Sexta Catequese Quaresmal

    Jesus veio para Salvar

    Caríssimos irmãos e irmãs

    A Quaresma pacifica nosso coração, e a Campanha da Fraternidade, a sociedade através da solidariedade. É tempo de esperança e de coragem. Nossas lanças se tornarão foices e nossas espadas, arados. O futuro é da ternura, pois a violência é a arma dos fracos. O amor lança fora a espada. A força do espírito é maior que a força física, que a força bélica. A guerra é uma derrota de toda a humanidade. A paz é possível porque o amor é possível.
    Neste último domingo antes da Semana Santa temos o encontro da misericórdia divina com a miséria do pecado. Deus é um Pai que sempre espera incansavelmente a volta dos filhos e filhas a casa, como hoje temos muitos pais e mães que esperam os filhos e filhas das baladas que são mais plantões, pois começam depois da meia-noite e chegam pela manhã. Quantas mães que não dormem esperando e rezando por seus filhos. Todos nós somos convidados neste derradeiro domingo da Quaresma a refletir e entender a aprendizagem divina: a hora de Jesus. “Dias virão”, expressão que, no Antigo Testamento, muitas vezes soa como uma ameaça. Hoje, entretanto, ouvimos uma promessa das mais carinhosas: uma nova Aliança, conforme nos ensina a primeira leitura retirada do Livro de Jeremias. A antiga aliança tinha sido rompida demasiadas vezes. Deus anuncia uma nova aliança… Aliança que será diferente da anterior. A Lei não mais estará escrita em tábuas ou em rolos, mas no coração de cada um dos viventes. E não mais precisarão de mestre, pois todos conhecerão Deus. Deus os toma para si, esquecendo seus pecados.
    Jesus é insistente na misericórdia de Deus, por isso não pensemos que somos os “puros”, por vivermos certinhos, é preciso ir ao encontro, é preciso abraçar o outro mesmo na miséria e da desfiguração que alguns se encontram. Jesus vai ao encontro dos pecadores, espera a volta, mas com esperança, não com passividade! Seu modo de atuar não é também de cumplicidade do pecado, mas de inteira misericórdia e santidade. Jesus frente a mulher que é lhe apresentada, não a condena, mas pede a ela que não volte mais a pecar. Observemos que os acusadores se assustam com a resposta de Jesus – “quem não tem pecado atire a primeira pedra” – mas nem Jesus, que não tinha nenhum pecado o fez, pois não veio mesmo para condenar, mas para salvar.
    Jesus não vê apenas a mulher adultera, vê algo mais. Nunca se viu semelhante encontro da misericórdia com a miséria do pecado! Assim com cada um de nós, Ele vê algo a mais em nós. Aqui está um desafio para o final da quaresma a cada um: que superemos as realidades que nos aprisionam e sejamos misericordiosos, nos revistamos do amor, tirando toda roupagem da intolerância, da exclusão, do medo, da inveja. Agora é o tempo de graça, para que nos convertamos e vivamos, sejamos santos como o Pai do céu é santo (cf. 1Pd 1,15). Mudar de vida, converter-se é algo custoso, mas também valioso.
    Sistematicamente podemos dizer que a liturgia vem nos dizer, pessoalmente, que não somos escravos, por isso mesmo Isaías (Is 43,16-21) nos revela um Deus libertador e que está ao nosso lado, caminha conosco para uma libertação e para chegarmos a terra prometida de uma vida nova. Já o apóstolo São Paulo (Fl 3, 8-14) faz um desafio, o de nos libertar do “lixo” que nos impede de descobrir a comunhão e identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição. Por sua vez, o Santo Evangelho (Jo 8,1-11) deste domingo nos anuncia que só o amor e a misericórdia podem gerar vida e só assim teremos um homem novo.
    Nas três leituras vemos algo importante, ou seja, libertação do passado, pois está fazendo algo novo que já está brotando. Eis aí um novo êxodo, por isso junto com o salmista podemos cantar: “Quando o Senhor reconduziu os exilados de Sião, parecia um sonho” (Sl. 126[125]). Pois se domingo passado víamos o Pai misericordioso que não desiste de nenhum dos filhos, seja o mais novo ou o mais velho. Hoje o vemos acima do pecado, pois Deus é u libertador, que renova nossa vida, que convida a nós deixarmos o nosso passado para trás e irmos além. E o que fica para trás é o pecado, uma vez que o que faz crescer é o amor de Deus em Jesus Cristo num futuro inteiramente novo.
    Jesus tem palavras de vida eterna, daí escutar e colocar em prática o querer de Jesus implica superar os limites do provisório e do mundano, para orientar-se em direção à felicidade eterna. Nossa penitência quaresmal sejam a paciência, a tolerância, o perdão, a ternura. Nossos pequenos gestos de paz são alavancas para a paz um universal. Quem trata bem uma pessoa, está cuidando de toda a humanidade. O mar é feito de gotas de água. Nesta Quaresma da misericórdia, dominemos nossa raiva, agressividade, nervosismo com gestos de paz e serenidade. Um gesto de amor vale mais que toda a massa do universo, dizia Pascal. Vamos abraçar e abençoar pessoas de outras religiões, pois são proibidos guerra religiosa e conflitos entre filhos e filhas de Deus. Soou a hora do ecumenismo, da solidariedade e da paz. “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).
    Como convertidos, vivendo em Cristo, não teremos a nossa mão cheia de pedras, mas livres para levantar e não para eliminar e muito menos matar alguém. Tenhamos o coração puro e as mãos limpas para a vida nova, não fiquemos presos ao passado.  Ajudemos o outro a levantar, a reeguer a sua dignidade de filho e filha, hoje mais do que nunca com gestos concretos para conservarmos e cuidarmos da nossa casa comum, mas com gestos de misericórdia para sermos realmente misericordiosos como nosso Pai é misericordioso.
    O difícil não é apenas ir ao encontro, mas é também deixar-se que outros nos ajudem a levantar, pois precisamos muito de conversão ainda, enquanto peregrinos precisamos todos os dias… o projeto de Deus é para todos, mesmo caindo Deus não desiste do seu povo e não desiste de nós. Todos que aderem a Jesus passam pelo Êxodo, da opressão à liberdade, num processo contínuo. É preciso nos configurar a Cristo a cada momento de nossa vida. Devemos estar do lado de Jesus para não nos perder, pois devemos estar juntos a luz que nos auxilia nas nossas escolhas. A libertação em Cristo é uma conquista diária…
    Tenhamos a “certeza certa” que o perdão de Deus regenera a pessoa humana. Pratiquemos este perdão, esta misericórdia neste ano extraordinário que nos foi presenteado pelo Papa Francisco, a vivermos a misericórdia de modo particular, eis aí a obra nova feita por Deus a cada um de nós.
    A Campanha da Fraternidade refletida, rezada neste tempo nos leva a pensar não só no valor da dignidade humana, mas o quanto esta é desprezada e quantos ainda não tem a questão básica do saneamento. Neste item precisamos pensar se não temos pecado também. Trata-se de um pecado social que precisa de uma graça social, para que todos tenham a vida plena que Jesus nos fala insistentemente.
    Enfim, possamos nesta semana que precede a grande semana santa vivenciar as mãos abertas para ir ao encontro do caído, do que sofre, e que possamos abrir mão das pedras que ainda trazemos no coração e nos torna pesados.
    Que Nossa Senhora, que viveu sem mancha de pecado, nos ensine a crescer no horror ao pecado e em amor ao sacramento que nos lava e nos dá forças para vencê-lo e que tanto nos ajuda no caminho da santidade. Ó Pai de Misericórdia, Pai Santo, Pai Amado, acolhei a nossa prece, ou seja, dilata os corações de cada um de nós para a vida nova do Cristo vosso Filho, para que interiormente vivificados pela sua obra, produzamos frutos que duram para sempre.

    Rio de Janeiro, RJ, 12 de março de 2016.

    Salmo 42, 1-2
    ANTÍFONA DE ENTRADA: Fazei-me justiça, meu Deus, defendei a minha causa contra a gente sem piedade, livrai-me do homem desleal e perverso. Vós sois o meu refúgio.

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