O Cerne da Evangelização

    Pregar o Evangelho é uma obra trabalhosa. Anunciar a Palavra de Deus exige perseverança, sobretudo, da parte dos pais, dos amigos, dos catequistas. É uma tarefa prioritária para todo batizado que participa do múnus profético e régio de Cristo.  Trata-se de uma proclamação do sentido e do mistério de Deus com relação ao ser humano, ou seja, à salvação que o Filho de Deus veio oferecer a todos. O efeito, a eficácia e o poder da Palavra dependem da graça de Deus, mas o cristão, que deseja ver o Evangelho conhecido, compreendido e praticado, se dispõe, antes de tudo, a ser um protótipo do que expõe por vocábulos e testemunho de vida. Esta é uma obrigação de todo cristão. É deste modo que se evitam as utopias e o desprestígio do Evangelho que precisa ser transmitido aos outros. Nada mais maléfico do que uma mensagem vazia, pragmática, sem o conteúdo essencial que é a realidade do projeto salvífico de Deus.  Este projeto se fundamenta num acontecimento crucial que é a crucifixão de Jesus no alto de uma Cruz. Aí se acha o ápice do plano soteriológico traçado pela misericórdia divina. Com efeito, o fato de o Pai ter sacrificado o Filho bem-amado abre perspectivas de uma esperança dentro de um horizonte luminoso. Isto precisa envolver o ser humano no mais total júbilo e é o fator motivador de sua conduta de acordo com o Decálogo. Então o batizado  percebe o quanto é querido de Deus. Não se deixa prender por qualquer tipo de angustia existencial e não cai nas tramas das desordens éticas. O referencial deve ser sempre Cristo que foi feito pelo Pai a sabedoria, a justiça, a santificação, a libertação daquele que o acata e vive em função dele. Eis por que São Paulo afirmou com muita convicção: “Eu sei em quem eu depositei minha confiança” (2 Tm 1,12). Tal a mensagem que o cristão precisa lançar por toda parte por palavras e obras de tal forma que a esperança de ter parte na glória de Deus seja o referencial de todas as atitudes humanas. (Rm 5,2). Assim pedagogicamente se expressou o Apóstolo: “Eu estimo que, efetivamente, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção alguma com a glória que há de se revelar em nós” (Rm 8,18)). Não se deve, portanto, nunca tirar o foco da felicidade eterna oferecida pela redenção de Cristo. Este destino sublime não está reservado a uma elite, mas a todos de boa vontade que acolhem o maravilhoso intuito desta salvação exotérica universal. Esta salvação não é esotérica reservada a uns poucos iniciados, mas precisa ser apregoada publicamente pelos que se dedicam à evangelização. Estes a empregarem sempre a linguagem da fé alicerçada na força sobrenatural, espiritual e divina. Então o cristão pode superar a antítese morte e vida, carne e espírito, trevas e luz, sabedoria humana e ciência de Cruz. Assim, se pode perceber que o Evangelho apresenta valores feitos de ausência radical de orgulho, supondo uma humilde disponibilidade para a recepção dos dons do Espírito Santo. Portanto, este contato com a Boa Nova necessita ser levada a todos, por toda parte e em todas as circunstâncias. Trata-se da conversão contínua de cada em busca da perfeição, da santidade de vida, na qual o ser humano plenamente se realiza. Fora deste ideal só pode reinar a decepção e a entrega aos vícios mais aviltantes. O ser humano carnal ou psíquico carece ser transfigurado em um ser sobrenaturalizado. A inteligência humana transformada pelo Espírito divino, atingindo um discernimento superior. Se isto não se dá é vão o trabalho evangelizador. Muitos então deixam de  alcançar a identidade cristã através da justificação pela fé (Ef 2,8). É gratificante e imperioso ser apóstolo, mas é preciso sempre atinar com a essência mesma da missão de Cristo que, para salvação de todos, desceu do céu e operacionalizou esta salvação através de sua Cruz redentora. O autêntico epígono de Cristo deve ser proativo, ou seja,  aquele que age de um modo dinâmico, eficaz. Não reage apenas, não cai na defensiva. Não procura desculpas para justificar seus erros. Num mundo que exige denodo na difusão do bem ele se antecipa às dificuldades, planeja estratégias diretoras e faz um apostolado inteligente.  Quem não reage fica, passivo, à espera de estímulos e comandos externos e acaba envolvido nas fantasias e ilusões improdutivas e, até, ruinosas. O proativo calcula, reflete e vai à frente. Aperfeiçoa-se para poder melhorar, de plano, o contexto em vive e assim tornar melhor a sociedade toda.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.