Rui Saraiva – Portugal
Continua a decorrer no Vaticano a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos subordinada ao tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”.
Após as fases diocesana e continental, num caminho iniciado em 2021, até 29 de outubro estão no Vaticano 464 participantes dos quais 365 têm direito a voto, incluindo 54 mulheres.
O padre português Sérgio Leal tem vindo a ajudar-nos neste caminho sinodal e recorda a importância do diálogo entre a Igreja e o mundo, no espirito do Concílio Vaticano II.
Encontrar Cristo e a comunidade
O especialista em sinodalidade, sublinha que a passagem de uma igreja clerical a uma igreja sinodal, acontece hoje num contexto “onde já não se é cristão pelo nascimento, mas pela adesão livre, pelo encontrar de Cristo e da comunidade como resposta”.
“O Papa João XXIII quando convoca o Concílio Vaticano II diz que é necessário dizer a doutrina de sempre na linguagem de hoje. Isto é, ser capaz de traduzir o nosso rico património evangelizador naquilo que são as linguagens e o horizonte social e cultural que temos diante de nós. Portanto, é esta transformação social e cultural que implica uma transformação do nosso modo de habitar e de evangelizar. E daí que esta passagem de uma igreja clerical a uma igreja sinodal é a passagem de um cristianismo de cristandade a um cristianismo de adesão livre e voluntária. Num contexto social e cultural como o nosso, onde já não se é cristão pelo nascimento, mas pela adesão livre, pelo encontrar de Cristo e da comunidade como resposta para os meus anseios e desafios, aqui nasce um outro modo de ser cristão, de um cristianismo que é do horizonte da graça e da proposta e da capacidade da Igreja dialogar com o mundo contemporâneo sabendo-se que não é a única resposta, como acontecia no passado, mas uma entre as muitas respostas”, sublinha o sacerdote.
Escutar todos para a comunhão e unidade
Segundo o docente da Universidade Católica Portuguesa, no processo de decisão numa comunidade cristã, o voto tem caráter “consultivo, mas não pode ser acessório”. E todos devem ser escutados para se gerar comunhão e unidade.
“O modelo que nos serve é o eclesial da comunhão e da unidade. E, portanto, o voto é consultivo, mas não pode ser acessório. E o problema reside precisamente aí, onde quem preside, de facto, tem de tomar a decisão em nome da comunidade, mas não o faz em nome próprio. Todos os batizados em virtude do sacramento do batismo são chamados a ser corresponsáveis e a construir a Igreja. Quanto mais eu for capaz de escutar a todos, melhor eu serei capaz de responder à realidade que tenho diante de mim”, afirmou o sacerdote.
“Não podemos assumir os desafios da evangelização do mundo contemporâneo, se não formos capazes de escutar aquele que queremos evangelizar”, refere o padre Sérgio Leal, assinalando que o “ministério de presidência da comunidade, é o ministério de serviço”.
“Em primeiro lugar temos de voltar ao ministério ordenado tal como Jesus o sonhou. Jesus quando o propõe diz aos seus discípulos: ‘vedes como os grandes das nações exercem domínio sobre elas. Não seja assim entre vós. O maior é aquele que serve’. O ministério de presidência da comunidade, é o ministério de serviço. E de serviço à comunhão e à unidade. O Papa Francisco diz que a sinodalidade deveria implicar todas as decisões. E isso não quer dizer uma democratização das decisões, não quer dizer que vamos constituir um parlamento, mas quer dizer que se a Igreja é o povo de batizados que caminha na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é nesta comunhão de batizados que haveremos de edificar e construir a Igreja. Não podemos assumir os desafios da evangelização do mundo contemporâneo, se não formos capazes de escutar aquele que queremos evangelizar”, declara o padre Sérgio Leal.
De clerical a sinodal com a atitude do discernimento
O sacerdote português assinala a importância do discernimento comunitário para a tomada de decisões. Passando de uma atitude clerical a uma atitude sinodal que procura gerar consenso e comunhão.
“Sublinho uma coisa que gosto de dizer muitas vezes: a Igreja não funciona por maiorias nem minorias, mas por consenso e comunhão. Por isso, na tomada de decisão, para que ela deixe de ser clerical para ser sinodal, implica uma atitude de discernimento comunitário. Que é conduzido pelo Espírito, que não é imediato. Uma decisão importante que vincula a vida da comunidade é importante não a decidir de modo imediato apenas porque temos uma maioria. Não se decide pela Igreja, nem a favor da Igreja, devemos decidir como Igreja. Juntos. Procurando aquilo que o Espírito nos pede aqui e agora”, afirma.
Esta é o primeiro tempo do Sínodo em Roma. Em 2024 será a segunda sessão. Entre os dois momentos haverá muito caminho sinodal a percorrer.
Laudetur Iesus Christus