Sinais para a conversão

    Neste Terceiro Domingo da Quaresma, o tema central é a conversão. O Profeta Ezequiel nos diz: “Convertei-vos, senão vós morrereis” (Ez 33,11). Desse modo, uma questão se impõe: Que significa converter-se? Trata-se, antes de tudo, da conformidade das nossas ações com a vontade divina, à qual cumpre uma adesão total. É a obediência da fé.
    Para falar de conversão, recordo das palavras do Papa Emérito Bento XVI: “converter-se significa não viver como todo mundo vive, não fazer o que todo mundo faz, não se sentir justificado fazendo ações duvidosas, ambíguas ou más pelo fato de que outros assim procedem; começar a olhar a própria vida com os olhos de Deus, portanto, procurar o bem mesmo se isto contesta a sociedade. Não se submeter ao julgamento dos homens, mas, sim, à avaliação de Deus, ou em outras palavras: procurar um novo estilo de vida, uma vida nova”. Converter-se, portanto, significa viver da misericórdia e com o coração mais próximo de Deus.
    O tempo da Quaresma recorda o tempo da travessia do deserto por parte de Israel: tempo de peregrinação, de provação e de purificação. No deserto, Deus usou as provas pelas quais Israel passou para revelar ao seu povo aquilo que estava escondido no seu próprio coração, isto é, seu pecado, sua fraqueza, sua infidelidade. Mas, também no deserto, Deus cercou seu povo de carinho e proteção, alimentou-o com o maná e saciou-o com a água do rochedo, guiou-o pela nuvem luminosa de noite e protetora contra o sol de dia. Tempo de noivado e de amor entre Deus e o seu povo, foi o tempo do deserto! Por isso, pensar nessa travessia pelo deserto serve para a nossa caminhada de conversão em preparação para a Páscoa.
    Mas como começou o caminho de Israel deserto adentro? Começou com a “descida” de Deus para junto do seu povo, que gemia debaixo de humilhante escravidão: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-lo e fazê-lo sair…” (Ex 3, 1-8ª.13-15). A primeira leitura desse domingo nos mostra o Deus totalmente outro presente na história! Que coisa impressionante: um Deus tão grande, tão santo, o Deus de Israel e, no entanto, vê a aflição, o clamor, o sofrimento do seu povo, que não passava de um pequeno grupo de escravos! “Eu desci para libertá-lo”! Nosso Deus é um Deus que desce, que vem para junto do pobre que se encontra no monturo! Nosso Deus é um Deus que liberta e salva! E quando Moisés pergunta pelo seu nome, Deus revela-o de dois modos: primeiro apresenta-se como “o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó” – isto é, o Deus fiel, e agora vem em socorro de seus descendentes. Depois, Deus revela o seu nome: “Eu sou aquele que será”.
    Deus não revela o seu nome a Moisés! Seu “nome”, na verdade, é um desafio, um convite, quer dizer: “Eu sou o que tu verás quando eu agir! Tu verás quem eu sou à medida que caminhares comigo! Eu sou o que estará sempre contigo”! – O Deus que foi fiel a Abraão, a Isaac e a Jacó é confiável, pode-se apostar a vida nele: Moisés e o povo de Israel haverão de ver! E viram em tantos momentos da travessia do deserto. Na segunda leitura deste terceiro domingo, São Paulo recorda vários destes acontecimentos: a nuvem e o mar (imagens do Espírito e da água do Batismo), o maná (imagem da Eucaristia), a água que brotou da rocha (imagem do Cristo, de cujo lado traspassado, brotou o Espírito). Deus fora todo carinho, todo proteção, todo compaixão e paciência… E, no entanto, Israel tantas vezes duvidou, revoltou-se, murmurou, foi de cerviz dura e infiel.
    São Paulo (1Cor 10l. 1-6.10-12) nos diz: “Esses fatos aconteceram para servir de exemplo para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto. Não murmureis, como alguns deles murmuraram… Portanto, quem está de pé tome cuidado para não cair” (1 Cor 10,6). Nós somos o povo de Deus da Nova Aliança. Como Israel, atravessamos um longo deserto rumo à Terra Prometida, que é a Pátria celeste; e também nós somos sujeitos a tantas tentações, como Israel. O grande pecado do povo de Deus da Antiga Aliança era descrer e murmurar contra Deus. De cabeça dura, Israel teimava em caminhar do seu modo, em fazer do seu jeito, em contar com suas forças e sua lógica. Quantas vezes o povo fez isso! Quantas vezes nós fazemos isso.
    No Evangelho do terceiro domingo da quaresma (Lc 13, 1-9) é forte o apelo à conversão: o texto fala de dois acontecimentos trágicos daqueles dias: a matança de Pilatos, e a queda da torre de Siloé: 18 mortos. Jesus não concorda que a desgraça é sinal do castigo de Deus, pelo contrário, é um apelo de conversão aos sobreviventes: “Vocês pensam que eles eram mais pecadores do que vocês? Se vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo…” (Lc 13, 2-3). Palavras severas, que nos fazem compreender que com Deus não se pode brincar; e, no entanto, palavras que procedem do amor de Deus que, por todos os meios, quer a salvação de todas as suas criaturas. Sinais colocados em nossa história, que nos chamam à conversão! Conversão não é apenas uma penitência externa, mas, através de uma verdadeira contrição ou arrependimento dos pecados, sermos convidados e partirmos para uma mudança de vida, de mentalidade, de atitudes, de forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. Significa abraçar a Cruz!
    Somos chamados a aprofundar o encontro com o Senhor no deserto da Quaresma, a ter a luz do Espírito para discernir os acontecimentos que nos chamam à conversão e, consequentemente, viver mais intimamente com o Senhor. Que Ele nos ilumine e nos faça dar passos de mudanças e de conversão. Aliás, quem não precisa mudar alguma coisa? Eis o tempo de conversão!

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