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quinta-feira, 28 março, 2024.
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Sínodo da Amazônia: “É preciso mudarmos para uma Igreja que permanece”

The Church of the Holy Sepulcher in Jerusalem reopened today, on 28.02.2018 Last Sunday, the Catholic, Greek Orthodox and Armenian church leaders had jointly decided to close the sanctuary indefinitely. They wanted to protest against two controversial proposals in the city. Photo: Catholic, Greek Orthodox and Armenian church leaders in front of the sanctuary in Jerusalem

O Sínodo dos Bispos para a região da Amazônia tem chamado não apenas a atenção da Igreja, mas do mundo. A defesa da casa comum, o cuidado com os povos indígenas e ribeirinhos, e também novos caminhos para o ministério sacerdotal estão na ordem do dia. Dom Sebastião Bandeira é o bispo de Coroatá, no Maranhão, nordeste do Brasil. Nascido na Amazônia Legal, ele atuou praticamente toda sua vida na região. Dom Sebastião esteve na sede internacional da ACN, onde falou das realidades e da esperança do povo com o Sínodo.

Dom Sebastião Bandeira, Bispo de Coroatá-Amazônia

ACN: A Amazônia é fundamental não só para quem está na região, mas também para a saúde do planeta. Quais as expectativas desse Sínodo para que se olhe não apenas as pessoas que estão lá, mas também para o mundo todo que, de certa forma, depende da Amazônia para o seu equilíbrio?

Dom Sebastião: Embora o Sínodo seja de uma região particular que é a Amazônia, o seu tema e as decisões com certeza irão influenciar a Igreja e o mundo todo. O Papa Francisco escolheu o tema “novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”. Nós, como Igreja, temos que aproveitar deste momento que estamos vivendo com o Papa Francisco. Ele é muito corajoso e aberto em relação à Amazônia. Vamos buscar novos caminhos para que a evangelização se torne mais sólida.

ACN: E o tema da ecologia integral?

Dom Sebastião: É um clamor do mundo inteiro, e nós queremos olhar os povos amazônicos. No Maranhão temos uma população indígena razoável. Há, também, a população quilombola (comunidades rurais formadas por descendentes de pessoas que foram escravizadas). Eles fazem parte da realidade maranhense e de um todo da Igreja na Amazônia. Queremos ter essa preocupação com as pessoas, com o meio ambiente e, acima de tudo, buscarmos novos caminhos para que a Igreja possa exercer seu papel neste momento tão decisivo que estamos vivendo.

ACN: O senhor falou sobre os novos caminhos e a Evangelização mais sólida. Vemos muitas comunidades na Amazônia que apenas recebem a visita de um sacerdote uma ou duas vezes ao ano por conta das distâncias e pela pouca quantidade de sacerdotes. Que expectativas esses povos, como os ribeirinhos e os indígenas, têm desse Sínodo?

Dom Sebastião: A Igreja na Amazônia teve um papel muito importante dos missionários que marcaram religiosamente e culturalmente essa região. Eles dedicaram as suas vidas buscando o desenvolvimento integral e a evangelização. Também na Amazônia é expressiva a religiosidade popular. Muitos nordestinos foram para a Amazônia trazendo consigo a sua religiosidade popular. Essa também foi uma maneira de resistir à investida de outras religiões na Amazônia.

Sabemos que a Amazônia precisa ter uma Igreja com o rosto próprio. E como o documento de preparação do Sínodo afirma, é preciso mudar de uma “Igreja que visita para uma Igreja que permanece”. Essa presença da Igreja só irá acontecer quando tivermos pessoas, ministérios que estejam lá no dia a dia com o povo para que esse povo se sinta realmente Igreja e participe de maneira mais efetiva da vida da Igreja. Acredito que o tema dos ministérios será muito discutido porque é realmente uma preocupação: como ter uma presença institucional numa situação tão distante e tão desafiadora como é a da Amazônia.

ACN: Aproveitando que o senhor tocou nesse assunto dos ministérios. O senhor acredita que a Igreja conseguirá oferecer uma evangelização mais sólida para esses povos?

Dom Sebastião: Nossas comunidades estão ameaçadas de desaparecer de muitos lugares, porque não temos pessoas. Muitos missionários estão cansados e estão desanimando, então nós precisamos dar uma resposta para que a Igreja continue viva e atuante nessa região que é tão difícil e tem suas características próprias. Muitos lugares do planeta em situações diferentes também têm refletido sobre esse ministério que é fundamental para que a Eucaristia, que é o sacramento por excelência, possa ser recebido e possa fortalecer nossas comunidades.

O Papa Francisco não deixa de colocar em pauta os problemas, mesmo que sejam desafiadores, para que nós possamos encontrar soluções adequadas para que a Igreja continue existindo, atuando, continuando a missão de Jesus, uma Igreja profética que seja um sinal no mundo, servidora mesmo que tenha perseguição. Mesmo que a Igreja tenha muitas dificuldades o mais importante é continuar a sua missão nesse mundo. Nós, pastores, recebemos essa tarefa e não podemos negligenciar de forma alguma.

ACN: Sobre enfrentar as dificuldades, a Amazônia está no coração da ACN desde a década de 70. Na época a Fundação Pontifícia enviou 320 caminhões para dar rodas ao Evangelho na região. Que soluções o senhor vislumbra para dar um novo impulso ao Evangelho na Amazônia hoje?

Dom Sebastião: Em primeiro lugar eu quero expressar o meu profundo agradecimento à ACN, que tem sempre ajudado nossas Igrejas, inclusive a diocese de Coroatá, no Maranhão, tem sido agraciada com essa instituição, apoiando na construção dos templos, na aquisição de veículos, dando rodas para que o Evangelho chegue a tantas comunidades afastadas e também necessitadas. As religiosas também são muito ajudadas.

Respondendo à sua pergunta o que eu vejo é o seguinte: para nós na Amazônia, nada é mais importante do que investirmos na formação das lideranças locais. Então procurarmos ver como melhorar a formação da liderança e multiplicar nossos líderes. Eles que vão transformar a nossa sociedade. Também acredito muito nos meios de comunicação. Não restam dúvidas de que eles chegam de maneira rápida em tantos lugares que nós não podemos alcançar.

Na Amazônia a gente sabe que as paróquias são distantes uma das outras. Vejo que as diretrizes da Igreja no Brasil são muito iluminadoras quando falam das comunidades eclesiais missionárias. Isto é, formar comunidades que, à luz da fé, se tornem evangelizadoras. Que testemunhem o anúncio de Jesus Cristo com entusiasmo. Estou muito esperançoso, porque só a experiência do processo de preparação do Sínodo já é uma grande vitória.

Nunca um Sínodo foi tão ouvido nos últimos tempos como este. As bases, os indígenas, os quilombolas, os jovens, os pescadores, as periferias, todos tiveram a oportunidade de falar. Com certeza muitas coisas vão surgir porque o Espírito está na Igreja. Quando a Igreja se reúne sempre é para abrir novos caminhos.

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