo: cada homem católico deve estar preparado para manter-se firme na brecha, entrar em combate espiritual, defender a mulher, as crianças e os demais, inclusive eventualmente com a entrega da própria vida, contra as insídias e a maldade do Demônio. Nada parecido, portanto, com as sombras e fraudes de masculinidade que nos são apresentados no mundo contemporâneo, pelas celebridades, atletas, líderes políticos, artistas, homens de negócios e outros: nenhum atributo físico, massa muscular, inteligência, sagacidade ou talento, prêmios, conquistas e derrotas pode nos mostrar o que é de fato um homem, senão Jesus, que se doa a nós incessantemente na Eucaristia, fazendo-nos participar do seu amor como Esposo, e de sua paternidade generosa e vivificante..

O Bispo nos propõe, então, dez santos como modelos de masculinidade, de virilidade, para que elejamos como companheiros de caminhada cristã, apontando a virtude em que se destacam e o respectivo pecado ou vício que podem nos ajudar a vencer:

São José (Confiança em Deus – Egoísmo)

São João Batista (Humildade – Arrogância)

São Paulo (Aderência à Verdade – Mediocridade)

São Miguel Arcanjo (Obediência a Deus – Libertinagem e Rebeldia)

São Bento (Oração y Devoção a Deus – Apatia)

São Francisco de Assis (Felicidade – Moralismo)

São Tomás Moro (Integridade – Duplicidade de Ânimo)

Beato Pier Giorgio Frassati (Castidade – Luxúria)

São Josemaria Escrivá (Audácia – Temor Mundano)

São João Paulo II (Defesa dos mais Fracos – Passividade)

Lembrando o testemunho recente dos vinte e um irmãos coptos decapitados numa praia egípcia por sua fé cristã, a Carta nos propõe nada menos que a santidade como meta de nossa vida cristã na graça, e o martírio como horizonte para nossa preparação, e a de nossos filhos e netos.

Assim, diz a Carta, a nossa identidade masculina não nos vem pela nossa imagem social, pela boa opinião que os outros possam ter de nós, ou mesmo de nossas carreiras, posses,hobbies, esportes, afiliações, roupas, tatuagens, casas e carros, ou quaisquer outras formas contemporâneas de identidade pessoal. A nossa identidade reflete simplesmente a identidade de Cristo, que recebemos em nosso batismo. Diz a Gaudium et Spes, 22: “Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime”. E, como ele, somos desafiados a vencer as três grandes tentações que também a ele foram propostas: 1. a concupiscência da carne, 2. A cobiça e a ambição de poder, e 3. o orgulho e a autossuficiência. A Carta propõe que a luta contra estas três tentações centrais, através do autodomínio conquistado pela graça de Deus, é exatamente o que nos faz homens. Não se trata de imaginar que um dia esta luta será vencida por nós, e a partir de então seremos homens. Trata-se de perceber que é exatamente na luta, nas suas vitórias e quedas, no combate interior de uma vida comprometida com Deus que o homem se transforma num receptor de amor e coragem capaz detransmiti-las para os outros – ninguém pode dar o que não tem. Curiosamente – e muito coerentemente – a Carta nos propõe ninguém menos que Maria Santíssima como modelo da pessoa que, havendo recebido integralmente o amor de Deus em si, foi capaz de doar-se aos outros de forma tão plena. Mas, diz ele, não há caminho curto para a santidade: somente a oração, a vida sacramental e a intimidade com o amor e a misericórdia de Deus nos darão as “armas seguras” para este combate espiritual de que nos fala São Paulo na Carta aos Efésios, 6, 11-17. Ser homem é estar firme na brecha com coragem, segurança e confiança nos recursos infinitos de Deus.

A Carta, então, propõe sete práticas para que um homem católico possa manter-se pronto para o combate e firme na brecha: cinco diárias e duas semanais ou mensais. São elas:

1. Oração diária, ao menos o Pai Nosso, a Ave Maria e o Glória ao Pai, além das orações antes e depois de cada refeição.

2. Exame diário de consciência à hora de dormir.

3. Frequência à missa, ao menos uma vez por semana.

4. Ler a Bíblia, sozinhos e de preferência em família.

5. Santificar domingos e festas, com Deus, com a comunidade e com a família.

6. Confessar-se com frequência.

7. Manter uma fraternidade com outros cristãos. Não há amigos, nos diz o Bispo, como os amigos em Cristo.

É um projeto de vida e tanto. Certamente capaz de construir verdadeiros homens cristãos, capazes de resistir firme na brecha.

A Segunda Pergunta.

A segunda pergunta é “como ama um homem católico”? A Carta propõe que, embora a palavra “amor” tenha sofrido tantos e tão graves desgastes, amar não é um acidente na vida do homem cristão: é o próprio centro de sua missão. Amar-nos uns aos outros, como jesus nos amou, é o novo mandamento que ele nos dá (João 15, 12). E o nosso Bispo resgata, curiosamente, um personagem cinematográfico que, de certa forma transformou-se no modelo de masculinidade da contemporaneidade: o agente secreto 007, James Bond. E ele diz, num trocadilho intraduzível para o português: não é irônico que James Bond nunca tenha construído vínculos ou laços permanentes? (a palavra “Bond”, em inglês, significa exatamente “vínculo” ou “laço”). Ora, o verdadeiro amor cristão nos liga, em primeiro lugar a Deus, e em seguida aos outros. E nos liga sempre de modo incondicional e completo, É sempre um laço de doação, de entrega aos outros. É neste sentido, diz ele, que não há amor a Deus que não seja, por isto mesmo, religião, no sentido etimológico da palavra: areligião é uma religação.

É neste sentido que a Carta condena aquilo que se conhece como “machismo”, no sentido de dureza, fechamento, apossamento egoísta do outro, falta de emoções. A Exortação denuncia o machismo como uma máscara delgada que cobre um medo interior dos verdadeiros relacionamentos, dos laços que vêm das autênticas relações. Por trás de tal máscara, está apenas um homem ferido e estancado num medo adolescente de vulnerabilidade, talvez aprendido numa infância sem amor que agora é repetido como um ciclo. Não há verdadeira masculinidade no machismo.

A Carta propõe então os três amores que identificam o verdadeiro homem cristão: o amor de amigo, o amor de esposo e o amor de pai. Sobre estes temas, e sobre a terceira pergunta, falaremos no próximo texto.

Fonte: Zenit

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